sexta-feira, 14 de abril de 2017

O grande golpe do impeachment

Juremir Machado da Silva | O grande golpe do impeachment





O grande golpe do impeachment







Primeiro a gente derruba a Dilma, depois a gente estanca a sangria da Lava Jato


*


 Era uma vez um país de políticos vendidos. A
direita cansou de perder eleições para a esquerda. No desespero,
resolveu jogar pesado. Denunciou o petismo no poder por corrupção.
Mobilizou, com ajuda da mídia e do mercado, o antipetismo de parte da
população. Produziu com discursos moralizadores o impeachment que
precisava para retomar o controle da nação. Encontrou um pretexto
jurídico, as tais pedaladas, para embasar seu golpe. Funcionou. Era
derrubar o petismo, usando a Lava Jato, e depois “estancar a sangria”. O
tiro saiu pela culatra. A direita, formada pelo PSDB, pelo PMDB, pelo
DEM, pelo PP, sempre praticou os mesmos pecados do petismo. Os vídeos
das delações da Lava Jato estão aí para desiludir os ingênuos e calar os
hipócritas.


Todos podres. Todos farinhas no mesmo saco. Emílio Odebrecht diz que
doou para o Instituto Lula o que doou para FHC, em torno de R$ 40
milhões. Questão de isonomia. Michel Temer participou de uma reunião em
2010 na qual Eduardo Cunha pediu R$ 40 milhões de propina. O delator
lembra de tudo, hora, dia, local, valores, gestos, agradecimentos. Temer
diz que não colocaria em jogo a sua biografia. Qual? O PMDB sentiu que
podia golpear Dilma, numa traição de gângster, quando lançou seu
programa “Ponte para o Futuro”. Era uma sinalização para a mídia
conservadora e para o mercado. A mensagem era esta: se nos apoiarem no
golpe, fazemos as reformas dos sonhos de vocês. Colou. A terceirização
já foi entregue. A reforma da Previdência atolou. A desmontagem da
legislação trabalhista está a caminho. Por que não se pede o impeachment
de Temer? Porque as reformas ainda não foram aprovadas integralmente.
Por que a população indignada não volta às ruas com a camiseta da CBF?
Porque gosta de Temer e jamais esteve realmente preocupada com a
roubalheira. Só queria derrubar Dilma.


A tese de Lula e amigos de que se tratava de uma perseguição ao PT
sai em parte confirmada. Era isso que a direita queria. Ela só não
contava com a perda do controle da operação, controle que nunca teve,
mas que imaginava poder obter com manobras parlamentares. A criatura se
insurgiu contra os que sonhavam adestrá-la. A lama atinge a todos. O
sangue continua a jorrar. Fica consagrado que o petismo fez o que os
demais sempre fizeram. Isso não o absolve. Isso o condena junto com os
demais. O petismo pode alegar que se vendeu como todos, mas que tirou
temporariamente mais de 50 milhões miséria. Moralmente não pega. Moral,
porém, é que o falta a todos ou as panelas estariam batendo. Quem não se
lembra dos discursos moralizadores de Aécio Neves, de José Serra, de
Cássio Cunha Lima, de José Carlos Aleluia e de tantos outros subitamente
transformados em cavaleiros da política limpa e ética?


Quem foi capaz de acreditar que Temer, com Romero Jucá, Geddel Vieira
Lima, Moreira Franco e caterva, libertariam o Brasil da corrupção? A
direita jogou pesado. Perdeu. Entrevistamos no Esfera Pública, da Rádio
Guaíba, na época do impeachment de Dilma, o jurista conservador Ives
Gandra Martins. Ele defendia que Dilma fosse investigada e
responsabilizada por atos ilícitos. Alegava que o artigo 86 da
Constituição, aquele que trata de atos estranhos ao governo, não se
referia a fatos anteriores ao governo, mas alheios à gestão. Por
exemplo, uma briga num acidente de trânsito. Entrevistamos ontem
novamente Ives Gandra Martins. Ele mudou de opinião. Entende que Temer
não pode ser investigado por atos anteriores ao seu governo. Na época,
entrevistamos o jurista de esquerda Dalmo Dallari. Ele sustentava que
Dilma não poderia ser responsabilizada por atos anteriores ao seu
mandato. Ontem, falando sobre Temer, Dallari defendeu a mesma posição em
relação ao atual presidente. Eis a diferença entre o golpista e o
jurista coerente. Eis a diferença entre conveniência e critério.


A lista Fachin e os vídeos da Lava Jato confirmam que houve golpe
contra Dilma. O grande golpe foi um bando de atolados em denúncias de
corrupção recorrer a um pretexto jurídico para promover uma destituição
empurrada pelo clamor artificial contra a roubalheira. É fácil desmentir
essa tese, basta sair às ruas de amarelo pedindo a saída de Temer e a
convocação de eleições diretas em todos os níveis. O resto é conversa
para enganar telespectadores do Jornal Nacional. Fake news.

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