domingo, 29 de junho de 2014

As 13 previsões mais catastróficas, e furadas, sobre a Copa no Brasil - Carta Maior


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As 13 previsões mais catastróficas, e furadas, sobre a Copa no Brasil - Carta Maior

As 13 previsões mais catastróficas, e furadas, sobre a Copa no Brasil

É hora de relembrar, com algumas boas gargalhadas, as
previsões mais pessimistas e catastróficas feitas por cartomantes de
plantão que previram o caos.



Najla Passos






A Copa do Mundo não resolveu e
não irá resolver todos os problemas do país. Aliás, nem é esta a função
de um evento esportivo privado. Mas que o mundial atrai turismo e
investimentos externos, não há mais dúvidas. Como também não há nenhuma
de que ele mexe com autoestima de um país incentivado durante séculos a
cultivar um inapropriado “complexo de vira-latas”!


Por isso,
agora que o sucesso do evento já é reconhecido em todo o mundo, que o
país já provou que pode ser organizar uma bela copa e que os turistas e
os investimentos estrangeiros continuam chegando, é hora de dar boas
gargalhadas com previsões mais pessimistas  feitas pelas cartomantes de
plantão que tanto torceram contra a realização do mundial.

Das
adivinhações às avessas do mago Paulo Coelho à mudança de planos da
cineasta que fez sucesso afirmando que não viria ao Brasil, dos
prejuízos contabilizados pelo tucanato ao delírio do protesto do
chuveiro no “modo quentão”, do mau-humor da imprensa estrangeira à
campanha permanente da Veja, confira as 13 previsões mais catastróficas –
e furadas – sobre a Copa do Mundo no Brasil!


1 – O mago Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo”

Em entrevista à revista Época,
publicada em 5/4/2014, o mago, guru e escritor Paulo Coelho, que mora
na Suíça, disse que não viria ao Brasil assistir aos jogos da Copa do
Mundo nos estádios, apesar de ter sido presenteado com os ingressos pela
FIFA. “A barra vai pesar na Copa. A Copa será um foco de manifestações
justas por um Brasil melhor. Os protestos vão explodir durante os jogos
porque vai haver mais gente fora do que dentro dos estádios”, afirmou.

O
Mago, que “previra” que o Brasil ia ganhar a Copa das Confederações,
evita arriscar o resultado para o mundial. E apresenta certezas já
desconstruídas pela realidade, como a de que o Brasil deveria disputar a
final com a Espanha, eliminada na 1ª fase: “Agora não sei. Certamente o
Brasil irá à final com a Alemanha ou a Espanha, duas seleções
fortíssimas nesta Copa. A Argentina não. A Suíça vai surpreender. Eu
ousaria dizer que a Suíça vai para as quartas. No futebol, você tem que
ser otimista, não tem outra escolha. O Brasil tem chances de não
ganhar”.

2 – Arnaldo Jabor: “A Copa vai revelar ao mundo a nossa incompetência”

No dia 6/6/2014, às vésperas da abertura da Copa, o cineasta Arnaldo Jabour, em comentário para a Rádio CBN,
ainda insistia no pessimismo em relação à Copa, com o objetivo claro de
influir no processo eleitoral de outubro. “Nós estamos jogando fora a
imensa sorte que temos, por causa de dogmas vergonhosos que não existem
mais. Estamos antes do Muro de Berlim e a Copa do Mundo vai revelar ao
mundo a nossa incompetência”, afirmou.

3 – Veja: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”

Em
25/5/2011, a Veja previu o fracasso da Copa do Mundo no Brasil. E com a
ajuda da matemática, uma ciência que se diz exata desde tempos
imemoriais. Na capa, a data da logo do mundial era substituída por 2038.
O intertítulo explicava: “Por critérios matemáticos, os estádios da
Copa não ficarão prontos a tempo”.

De lá para cá, foram muitas
outras matérias, reportagens e artigos anunciando o fracasso do mundial.
E mesmo com o início dos jogos, com estádios prontos e infraestrutura à
altura do desafio, a revista estampou, na edição desta semana, uma nova
catástrofe iminente: “Só alegria até agora - Um festival de gols no
gramado, menos pessimismo nas pesquisas, mais consumo, visitantes em
festa e o melhor é aproveitar, pois legado duradouro, esqueça”.

