domingo, 16 de abril de 2017

"Projeto Brasil Nação"

Intelectuais e artistas lançam manifesto contra 'desmonte do país' - 13/04/2017 - Poder - Folha de S.Paulo



"Projeto Brasil Nação" - 

Intelectuais e artistas lançam manifesto contra 'desmonte do país'













Economistas, professores, sociólogos e artistas lançaram o manifesto
"Projeto Brasil Nação". A iniciativa é liderada pelo ex-ministro Luiz
Carlos Bresser-Pereira e conta com as assinaturas de Celso Amorim, Chico
Buarque de Hollanda, Fábio Konder Comparato, André Singer, colunista da
Folha, entre outros.





O texto critica o "esquartejamento da Petrobras, a destruição da
indústria, a demolição de direitos sociais" e afirma que "o governo
reacionário e carente de legitimidade não tem um projeto para o Brasil".





O documento defende que sejam adotados cinco pontos econômicos. A
primeira é uma regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto
público, ou seja, uma diminuição do superavit para estimular a economia
em momentos de crise, política contrária à redução de gastos proposta
pelo presidente Michel Temer.





O projeto também defende que a taxa básica de juros seja diminuída até
se tornar compatível com o nível praticado por economia similares à do
Brasil, um superavit na conta-corrente do balanço de pagamentos, a
retomada do investimento público e uma reforma tributária que torne os
impostos progressivos.




*
Leia abaixo o documento na íntegra





O Brasil vive uma crise sem precedentes. O desemprego atinge níveis
assustadores. Endividadas, empresas cortam investimentos e vagas. A
indústria definha, esmagada pelos juros reais mais altos do mundo e pelo
câmbio sobreapreciado. Patrimônios construídos ao longo de décadas são
desnacionalizados.






Mudanças nas regras de conteúdo local atingem a produção nacional. A
indústria naval, que havia renascido, decai. Na infraestrutura e na
construção civil, o quadro é de recuo. Ciência, cultura, educação e
tecnologia sofrem cortes.






Programas e direitos sociais estão ameaçados. Na saúde e na
Previdência, os mais pobres, os mais velhos, os mais vulneráveis são
alvo de abandono.






A desigualdade volta a aumentar, após um período de ascensão dos mais pobres.





A sociedade se divide e se radicaliza, abrindo espaço para o ódio e o preconceito.





No conjunto, são as ideias de nação e da solidariedade nacional que
estão em jogo. Todo esse retrocesso tem apoio de uma coalizão de classes
financeiro-rentista que estimula o país a incorrer em deficits em
conta-corrente, facilitando assim, de um lado, a apreciação cambial de
longo prazo e a perda de competitividade de nossas empresas, e, de
outro, a ocupação de nosso mercado interno pelas multinacionais, os
financiamentos externos e o comércio desigual.






Esse ataque foi desfechado num momento em que o Brasil se projetava
como nação, se unindo a países fora da órbita exclusiva de Washington.
Buscava alianças com países em desenvolvimento e com seus vizinhos do
continente, realizando uma política externa de autonomia e cooperação. O
país construía projetos com autonomia no campo do petróleo, da defesa,
das relações internacionais, realizava políticas de ascensão social,
reduzia desigualdades, em que pesem os efeitos danosos da manutenção dos
juros altos e do câmbio apreciado.






Para o governo, a causa da grande recessão atual é a
irresponsabilidade fiscal; para nós, o que ocorre é uma armadilha de
juros altos e de câmbio apreciado que inviabiliza o investimento
privado. A política macroeconômica que o governo impõe à nação apenas
agravou a recessão. Quanto aos juros altíssimos, alega que são
"naturais", decorrendo dos déficits fiscais, quando, na verdade,
permaneceram muito altos mesmo no período em que o país atingiu suas
metas de superávit primário (1999-2012).






Buscando reduzir o Estado a qualquer custo, o governo corta gastos e
investimentos públicos, esvazia o BNDES, esquarteja a Petrobrás,
desnacionaliza serviços públicos, oferece grandes obras públicas apenas a
empresas estrangeiras, abandona a política de conteúdo nacional,
enfraquece a indústria nacional e os programas de defesa do país, e
liberaliza a venda de terras a estrangeiros, inclusive em áreas
sensíveis ao interesse nacional.






Privatizar e desnacionalizar monopólios serve apenas para aumentar os
ganhos de rentistas nacionais e estrangeiros e endividar o país.






O governo antinacional e antipopular conta com o fim da recessão para
se declarar vitorioso. A recuperação econômica virá em algum momento,
mas não significará a retomada do desenvolvimento, com ascensão das
famílias e avanço das empresas.






Ao contrário, o desmonte do país só levará à dependência colonial e
ao empobrecimento dos cidadãos, minando qualquer projeto de
desenvolvimento.






Para voltar a crescer de forma consistente, com inclusão e
independência, temos que nos unir, reconstruir nossa nação e definir um
projeto nacional. Um projeto que esteja baseado nas nossas necessidades,
potencialidades e no que queremos ser no futuro. Um projeto que seja
fruto de um amplo debate.






É isto que propomos neste manifesto: o resgate do Brasil, a
construção nacional. Temos todas as condições para isso. Temos milhões
de cidadãos criativos, que compõem uma sociedade rica e diversificada.
Temos música, poesia, ciência, cinema, literatura, arte, esporte –vitais
para a construção de nossa identidade.






Temos riquezas naturais, um parque produtivo amplo e sofisticado,
dimensão continental, a maior biodiversidade do mundo. Temos posição e
peso estratégicos no planeta. Temos histórico de cooperação
multilateral, em defesa da autodeterminação dos povos e da não
intervenção.






