terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Máfia de branco escarnece do povo brasileiro

Máfia de branco escarnece do povo brasileiro

O nome disso é escárnio



O sultanato de jaleco branco trata a saúde como um mercado de
camelos; alia-se ao conservadorismo retrógrado e tem na embaixada dos
EUA um corredor de fuga.
Algo outrora inescapável  do epíteto de um escárnio contra o povo brasileiro  está em curso nos dias que correm.
O ruído que provoca -- tanto das fileiras do governo, quanto nas de
segmentos que se avocam à esquerda dele--  é incompreensivelmente
desproporcional a sua gravidade.
Que as sininhos não badalem  e, igualmente, seus carrilhões silenciem, é
ilustrativo do fosso existente entre o inflamável alarido anti- Copa
bimbalhada nas ruas e a real preocupação com o futuro do país e  a sorte
da população.   
A Associação Médica Brasileira, em sintonia com a embaixada dos EUA e
aliada à coalizão  demotucana, tendo respaldo e torcida da mídia, opera
abertamente para destruir um programa de saúde pública emergencial
voltado  às regiões e contingentes mais vulneráveis do país.
Não há resguardo das intenções, nem pudor na propaganda da ação.
A entidade que se proclama representante da corporação médica brasileira
acolhe e viabiliza deserções de profissionais cubanos fisgados  pelo
redil conservador em diferentes regiões e municípios.
O Estado brasileiro  investirá este ano R$ 1,9 bi em recursos públicos
nesse programa operação, para agregar  43 milhões de atendimentos/ano ao
SUS a partir de abril, quando o Mais Médicos atingirá seu efetivo
pleno, com mais de 13 mil profissionais em ação, sendo seis mil cubanos.
A embaixada dos EUA  no Brasil  --em sintonia com a Associação Médica e
lideranças dos partidos conservadores--opera abertamente para que não
seja assim.
O  tripé orienta e encaminha pedidos de vistos especiais, a toque de
caixa,  para que o maior número de desistentes possa rumar a  Miami,
onde os espera a estrutura da ‘Solidariedade Sem Fronteiras’.
A ONG de fachada humanitária  tem como principal negócio –financiado por
recursos orçamentários que a bancada cubana assegura no Congresso--  
promover e operar deserções em  convênios de saúde firmados entre Havana
e 66 países  nesse momento.
São mais de 43 mil  médicos cubanos em ação na América Latina, Ásia e
África. Devem atingir  atingir um recorde de 50 mil em dois meses,
quando o convênio brasileiro estiver plenamente implantado.
Um aspecto da remuneração desses profissionais deliberadamente pouco
divulgado  é que nem todos os convênios internacionais de Havana são
pagos.
Na verdade, dos 66 países assistidos nesse momento apenas 26 se
enquadram  no que se poderia chamar de prestação de serviços pagos.
Outros  40 países recebem contingentes médicos gratuitamente.
O mesmo ocorre com missões de educação ou esporte.
A ‘exportação’ de serviços rende a Havana, segundo a chancelaria cubana,
cerca de US$ 6 bi/ano (três vezes mais que a segunda fonte de divisas
do país,  representada pelo turismo).
A exportação de serviços  pagos - principalmente na área de saúde –
 financia  as missões solidárias destinadas a países de extrema
precariedade econômica e material ou focadas em situações de calamidade
devastadora.
É assim desde 1960,  quando Cuba enviou  sua primeira missão de solidariedade ao Chile, vítima de um terremoto.
Eis é a principal razão para a diferença entre o salário efetivamente
recebido pelo profissional de uma missão e aquilo que o governo cubano
arrecada pelo serviço prestado.
Uma parte do  saldo  financia as missões gratuitas que, repita-se,  são a maioria.
Outra sustenta a Escola Latino-americana de Medicina, que possuía em
2013 cerca de  14 mil alunos estrangeiros,  gratuitamente cursando ou
com subsídio quase integral.
Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba investe pesado em
pesquisa na área de saúde e formação de médicos:  são quase 83 mil
(1/138 habitantes).
O investimento tem duplo objetivo: zelar pela população que tem a menor
taxa de mortalidade infantil do mundo, e gerar receita numa economia
asfixiada  há 50 anos pelo embargo comercial norte-americano.
Também isso se financia através das missões remuneradas.
A ideia de que a doutora Ramona Rodriguez possa ter  desembarcado no
Brasil desinformada dessas particularidades acerca de seu salario,
subestima a conhecida determinação de Havana, de ressaltar interna e
externamente aquela que é a marca inegável de sua ação internacional: a
solidariedade.
A mesma alegação de ignorância tampouco se pode conceder –neste