Melhor mesmo é torcer para que, quem sabe até 2038, a Veja aprenda a fazer jornalismo!
           
4 – Cineasta brasileira radicada nos EUA: “Não, eu não vou para a Copa do Mundo”

Em
junho de 2013, a cineasta brasileira Carla Dauden, radicada em Los
Angeles, nos Estados Unidos, fez sucesso na internet com o vídeo “No, I’m Not Going to the World Cup” (“Não,
eu não vou para a Copa do Mundo”), que alcançou quatro milhões de
curtidas. Mas antes mesmo da bola começar a rolar nos gramados
brasileiros, a ativista já era vista circulando pelo país.

No
Twitter, ela justificou a abrupta mudança de planos: “Não vim para ver a
Copa, vim para falar dela. A Copa nunca vai ser a mesma para os
brasileiros. As pessoas não vão se esquecer do que acontecerá por aqui”,
diagnosticou, antes da abertura. A frase, de fato, parece fazer
sentido. Mas por motivos opostos do que aqueles que a ativista advoga!

5 - Protesto do chuveiro no “modo quentão” vai causar apagão!

Até
bem pouco tempo antes do início da Copa, eram muitos os setores que
insistiam no risco iminente de blackout no país, da oposição à imprensa
monopolista. Um grupo de internautas, porém, levou as ameaças infundadas
a sério e decidiu criar uma página no Facebook destinada a acelerar o
caos: usar os jogos da Copa para provocar um apagão generalizado no
Brasil e, assim, boicotar a realização do evento.

A estratégia
definida foi a utilização sincronizada dos chuveiros no “modo quentão”.
“Chuveiros devem ser ligados na hora dos hinos nos jogos. A carga
elétrica anormal derrubará a energia em bairros, cidades, regiões,
estados e o país inteiro, em efeito dominó. Acompanhem os hinos por
rádio, para maior garantia de sincronização”, diz a descrição do evento
que conquistou pouco mais de 4,5 mil curtidas.

Dado o fracasso do
evento, a página agora é utilizada para a troca de memes contra o PT, a
esquerda e as pautas sociais e progressistas!

6 – Marília Ruiz: “Vai ser um vexame. Um vexame!”

No dia 26/1/2014, a TerraTV publicou um comentário da jornalista esportiva Marília Ruiz em
que ela previa que, se o Brasil conseguisse realizar a Copa, já seria
uma grande vitória. A antenada comentarista até admitia que os estádios
ficariam prontos. Mas sem qualidade: "Se eu sentaria o meu corpinho numa
cadeira recém colocada, com um parafuso a menos? Eu não sei”.

Do
alto de sua experiência em cobertura de outras copas e de um
etnocentrismo latente, ela também alertava que, mesmo fazendo sua Copa
após a da África, o país passaria vergonha. “Eu achei que a gente ia
passar vergonha, que nós, brasileiros, que o país ia passar vergonha. Aí
eu pensei, é até um alento porque a Copa do Brasil vai ser depois da
Copa da África: ninguém vai lembrar muito como foi na Alemanha. Muito
menos as pessoas vão lembrar como foi no Japão e na Coreia. E eu posso
dizer porque estive lá. É uma vergonha ao cubo!”

Confira o comentário completo e saiba quem é que está passando vergonha!

7 - Álvaro Dias: “O país ficará com mais prejuízo do que lucro”
De
todas as aves de mau agouro que bravatearam contra a realização da Copa
no Brasil, o tucano Álvaro Dias, senador pelo PSDB, foi uma das mais
barulhentas. Previu que o governo amargaria um prejuízo de mais de R$ 10
bilhões com a realização do evento, que os turistas não apareceriam,
que os aeroportos não ficariam prontos e não dariam conta do fluxo de
passageiros.

