"Uma característica universalmente observada no ser humano é a de seguir
ou imitar algum tipo de líder", diz. "Ela é movida pela necessidade que
a maioria das pessoas tem de obter a segurança (física e emocional) de
pertencer a um grupo".
O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano)
investiga o histórico das previsões econômicas e o quanto somos levados
por fatores que estão fora do nosso controle consciente.
"A economia comportamental, de popularidade recente, está obrigando os
analistas a avaliar dados econômicos no contexto de um modelo mais
complexo do que aquele a que nos havíamos acostumado", escreve no livro.
Abaixo, leia um trecho sobre o comportamento de manada.
*
O comportamento de manada é um tipo de propensão diferente de todos os outros, por não dizer respeito apenas à propensão emuladora das pessoas,
mas também aos princípios do comportamento de grupo. Por isso tem
consequências para a economia como um todo. O medo e a euforia, por
exemplo, são processos contagiosos exacerbados pelo comportamento de
manada. No entanto, é difícil determinar exatamente por que os
indivíduos preferem imitar um grupo em vez de outro, e o que pode
levá-los a mudar de "turma". O surgimento das modernas mídias sociais só
fez acelerar esse processo.
O comportamento de manada é um motor-chave e uma característica
essencial dos booms especulativos e do estouro das bolhas. Quando uma
propensão especulativa guiada pelo comportamento de manada atinge um
estágio em que a maioria esmagadora dos participantes do mercado se
comprometeu com o mercado inflado, este se torna extremamente vulnerável
àquilo que batizei de paradoxo de Jessel, e o mercado desmorona. Embora
o paradoxo de Jessel explique a alta dos booms especulativos (uma
analogia para o desenrolar da queda tanto literal quanto
figurativamente), eles são na verdade uma manifestação extrema do
comportamento de manada, o temido estouro da boiada - termo emprestado
dos rebanhos de gado de nosso Velho Oeste.
Lidar com a realidade do dia a dia exige um nível de tomada de decisões
tão detalhado que grande parte dos adultos, em maior ou menor medida,
considera que está além de seu alcance. A maioria de nós busca na
religião uma orientação reconfortante, e todos somos levados a seguir o
direcionamento e copiar as ações de nossos pares ou nossos líderes.
Aqueles que acreditam, com ou sem razão, conhecer o rumo que nossa
sociedade deveria seguir competem pela liderança. Grupos ou partidos
políticos surgem, dos quais emergem os líderes máximos, em alguns casos
pela tomada do comando do poder militar. Em sociedades democráticas,
pelo menos, a forma como surgem os líderes é, para o bem ou para o mal,
fortemente influenciada pelo comportamento de manada.
Poucos grupos sociais, talvez nenhum, floresceram sem algum tipo de
hierarquia ou liderança. Comunidades que tomam decisões coletivas por
consenso absoluto - principalmente aquelas que tentam viver em
comunidade a ponto de possuir toda a renda e riqueza em comum - quase
sempre fracassam. As pessoas têm propensão a constituir laços emocionais
com grupos maiores, mas quando esses laços exigem uma partilha
igualitária da renda ou do status em uma hierarquia, elas tendem a
desistir, debatendo-se na natureza autocêntrica inata de nossa espécie.
Nossa propensão à competição produz, invariavelmente, a disputa pela
liderança que desde sempre minou a possibilidade de sociedades
comunitárias.
Em toda sociedade, em toda organização, as pessoas tentam melhorar seus
status na hierarquia. Até aqueles que se consideram alheios às opiniões
dos outros se adaptam aos costumes e à cultura de suas sociedades.
Albert Einstein, por exemplo, por mais autônomo que fosse do ponto de
vista intelectual, seguia a maior parte das normas sociais de sua época.
Ayn Rand, a pessoa mais independente que já conheci, obedecia a muitos
dos triviais códigos de vestimenta de sua sociedade.
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O MAPA E O TERRITÓRIOAUTOR Alan Greenspan
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