segunda-feira, 14 de abril de 2014

Dilemas da mídia na democracia - Carta Maior

Dilemas da mídia na democracia - Carta Maior

O dilema, na democracia, não é entre uma imprensa calada ou
essa que temos. Uma imprensa monopolizada por algumas famílias, que atua
como um partido político.

por Emir Sader em 07/04/2014 às 06:22








Emir Sader


A Presidente Dilma Rousseff
costuma dizer que “prefere a imprensa barulhenta que calada”. Só que
esse dilema se colocava na ditadura, quando a imprensa podia ser calada
pela ditadura e era preferível que, qualquer que fosse sua orientação,
permanecesse livre para expressá-la.

Na democracia as opções são
outras. Ninguem quer calar a imprensa. Essa é a versão que ela busca dar
das propostas de democratização dos meios de comunicação. Estas, ao
contrário, não querem que ninguém deixe de falar, mas que muito mais
gente, oxalá todos, possam se expressar.

O dilema, na democracia,
não é, então, entre uma imprensa calada ou essa que temos. Uma imprensa
monopolizada por algumas famílias, que define o que diz, como, quando,
que pretende ser o partido de oposição, que distorce e/ou esconde a
verdade. Uma imprensa financiada pelas agências de publicidade e,
através destas, pelas grandes empresas, que colocam publicidade e, por
meio delas, condicionam o funcionamento da imprensa.

Uma imprensa
que escolhe quem vai escrever, como e quando, alinhando-se abertamente –
conforme confissão explicita disso – como partido politico da oposição.
Uma imprensa que, apenas dos índices econômicos revelarem o oposto: a
economia cresce, aumenta o nível de emprego, os salários sobem acima da
inflação, a inflação está controlada – cria um clima de incerteza, de
preocupação, de insegurança, que por sua vez, se reflete em pesquisas
manipuladas. Essa a imprensa que temos hoje, que condiciona as chamadas
“agências de risco”, que pressiona sistematicamente o governo pelo
aumento da taxa de juros, que representa não a população, mas o capital
financeiro.

A alternativa a essa mídia antidemocrática não é
calá-la. É democratizar a formação da opinião publica, limitando o poder
monopolista dos meios atuais, abrindo canais alternativos da mídia –
TV, rádio, jornais, internet. Ao não avançar em nada nessa direção, o
governo é vitima da monopolização antidemocrática da mídia.

A
mídia criou um clima de “terrorismo econômico”. E no marco de um modelo
hegemonizado pelo capital especulativo, sumamente volátil e sensível a
movimentos bruscos, esse clima tem efeito, aqui e lá fora. E o governo
assiste impassível a essas manobras que anulam as tentativas do governo
de canalizar recursos para os investimentos produtivos. O governo reage
defensivamente, aumentando sucessivamente a taxa de juros diante do
fantasma artificialmente construído do risco inflacionário.  Reage
exatamente como os especuladores e seus ventríloquos na mídia desejam –
aumentando as tendências recessivas, pela atração dos capitais para a
especulação.

Os boatos, o pânico forjado, o terrorismo da
inflação, ao não ter respostas politicas, se tornam forças materiais e
as auto profecias se cumprem, deixando o governo em um circulo vicioso.
Sem democratização dos meios de comunicação, quebrando essa cadeia
antidemocrática e especulativa, nem sequer a retomada do crescimento
econômico será possível e sustentável. O dilema da mídia na democracia
não é entre mídia monopolista ou silêncio, mas entre terrorismo
econômico da ditadura midiática ou democratização dos meios de
comunicação

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