sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O fracasso do “critério técnico” — CartaCapital

O fracasso do “critério técnico” — CartaCapital



O fracasso do “critério técnico”

A versão de Helena Chagas sobre sua saída da Secom,
logo endossada pelos admiradores, não coincide com a nossa





por Mino Carta







publicado
07/02/2014 05:56,



última modificação
07/02/2014 08:15




























Helena chagas acaba de deixar a
Secretaria de Comunicação da Presidência da República e logo se esmera
na divulgação das razões que teriam determinado sua saída. É a versão,
está claro, da ex-secretária. Nós aventamos outra, a partir da análise
dos resultados da sua gestão. A qual, à luz da verdade factual, como
diria Hannah Arendt, foi um desastre.
Então, vejamos. Qual haveria de ser a
tarefa da Secretaria de Comunicação? Comunicar-se com a mídia de sorte a
produzir um clima de respeito, quando não de boa vontade, em relação a
quem ocupa a Presidência da República, no caso Dilma Rousseff. Boa
vontade não significa apoio automático, indica apenas um propósito de
isenção no livre exercício da crítica, positiva ou negativa, de acordo
com as situações.
Não é necessário
espremer as meninges para concluir que, segundo a mídia nativa, a
presidenta Dilma e seu governo, à sombra do lulopetismo, não dão uma
dentro. Nunca, e sublinho nunca, acertam. Pergunto aos meus atentos
botões: será possível? Mas nem mesmo uma vezinha? De quando em quando,
os botões me reputam ingênuo, como se dá agora. E respondem: é
inadmissível que o verdadeiro partido de oposição brasileiro se
disponha, até esporadicamente, a louvar o inimigo.
Dona Helena diz pelos corredores ter
sido substituída para permitir que a claque jornalística governista
ganhe o favor de uma larga contribuição publicitária, até hoje obstada
pela aplicação pontual, rigorosa e altamente democrática, de um salutar
“critério técnico” por parte da Secom. Segundo dona Helena, ela se vai e
chegam os hunos. Resultado: a festança dos bajuladores e dos asseclas
da presidenta.
Não sei se foi por obra do “critério
técnico” que o gabinete da Secretaria, durante três anos de gestão de
dona Helena, se tornou uma espécie de antessala da Globo. A qual nunca
foi tão favorecida pela publicidade governista, embora habilitada pelo
critério em questão a atacar sistemática e inexoravelmente as ações da
presidenta e de alguns dos seus ministros. Poupado sempre, óbvio
tonitruante, o ministro Paulo Bernardo, do plimplim e do trim-trim.
De todo previsível a pronta adesão de
ilustres colunistas à versão de dona Helena. Os sabujos autênticos
militam todos deste lado. Já do outro, onde se amoitariam os escribas de
fé petista, convém convocar Diógenes e sua lanterna para identificar
esta
armata brancaleônica, essa turma exígua, a se
espraiar entre as ideias vetustas de marca obsoleta e a prática de, nada
mais, nada menos, que o jornalismo honesto.
De nada adiantaram as mesuras e as
benesses proporcionadas por dona Helena, o bombardeio midiático sequer
arrefeceu. Há um toque de masoquismo nessa operação, neste “critério
técnico” executado até as últimas consequências, a não ser que fosse
este o objetivo da ex-secretária. Apanho o
Estadão
de quarta-feira passada. Dos três editoriais da página 3, um malha a
presidenta, outro o lulopetismo. Isso tudo, creio eu, merece é
psicanálise.
Neste país,
o festival da desfaçatez dos senhores não se aplaca. Neste país de
democracia incipiente e incerta. Neste país pronto a entregar um Mundial
da bola a uma das mais atuantes máfias internacionais, e a gastar
bilhões, em boa parte suspeitos, para construir estádios onde não é
preciso. Neste país em que 40% do território não é alcançado pelo sanea
mento
básico. Neste país onde rico não vai para a cadeia e mais de 50 mil
brasileiros morrem assassinados todos os anos. Neste país onde as
cabeças rolam e não são as de Luís XVI e Maria Antonieta. Neste país
onde uma torcida quer enforcar os seus ex-heróis e onde a vizinhança
prende um ladrãozinho e, nu em pelo, o amarra a um poste em praça
pública. Neste país em que os desequilíbrios sociais ainda são
insuportáveis apesar de algum avanço conseguido por políticas praticadas
pelos últimos dois governos. Neste país, etc. etc. etc.
Pois é, neste país os cidadãos capazes
de espírito crítico até hoje são obrigados a assistir a um espetáculo de
hipocrisia único e exemplar na sua ferocidade e na sua insensatez.









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