quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Sem um Estado forte, outro Poder mandará, por André Araújo

Sem um Estado forte, outro Poder mandará, por André Araújo



Sem um Estado forte, outro Poder mandará, por André Araújo




Sem um Estado forte, outro Poder mandará, por André Araújo


O Brasil está em uma crise política, econômica e social de caráter
histórico. A raiz da crise é o ENFRAQUECIMENTO do Estado nacional, hoje
submetido a forças desintegradoras que  agridem o funcionamento e a
estabilidade de um dos maiores países do mundo.


Um novo governo, seja ele de esquerda, centro ou direita não governará nesse quadro caótico.


Ou o poder se recentraliza ou o Brasil será ingovernável, correndo
sérios riscos de ruptura das colunas de integridade construídas em
séculos pela Coroa ibérica, pela Igreja Catolica e especialmente pelas
forças armadas, fundamentais na repulsa às invasões holandesa e
francesa, às incursões castelhanas, na luta pela Independência e na
submissão de rebeldias internas, forças desintegradoras que de norte a
sul contestaram o Estado colonial e nacional.


Nenhum desses movimentos rebeldes poderia ter sido enfrentado se o
Estado brasileiro não fosse forte por índole e propósito. O Brasil
nasceu como nação pelas mãos do Estado fundador, anterior à própria
formação da nacionalidade, o Estado antecede à Nação.


O Imperador Dom Pedro II era o símbolo da solidez do Estado
brasileiro, o ponto de união e convergência em seis décadas quando os
riscos potenciais de ruptura do Estado foram muitos e de toda ordem. Foi
o Império com sua legitimidade histórica que impediu a fragmentação do
território nacional, como ocorreu na América espanhola, dividida em 17
paises.


Na Primeira República, os Presidentes foram fortes e esmagaram
incontáveis movimentos de contestação ao poder central, capitais foram
bombardeadas ou invadidas como Salvador, São Luis , Fortaleza e São
Paulo, rebeldias regionais não foram admitidas contra a República.


Revoltas violentas  foram enfrentadas por todo lado, como a
Farroupilha, a do Contestado, a do Acre, que resultou na sua anexação
pelo Brasil, o amplo e duradouro movimento dos Tenentes de 1922, a
rebelião de 1924 em São Paulo. Já a Segunda República enfrentou revoltas
em São Paulo em  1932, dos comunistas no Rio e em Natal em 1935 e com o
desfecho do Estado Novo em 1937, etapa máxima da centralização do Poder
do Chefe de Estado, figura simbólica  como sucessor do soberano,
criando as condições de um enorme desenvolvimento social e econômico do
Brasil de 1937 a 1975, regimes sequenciais ao regime varguista de 1937.


Contestação judicial ao Governo Floriano pelo STF levou à celebre
frase do Presidente Floriano Peixoto ao ser ameaçado pelo Supremo “ mas
quem é que dará habeas corpus ao Supremo?”


Hoje o poder da Presidência, que deveria ter as características de
poder superior aos demais no sentido de seu exercício de comando
operacional do Governo, está ABAIXO em poder de outras três torres de
comando oficiais: o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral e a
Policia Federal. Ao invés do poder dos canhões, essas três torres se
utilizam de INQUÉRITOS, que podem abrir contra qualquer  autoridade em
qualquer numero e sob sua exclusiva vontade, sem contraponto,
contestação ou bloqueio, poder que não tem o Executivo ou Legislativo,
cujas regras podem ser contestadas judicialmente enquanto normas do
Supremo não tem instância superior de controle e inquéritos da Policia
ou da Procuradoria produzem efeitos políticos a partir do momento de sua
divulgação. Formou-se assim uma assimetria que transforma a Presidência
em poder refém de outros, enquanto os demais não dependem em nada da
Presidência ou do Congresso, podem atuar sem contrapesos.


Esses poderes podem abrir quantos inquéritos quiserem, com ou sem
motivos e através dos inquéritos comandam os acontecimentos políticos,
inalcançáveis por controle externo.


O Supremo incorporou o PODER DE LEGISLAR sobre matérias que não
estavam antes em seu alcance e através dessa nova aquisição de poder
governa a politica. Exemplo marcante é a decisão do STF de proibir o
financiamento empresarial de campanha. É claríssimo, de uma limpidez
ímpar, que essa é uma matéria de LEGISLAÇÃO e não de decisão judicial.


Não há na lei proibição ao financiamento empresarial, a proibição foi
um exercício ilegítimo de poder pelo Supremo e como esse inúmeros
outros temas foram objetos de PODER CRIADO interna corporis, o Supremo
gera dentro dele o novo poder que exercita ACIMA DA LEI, como a
aplicação da norma do DOMINIO DO FATO, que não se encontra na legislação
positiva.


