O Leopardo de Odebrecht, por Sergio Saraiva
dom, 16/04/2017 - 08:39
Atualizado em 16/04/2017 - 10:13
transformação do modelo político nacional deveria ouvir o que tem a
dizer o autor italiano Tomasi de Lampedusa em seu clássico - O
leopardo: “é necessário mudar, para que tudo fique na mesma”
A implosão do sistema partidário brasileiro através das delações da
Odebrecht à Lava Jato atende a dois objetivos: Lula preso e as reformas
neoliberais aprovadas.
Tudo na mesma I - Lula preso
Caso Lula seja preso, haverá uma comoção social no país. Bem, a comoção já foi providenciada, agora só falta Lula ser preso.
Não há autoridade moral na Lava-Jato para prender Lula enquanto
políticos tucanos sequer são investigados. Bem, não sobrou um tucano
para contar a história, agora só falta prender o Lula.
Desde 2005 – lá se vai mais de uma década – acostumamo-nos a ver
ações do Judiciário sincronizadas com o tempo político-partidário.
Pensei nisso quando da espetaculosa divulgação da mais nova lista de
políticos delatados na Lava Jato. A Lista de Janot II.
Agora estamos às vésperas do depoimento de Lula ao juiz Moro – faltam
pouco mais de 15 dias. Dá-se, há tempos, como favas contadas, a sua
condenação.
O clima para tanto está criado. Quanto ao preço pago por isso, a
implosão do sistema político brasileiro, recomento o grande texto do
colega Jeferson Miola.
Para o PSDB, o preço será módico. Pagará o preço "José Mayer": algum
tempo na geladeira até que esqueçam do pecado e a volta no papel de um
padre preocupado com questões sociais. Silêncio na mídia, longos
processos no STF para os que têm foro privilegiado e para os que não o
têm também - veja-se o desfecho do caso Marka-FonteCidam -
até a prescrição. Para FHC, nem isso, basta a justiça paulista não
aceitar o processo; o ex-presidente tem mais de 80 anos e os
acontecimentos são do final da década de 1990.
Tudo na mesma II - Temer solto e reformas neoliberais garantidas
Gostaria, no entanto, de tratar do segundo objetivo.
O segundo é aprovar as reformas. Deram um golpe para isso.
Porém, para tanto, é preciso manter, apesar de tudo, o governo Temer.
Não é à toa que Janot descartou de princípio qualquer investigação em
relação a ele. Mas também a mídia.
E, em relação à mídia, busquei comparação ente os casos atuais dos
ministros de Temer e do próprio presidente com um caso de 2010 – O caso
Erenice Guera.
Erenice Guerra era a secretária-executiva de Dilma na Casa Civil e
foi sua sucessora quando Dilma se candidatou a primeira vez para a
presidente. Foi fulminada em uma campanha sórdida que a acusou de vender
facilidades para financiamentos no BNDES.
Acompanhar tal caso e compará-lo com o do ministério Temer é didático para perceber o quanto tem de “Leopardo” o momento atual.
Erenice acusada por manchetes em primeira página da Folha de São
Paulo com denúncias de alguém condenado por receptação de cargas
roubadas e dinheiro falsificado: “Fiquei horrorizado de ter de pagar”.
Dois anos depois, em 2012, Erenice foi absolvida por faltas de
provas. A Folha noticiou de forma inusitada – fazendo-lhe novas
acusações para dizer que nada havia contra ela.
Mas, e agora com o governo Temer?
Caberia à mídia encabeçar uma campanha por uma reforma ministerial,
nem que fosse para pedir do “ministério ético” que cobrou de Collor – se
não a própria renúncia de Temer.
Mas o mais fraco dos presidentes pós-redemocratização canta de galo.
E por quê? Porque é fiador das reformas neoliberais.
E é aqui as delações da Odebrecht podem ser de uma utilidade imprescindível.
O Senado mostrava-se recalcitrante em relação a elas, mas, com 24
senadores e 39 deputados no partido da Lava Jato, Janot tornou-se líder
de uma das bancadas mais poderosas do Congresso.
Seria interessante saber sua opinião sobre as reformas trabalhista e da previdência.
PS1: quem não se interessa por literatura poderia valer-se da
história, analisar o que era a Itália antes da Operação Mãos Limpas e o
que se tornou após ela. Antes, era a Máfia, depois, Berlusconi
transformou a Itália em um país que se rivaliza com a Alemanha na
economia está à frente da Suécia em direitos sociais.
PS2: Oficina de Concertos Gerais e Poesia - bunga bunga per tutti e buona Pasqua.
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