O governo reacionário e carente de legitimidade não tem um projeto
para o Brasil. Nem pode tê-lo, porque a ideia de construção nacional é
inexistente no liberalismo econômico e na financeirização planetária.






Cabe a nós repensarmos o Brasil para projetar o seu futuro –hoje
bloqueado, fadado à extinção do empresariado privado industrial e à
miséria dos cidadãos. Nossos pilares são: autonomia nacional,
democracia, liberdade individual, desenvolvimento econômico, diminuição
da desigualdade, segurança e proteção do ambiente– os pilares de um
regime desenvolvimentista e social.






Para termos autonomia nacional, precisamos de uma política externa
independente, que valorize um maior entendimento entre os países em
desenvolvimento e um mundo multipolar.






Para termos democracia, precisamos recuperar a credibilidade e a
transparência dos poderes da República. Precisamos garantir diversidade e
pluralidade nos meios de comunicação. Precisamos reduzir o custo das
campanhas eleitorais, e diminuir a influência do poder econômico no
processo político, para evitar que as instituições sejam cooptadas pelos
interesses dos mais ricos.






Para termos Justiça precisamos de um Poder Judiciário que atue nos
limites da Constituição e seja eficaz no exercício de seu papel. Para
termos segurança, precisamos de uma polícia capacitada, agindo de acordo
com os direitos humanos.






Para termos liberdade, precisamos que cada cidadão se julgue responsável pelo interesse público.





Precisamos estimular a cultura, dimensão fundamental para o
desenvolvimento humano pleno, protegendo e incentivando as manifestações
que incorporem a diversidade dos brasileiros.






Para termos desenvolvimento econômico, precisamos de investimentos
públicos (financiados por poupança pública) e principalmente
investimentos privados. E para os termos precisamos de uma política
fiscal, cambial socialmente responsáveis; precisamos juros baixos e taxa
de câmbio competitiva; e precisamos ciência e tecnologia.






Para termos diminuição da desigualdade, precisamos de impostos
progressivos e de um Estado de bem-estar social amplo, que garanta de
forma universal educação, saúde e renda básica. E precisamos garantir às
mulheres, aos negros, aos indígenas e aos LGBT direitos iguais aos dos
homens brancos e ricos.






Para termos proteção do ambiente, precisamos cuidar de nossas
florestas, economizar energia, desenvolver fontes renováveis e
participar do esforço para evitar o aquecimento global.






Neste manifesto inaugural estamos nos limitando a definir as
políticas públicas de caráter econômico. Apresentamos, assim, os cinco
pontos econômicos do Projeto Brasil Nação.






1- Regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto público, e assegure prioridade à educação e à saúde





2- Taxa básica de juros em nível mais baixo, compatível com o
praticado por economias de estatura e grau de desenvolvimento
semelhantes aos do Brasil






3- Superávit na conta-corrente do balanço de pagamentos que é necessário para que a taxa de câmbio seja competitiva.





4- Retomada do investimento público em nível capaz de estimular a
economia e garantir investimento rentável para empresários e salários
que reflitam uma política de redução da desigualdade.






5- Reforma tributária que torne os impostos progressivos.





Esses cinco pontos são metas intermediárias, são políticas que levam
ao desenvolvimento econômico com estabilidade de preços, estabilidade
financeira e diminuição da desigualdade. São políticas que atendem a
todas as classes exceto a dos rentistas.






A missão do Projeto Brasil Nação é pensar o Brasil, é ajudar a
refundar a nação brasileira, é unir os brasileiros em torno das ideias
de nação e desenvolvimento –não apenas do ponto de vista econômico, mas
de forma integral: desenvolvimento político, social, cultural,
ambiental; em síntese, desenvolvimento humano. Os cinco pontos
econômicos do Projeto Brasil são seus instrumentos– não os únicos
instrumentos, mas aqueles que mostram que há uma alternativa viável e
responsável para o Brasil.






Estamos hoje, os abaixo assinados, lançando o Projeto Brasil Nação e
solicitando que você também seja um dos seus subscritores e defensores.






Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista

Eleonora de Lucena, jornalista

Celso Amorim, embaixador

Raduan Nassar, escritor

Chico Buarque de Hollanda

Mario Bernardini, engenheiro

Roberto Schwarz, crítico literário

Pedro Celestino, engenheiro

Fábio Konder Comparato, jurista

Kleber Mendonça Filho, cineasta

Laerte, cartunista

João Pedro Stedile, ativista social

Wagner Moura, ator e cineasta

Vagner Freitas, sindicalista

Margaria Genevois, ativista de direitos humanos

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico

Fernando Haddad, professor universitário

Marcelo Rubens Paiva, escritor

Maria Victoria Benevides, socióloga

Luiz Costa Lima, crítico literário

Paul Singer, economista

Ciro Gomes, político

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, economista

Alfredo Bosi, crítico e historiador

Eclea Bosi, psicóloga

Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga

Fernando Morais, jornalista

Leda Paulani, economista

André Singer, cientista político

Luiz Carlos Barreto, cineasta

Paulo Sérgio Pinheiro, sociólogo

Maria Rita Kehl, psicanalista

Tata Amaral, cineasta

Eric Nepomuceno, jornalista

Carina Vitral, estudante

Luiz Felipe de Alencastro, historiador

Roberto Saturnino Braga, engenheiro e político

Roberto Amaral, cientista político

Eugenio Aragão, subprocurador geral da República

Ermínia Maricato, arquiteta

Marcia Tiburi, filósofa

Frei Betto, escritor e religioso



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