Nas novas leis “abertas” de Iivre  interpretação, as chamadas “leis
omnibus” dentro das quais cabem enquadramentos ao infinito ,  se  usa e
abusa  de uma aplicação extensiva e ao único arbítrio do julgador,
 permitindo penas aterradoras, muito superiores àquelas do Codigo Penal,
penas de 20,  30, 40 ou mais anos por ter ido a um guichê sacar um
cheque, tudo entendido como  lavagem de dinheiro,penas  que não se dá a
assassinos estupradores, o que demonstra grave distorção do sistema de
leis penais e de sua aplicação pratica,  tal disfunção tem clara
explicação politica:  essas regras extravagantes e de interpretação
aberta como obstrução de justiça, lavagem de dinheiro, anti-corrupção,
são LEIS DE PODER,  tem como alvo principal a “classe politica” que fica
assim submetida ao comando dos novos soberanos, a arma de guerra é a
capacidade desse poder reforçado de aplicar penas que equivalem à prisão
perpetua, destruindo a capacidade de reação da classe eleita, colocada
contra a parede por inquéritos que podem ser manejados livremente como
instrumentos de comando politico.


Ao proibir o financiamento empresarial de campanha o Supremo abre
largamente o mercado de inquéritos contra todos os políticos do
Legislativo e do Executivo, tornando-os mais vulneráveis e imputáveis. O
STF aumenta por sua própria decisão o poder da PF e da PGR para
criminalizar condutas de políticos que anteriormente a essa decisão
poderiam receber doações empresariais e aumentam largamente o campo de
arbitragem do sistema judiciário sobre a atividade politica e seus
operadores eleitos pelo voto direto, agora submetidos a um poder maior
que a eleição.


MERCADO FINANCEIRO


Mais duas poderosas e  não oficiais  TORRES DE COMANDO estão acima da
Presidencia: o ente conhecido como “mercado financeiro”, hoje
representado pelo Ministro da Fazenda e pela sua divisão blindada, o
Banco Central, a ponto de um Ministro que deveria ser um auxiliar do
Presidente, por ele nomeado e demissível a qualquer momento, se permitir
de forma publica  a MAXIMA ousadia que jamais um Ministro da Fazenda
invocou no Brasil republicano, dizer que se mudar o Presidente ele fica,
entendendo-se ele e sua equipe. Essa simples declaração em outros
tempos implicaria em imediata demissão mas nestes momentos  escuros o
Presidente não pode demiti-lo. Na historia recente em 1965 o Ministro da
Guerra, Costa e Silva, disse algo semelhante  quando fez uma viagem à
Europa no inicio do Governo Militar “viajo Ministro e volto Ministro” o
que foi entendido como sendo seu poder ser superior ao do próprio
Presidente Castello Branco, que a partir dai  encolheu sua autoridade
até Costa e Silva ser  indicado e empossado realmente como Presidente,
sua declaração atrevida previu o desfecho de seu poder superior ao
Presidente como Ministro da Guerra.


 A entidade “mercado financeiro” por seus porta vozes na mídia, cito
apenas uma, Miriam Leitão, vem declarando continuamente que a POLITICA
ECONOMICA é independente de quem seja o futuro Presidente, o que é  uma
visão historicamente absurda, porque o futuro Presidente estaria
amarrado a uma politica econômica de um grupo anterior ao seu Governo?


MIDIA


Chegamos então à quinta TORRE DE COMANDO sobre a Presidencia, a mídia
eletrônica, rádios e TVs que são uma concessão do Estado mas se
permitem contesta-lo a todo dia. O Estado concede e pode cassar a
capacidade de usar as ondas hertzianas, que pertencem ao Estado e são
apenas cedidas temporariamente a particulares, o Codigo de
Telecomunicações dá amplos poderes ao Estado para conceder e cancelar
essas concessões quando elas forem desvirtuadas de suas finalidades ou
em situações onde a transmissão põe em risco a segurança nacional, a
cassação não demanda muitas explicações e pode ser executada por simples
decreto da Presidencia, ninguém é “dono” de uma frequência para radio e
tv, é uma regra universal.


O democratíssimo Presidente Juscelino usou de seu poder legal para
tirar do ar a TV Tupi quando Carlos  Lacerda ameaçou fazer um discurso
para depor o Presidente.


Quando a mídia divulga vazamentos ilegais de processos protegidos por
sigilo cabe punição severa. Paises democráticos processaram um Julian
Assange por quebra de sigilos que estavam sob proteção do Estado. O que é
sigiloso não pode ser divulgado e quem é cumplice da divulgação pode
perder a concessão, o Estado está acima do direito subjetivo de
transgressões que agridem as leis ,  Governos democráticos não devem ser
fracos para dar a pessoas individuais o direito de desafia-lo indo
contra a ordem legal  Certas máximas do Poder mesmo em países
democráticos fora, esquecidas no Brasil a partir da Constituição de 88, a
Constituição que ampliou ao infinito os “direitos” a custa do
enfraquecimento do Estado.


