terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A confissão de Boni sobre o debate entre Lula e Collor

A confissão de Boni sobre o debate entre Lula e Collor

A confissão de Boni sobre o debate entre Lula e Collor




Postado em 17 Feb 2014
 



Me enviam um vídeo que resume o Brasil.


Nele, sorridente, aparentemente orgulhoso, o ex-chefão da Globo, Boni, confessa um crime de lesa sociedade.


Você pode vê-lo aqui.


Boni conta que, no célebre debate entre Lula e Collor que definiria as eleições presidenciais de 1989, a Globo preparou Collor.


Quer dizer: uma concessão pública achou que tinha o direito de se meter nas primeiras eleições diretas para presidente.


A Globo, conta Boni, tirou a gravata de Collor para dar a ele um ar
mais popular. Se pudesse, disse Boni, a Globo borrifaria caspa em
Collor, a exemplo da tática clássica de Jânio Quadros para se
identificar com a voz rouca das ruas.


Mas havia coisa bem pior.


Há muitos anos conheço a história das pastas de Collor. Ele se apresentou no debate com elas.


O que nas redações se comentava é que fora um truque de Collor.
Chegou a Lula a informação de que na pasta estavam denúncias contra ele.


Lula ficou apavorado. Durante todo o debate, Collor fingia de tempos
em tempos que ia abrir as pastas para apanhar coisas que comprometeriam
Lula.


As pastas tinham papel que não significavam nada, na realidade. Mas levaram Lula a ter um desempenho sofrível num debate vital.


A revelação – confissão – de Boni é que quem armou o golpe das pastas foi a Globo, e não Collor.


Mais uma vez: ele disse isso em tom triunfal. Não tinha noção, ou não parecia ter, da gravidade do que estava dizendo.


O que se fez diante das palavras de Boni?


Nada. A mídia não se mexeu. A justiça não se mexeu. O governo não se mexeu. Para que serve um Ministério da Comunicação?


Este é o Brasil.


A Globo goza de espantosa impunidade. Pode fazer tudo, que não acontece nada.


Boni conta que o homem chave da Globo no crime foi o executivo Miguel
Pires Gonçalves, filho de um general da ditadura. A Globo agora
contrata filho de ministro do Supremo. Antes, contratava filho de
general. Mudaram as circunstâncias, mas a Globo ficou igual.


Joaquim Barbosa arrumou um emprego para o filho na Globo. Ayres
Britto escreveu o prefácio de um livro de Merval sobre o Mensalão.
Gilmar Mendes aparece em fotos ao lado de Merval.


Lula, a vítima do crime eleitoral da Globo, foi ao enterro de Roberto
Marinho, e produziu uma eulogia em que disse que o falecido era um
brasileiro que viera “a serviço”.


A serviço do quê?


Não satisfeito em aplaudir Roberto Marinho, Lula decretou três dias
de luto oficial. Ao fazer isso, Lula enxovalhou a memória de homens como
Getúlio Vargas e João Goulart, vítimas das conspirações golpistas de
Roberto Marinho.


É possível que o episódio do debate tenha deixado Lula para sempre
com um sentimento paralisante de medo em relação à Globo, para
infortúnio da sociedade.


A Carta aos Brasileiros, com a qual logo no início do mandato ele se
comprometeu essencialmente a não fazer nada de muito diferente do que
vinha sendo feito antes dele, foi arrancada a ele por João Roberto
Marinho, filho de Roberto Marinho.


Montaigne escreveu que seu maior medo era ter medo.


A Globo pôs medo em Lula e no PT. E põe medo no Brasil.


O medo foi o responsável pela chamada “mídia técnica”, pela qual a
Globo recebeu de governos petistas 6 bilhões de reais em dez anos mesmo
tendo sonegado escandalosamente impostos e mesmo produzindo um conteúdo
destrutivo para todas as causas sociais. A manchete do Globo quando foi
efetivado o 13.o, sob Jango, dizia que se tratava de uma “calamidade”.


O medo da Globo impediu que se discutissem regras para a mídia, para evitar monopólios como a Globo.


Se Kirchner tivesse medo do Clarín, não faria o que fez.


Enquanto perdurar o medo da Globo, o país vai patinar no
desenvolvimento social, porque a Globo é um obstáculo intransponível
para a construção de uma sociedade justa.


É irônico que um partido que dizia que a esperança tinha que vencer o
medo tenha se tornado, ele mesmo, depois de chegar ao poder, tão
medroso.

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