Lama nas delações: o fim que conspurca os meios
Se há algo que contamina todas as operações Lava Jato – de Curitiba a
Brasília, passando pela filial carioca, nunca será tão bem expresso
quanto na entrevista do submoro juiz Marcelo Bretas, gerente da Lava Jato no Rio:
“O combate à corrupção faz os meus olhos brilharem”.
Próprio de sentimentos irracionais – paixão, cobiça, desejo – o brilho dá a volúpia e retira a serenidade do olhar e faz com que
seu campo de visão se estreite ao ponto de quase ser só aquilo que
busca, deixando o caminho próprios a tropeços e, como parece ser o caso
agora, tombos estrepitosos.
Desde o início, a Lava Jato tornou-se, para o juiz Sérgio Moro e para
os procuradores de Curitiba, uma poderosa ferramenta de prestígio,
afirmação de poder e realização de objetivos ideológicos (francamente,
seria impróprio chamá-los de filosóficos).
Veja friamente: quando é que um juiz e promotores de província (e seu
séquito de meganhas) poderiam monopolizar diariamente as manchetes de
toda a mídia nacional, ameaçarem um governo, impedir que se eleja um
próximo, tudo isso mergulhando em flashes, troféus, capas de revista, palestras e até ganharem um filme, nauseantemente promovido com dinheiros misteriosos?
Já no (sem trocadilho) início deste processo, o Procurador Geral da
República, em lugar de exercer o papel de moderador da ação de seus
subordinados, contendo-os no que é legítimo conter – a autopromoção e o
abuso das suas funções – reagiu com um “eu também quero”. Isso se
materializou na cena ridícula de segurar, ainda em março de 2015, o
cartaz “Janot, você é a esperança do Brasil”, oferecido por um grupelho
de moralistas ensandecidos.
Francamente, Bolsonaro e bolsominions não teriam protagonizado cena mais expressiva de messianismo e vaidade.
O “autogrampo” dos delatores Joesley Batista e Ricardo Saud registra
apenas um dos muitos diálogos abjetos que se deram em todo este processo
de delação. Os outros, apenas, não foram gravados.
Uma “delação simultânea” de 77 executivos da Odebrecht, afinal, é um
ato de vontade individual dos delatores ou um imenso negócio corporativo
que, todos sabem, envolveu prêmios milionários a seus participantes,
garantias de estabilidade na bem-pagas posições que ocupam?
E menos mal a “verdade” comprada a dinheiro e impunidade parcial ou
total do que aquela adquirida pelo abjeto método do “acusa que te solto”
francamente utilizado nas “alongadas prisões de Curitiba”, para
servir-me da expressão usada no plenário do Supremo por Gilmar Mendes.
No estado de Direito fala-se muito no “devido processo legal”. O
processo legal, quando conduzido com os olhos brilhantes, tomados do
prazer punitivo e/ou da ambição e da ideologia de seus condutores,
escorrega para o que é, ao olhar sereno, claramente indevido.
E se é indevido, não é um processo legal.
Os donos da pureza e da verdade no Brasil, tão senhores se creem,
transformaram as instituições judiciais e parajudiciais (Polícia e
Ministério Público) em simples ferramentas de seus projetos pessoais e
político-ideológicos, onde os fins (é, os fins, os que fazem os olhos
brilharem) justificam os meios.
E assim cegados, tornam-se eles próprios meros instrumentos e
interesses econômicos e políticos que, como farão agora a Janot, jogam
logo fora o bagaço espremido das vaidades.
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