POLITICA ECONOMICA


Nas mais solidas democracias a mudança da Presidencia implica na
mudança da politica econômica, nos EUA isso ocorreu em todas as mudanças
de ocupantes da Casa Branca, há grande diferença entre uma politica
econômica do Partido Democrata e a do Partido Republicano, na crise dos
anos 30, as politicas de Hoover e Roosevelt eram diametralmente opostas,
assim como a de Churchill e Attlee no Reino Unido, a saída de Thatcher
implicou em grande virada na politica econômica britânica. Como então o
“mercado” por seus porta vozes na mídia  se atreve a dizer que o próximo
Presidente manterá a mesma politica recessionista da atual equipe,
aliás se atrevem a dizer que a mesma equipe continuará, é muita ousadia e
se se a permitem  é porque acham que a força do “mercado financeiro” é
suficiente para mandar na economia e por extensão, no Governo, no atual
contexto parece que conseguem esse feito.


Isso é o contexto de hoje mas não foi sempre assim. O Presidente
Fernando Henrique mudou duas vezes o presidente do Banco Central,
demitindo o ocupante por telefone,  sem se aprisionar ao mercado. O
Presidente Itamar Franco mudou em pouco tmpo três Ministros da Fazenda,
sem dar maiores satisfações ao “mercado”. O Presidente Collor mudou quem
e quando quis na área econômica, tirou Zelia para colocar Marcilio
Moreira sem pedir permissão ao mercado ou à mídia, o Presidente do
Brasil pode muito , é uma Presidencia imperial.


OS PODERES DA PRESIDENCIA


O aprisionamento atual da Presidencia a esses novos poderes e algo
novo , não tem precedentes históricos e nem é da natureza do cargo e da
extensão de sua autoridade.


Um Chefe de Estado que pretenda governar o Brasil não o fará com
essas torres de comando acima dele. Nada tem a ver com ideologia, é uma
regra de poder simplesmente, o Comandante não pode ser emparedado pelo
sargento corneteiro ou pelo oficial de intendência ou é Comandante
incontestado ou o Regimento não vai combater.


A saída logica é uma aliança do Chefe de Estado com as Forças Armadas
para reconduzir as TORRES DE COMANDO a seu devido lugar na politica e
na Historia.


Uma Presidencia forte e centralizada será essencial para o Brasil
enfrentar sérios desafios na cena internacional dos próximos anos. O
enfraquecimento da Presidencia levou ao aprquenamento da projeção
internacional do Brasil, hoje uma sombra do que foi durante o Governo
Vargas e durante os governos militares, que projetaram a influencia e
presença do Brasil no Oriente Medio e na Africa, criaram uma forte
indústria de material bélico, prontamente liquidada pelo governo FHC ao
rejeitar um papel internacional do Brasil para alinha-lo automaticamente
ao sistema de Washington,, assinando o Tratado de Não Proliferação e o
Acordo de Cooperação Judiciaria, dois instrumentos de perda de
soberania.


Os desafios da economia, da ecologia, dos conflitos regionais, do
aumento da pobreza e da concentração de renda exigirão uma Presidencia
institucionalmente forte e eficiente, o que jamis será com a existência
de ilhas de poder concorrente contra a Presidencia.


Esta pequena analise é oferecida no contexto da práxis do poder
politico no modelo proposto pelo mestre Nicoló Machiavelli, sem qualquer
pretensão de  julgamento ideológico ou ético-moral para indagar as
razões do poder, apenas pretende-se um olhar sobre o poder em
EXISTENCIA, ele existindo só poderá operar se tiver comando do
território.


Quando os militares depuseram o digno Imperador Dom Pedro II em 15 de
novembro de 1889 o Embaixador britânico no Rio de Janeiro Sir Hugh
Wyndham perguntou por telegrama ao Ministro do Exterior em Londres, o
lendario Marques de Salisbury (Robert Gascoyne-Cecil), vamos reconhecer o
novo Governo republicano do Brasil?


O Imperador era respeitadíssimo em Londres, seu longo reinado
tornara-o um figura de peso na Europa e nos Estados Unidos, o Embaixador
com razão lamentava o fim da Monarquia mas Lord  Salisbury, três vezes
Primeiro Ministro, que comandava o Imperio Britanico quando abriu o
Seculo XX,  não derramou uma lagrima sentimental , so fez uma única
pergunta?


Os militares que depuseram o Imperador dominam o território?


 SE DOMINAM O TERRITORIO RECONHECA O NOVO GOVERNO IMEDIATAMENTE.


Dominio para Lord Salibury significava mandar sem contestação ou oposição.


Para Salisbury não importava o justo ou o injusto, a ética, a moral, a
tradição  ou a ideologia do novo governo que obiviamente não poderia
ser da  simpatia da Monarquia inglesa.


Mas a politica é antes de tudo REALIDADE, o Marques de Salisbury operava dentro dela.


Essa é a chave, governa quem domina o território, quem PODE MANDAR é o poder.

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