aspecto--  ao colunismo isento, que cuida de  festejar as deserções -
por  ora pontuais -  como se fossem o preâmbulo de uma diáspora
libertária, em marcha épica rumo a Miami.
A participação  da embaixada norte-americana no jogo de aliciamento e hipocrisia  é ainda mais grave.
Trata-se de uma tentativa de sabotagem de um programa soberano de saúde
pública emergencial, cujo desmonte poderá agregar novas vítimas e mais
sofrimento num universo de milhões de brasileiros desassistidos.
Se a intrusão é desconcertante, não se pode dizer que surpreenda.
Quando o governo Lula decidiu quebrar a patente de anti-virais , em
2007, a embaixada norte-americana operou para sabotar a medida.
Agiu em contato direto com as múltis do setor farmacêutico, o
Departamento de Estado do governo Bush  e ‘amigos’ locais -- não se sabe
se os mesmos que hoje cerram fileiras com o duplo interesse de
 implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.
Telegramas  secretos da época, obtidos pela organização  Knowledge
Ecology International (KEI),  revelam ameaças de represália enviadas
então a Brasília:
“(...) uma licença compulsória pode fazer com que fabricantes de
produtos farmacêuticos evitem introduzir novos remédios no mercado e
seria mais difícil para o Brasil atrair os investimentos que tanto
necessita", relatava um deles sobre o teor de reuniões com autoridades e
políticos locais.
Lula oficializaria em maio de 2007 o licenciamento compulsório do
anti-retroviral  Efavirenz, usado por 75 mil pacientes de Aids atendidos
pelo SUS. Um genérico importado da Índia passou a ser usado ao preço de
 US$ 0,45, contra US$ 1,59 cobrado pela  multinacional
norte-americanas.  Uma  economia de US$ 30 milhões até 2012.
Volte-se um pouco mais no tempo, até as vésperas do golpe de 64,  e lá
estarão, de novo,  os mesmos protagonistas, com idênticos propósitos.
O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fileiras udenistas e lacerdistas,
múltis do setor farmacêutico e sabujos da mídia, a ganir a pauta da
estação.
Eram tempos de inflação galopante e dinheiro curto: a saúde corria risco.
O então ministro da Saúde, Souto Maior, lutava para obter uma redução de
50% sobre os preços de 70 medicamentos mais usados pela população.
Laboratórios das multinacionais abriram guerra contra o tabelamento.
Às favas a saúde: primeiro, os interesses das corporações.
Lembra algo do comportamento atual da embaixada que se orienta pelos
mesmos valores e da Associação Médica Brasileira que tanto quanto os
abraça?
No famoso comício da Central do Brasil, sexta-feira, 13 de março de
1964, João Goulart decretou a expropriação de terras para fins de
reforma agrária, encampou refinarias e anunciou a criação de estudos
para fabricação estatal de medicamentos no país.
O conjunto era fiel aos preceitos do ‘sanitarismo-desenvolvimentista,’
abraçado  então pelas fileiras progressistas da medicina brasileira.
Médicos como Samuel Pessoa, Mário Magalhães,  Gentile de Melo e Josué de
Castro –autor do clássico ‘Geografia da Fome ‘ e primeiro secretário-
geral da FAO, que faleceu no exílio , cassado pela ditadura e impedido
de retornar ao Brasil mesmo para morrer – eram alguns de seus
 expoentes.
Profissionais que hoje seriam olhados com suspeita, enxergavam a luta
pela saúde como indissociável da luta pela desenvolvimento econômico e
humano do país.
Em setembro de 1963, Jango, com apoio deles,  restringiu a remessa de
lucros da indústria farmacêutica. Mister Lincoln Gordon foi à luta:  a
USAID retaliou no lombo da pobreza cortando a ajuda no combate à malária
– que se destacava como uma das principais doenças tropicais na época.
A ofensiva gringa  apenas fortalecia as convicções dos sanitaristas-desenvolvimentistas.
Embora heterogêneos nas filiações ideológicas, seus  representantes
 entendiam que doença e pobreza  caminhavam juntas. Como tal deveriam
ser enfrentadas  em ações soberanas, abrangentes e desassombradas, que
rompessem a fragmentária  estrutura de uma sociedade retalhado por
interesses que não eram os de seu povo. 
Compare-se isso com o sultanato de jaleco branco.
Esse que  hoje trata a saúde como um entreposto de camelos; alia-se ao
conservadorismo mais retrógrado  e tem na embaixada dos EUA um corredor
de fuga em prontidão obsequiosa.
Bajulado pela mídia, o conjunto quer implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.  
O nome disso é escárnio. E Brasília deveria dizê-lo  claramente ao
embaixador gringo, ao chamá-lo a prestar esclarecimentos sobre
ingerência e sabotagem em assuntos internos.

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