Eu vou melhorar, mas o país vai ficar pior. Ou como a imagem briga com a realidade
5 de abril de 2014 | 21:48 Autor: Fernando Brito
O Miguel do Rosário já destacou em seu artigo,
mas creio que vale a pena refletir sobre um dado muito significativo
desta pesquisa Datafolha: a percepção dos brasileiros sobre sua própria
situação econômica e a situação econômica do país.
Embora dois em cada quatro brasileiros ache que sua situação pessoal
vai melhorar, um deles acha que a situação do país vai piorar.
E mesmo que só um entre 20 brasileiros que têm um trabalho ou buscam
um trabalho esteja desempregado, quase metade da população tem medo do
desemprego.
Que, afinal, é o menor já registrado na história do país.
O que, afinal, pode justificar esta espécie de esquizofrenia entre a percepção da situação e a própria situação pessoal, real?
Não parece difícil entender que é um dos mais poderosos ingredientes de formação do pensamento coletivo: a mídia.
Os teóricos do “controle remoto” não parecem entender o que significa
um bombardeio de mais de um ano, apresentando o Brasil como uma
estrutura mambembe, prestes a ruir, insustentável.
Um país que tem um governo inepto e uma burocracia corrupta.
Uma presidenta, como disse o Aécio, “proba, do bem, mas despreparada”.
Bobinha… Logo alguém que tem uma vida provada nas dificuldades…
A minha vida vai bem, ou razoavelmente bem porque eu, que virei classe média, desgarrei da manada, que vai pro brejo.
Não tem aboio, não tem berrante.
Não tem “boi sinuelo”, como se diz no Sul, com aquele sino a bater, no pescoço.
O som que se ouve é só o som da mídia.
Um espécie de “mito da caverna” contemporâneo, onde tomamos as
sombras da mídia – tenebrosas sombras – como realidade e, mesmo diante
dela, de tão acostumados à projetada distorção, não a cremos real.
Não vivemos o mundo ou o Brasil de trinta anos atrás, mas o mundo da comunicação.
É certo que a realidade resiste ao fogo distorcido com que o sistema de comunicação a contorce.
Mais fraca, porém, como um fio resistente que, dobrado e torcido muitas vezes, se faz frágil pela fadiga.
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