“O legado da copa do mundo me parece ser um grande fracasso. O país ficará com mais prejuízo do que lucro”, disse ele em entrevista à TV Senado,
publicada no Youtube em 7/8/2013. Agora que os turistas chegaram, os
investimentos estrangeiros entraram e o país tá fazendo bonito em
mobilidade e infraestrutura, o senador desapareceu por completo do
noticiário. Não se sabe se está esperando o evento acabar para
profetizar outro apocalipse ou aproveitando as férias para curtir os
jogos, como fez durante a Copa das Confederações!

8 - Ex-presidente FHC: “A Copa do Mundo como símbolo de desperdício”

Em
artigo publicado no norte-americano The Wold Post, em 21/1/2014, o
ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso se referiu à Copa como
símbolo do desperdício de dinheiro público. Tal como seu companheiro
Álvaro Dias, perdeu a chance de ficar calado.  Segundo a Fipe, só a Copa
das Confederações rendeu R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. A projeção
de retorno da Copa é de R$ 30 bilhões. A Apex-Brasil, aproveitando a
Copa do Mundo, trouxe ao Braisil mais de 2,3 mil empresários
estrangeiros, de 104 países. A agência estima trazer US$ 6 bilhões em
negócios para o Brasil.

9 - Redação Sport TV: do fracasso ao espírito de porco!

No
Programa Redação Sport TV de 22/1/2014, o apresentador deu sonoras
gargalhadas ao exibir a foto de um estádio da copa ainda sem gramado e
fazer previsões catastróficas sobre o evento. Na edição de 26/6/2014, o
tom mudou completamente: um outro apresentador mostrou como a imprensa
internacional elogiava o evento e ouviu do entrevistado Ruy Castro: “A
nossa imprensa foi rigorosamente espírito de porco antes do evento
começar”.

Confira o vídeo com os dois momentos e os dois humores do Sport TV


10 – Governo alemão: “O Brasil é um país de alto risco”


seis semanas do início da Copa, o Ministério de Assuntos Exteriores da
Alemanha divulgou um relatório pintando uma imagem desoladora do Brasil,
descrito como um país ode as leis não são respeitadas e o turista corre
o risco de ser roubado, sequestrado e se envolver em conflitos entre
policiais e criminosos. O documento listava uma série de cuidados que os
gringos deveriam tomar, incluindo atenção redobrada com as prostitutas,
apontadas como membros e organizações criminosas, e vigilância contínua
com os copos, para não serem vítimas de um “Boa noite, Cinderela”.

Pelo
documento, até mesmo a seleção alemã estaria em perigo em terras
tupiniquins. E não apenas dentro de campo. “Arrastões e delitos
violentos não estão descartados, lamentavelmente, em nenhuma parte do
Brasil. Grandes cidades como Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, Rio de
Janeiro e São Paulo oferecem altas taxas de criminalidade”, ressaltava.

O
Ministério ainda não divulgou relatórios sobre o número de alemães que
vieram ao Brasil e o que estão achando da experiência. Mas quem circula
pelas ruas brasileiras, repletas de gringos felizes e sorridentes, já
sabe!

11 - Der Spiegel:  “Justamente no país do futebol, a copa poderá ser um fracasso”

 Um
dos principais semanários da Europa, a revista alemã estampou, um mês
antes do início da Copa, a manchete “Morte e Jogos”, destacando que,
justamente no país do futebol, a Copa poderia ser um fiasco, por causa
dos protestos, da violência nas ruas, dos problemas do transporte
coletivo, dos aeroportos e dos estádios. Praticamente um alerta vermelho
recomendando que os europeus não viessem ao Brasil.

Mas os
turistas vieram e estão adorando. A imprensa estrangeira também: o
jornal norte-americano The New York Times, fala em “imenso sucesso”. O
francês Le Monde, em “milagre brasileiro”. O espanhol El País diz “não
era pra tanto” para as previsões catastróficas.  A revista inglesa The
Economist,  remenda que “as expectativas, que eram baixas, foram
superadas”. A própria Der Espiegel, na edição desta semana, dá destaque
para a animação da torcida e admite que os protestos em massa ainda não
aconteceram.


12 – Ronaldo, o fenômeno: “Da vergonha à constatação de que a Copa é um sonho”

 Na
véspera do início do mundial, o ex-atacante Ronaldo se disse
envergonhado com os atrasos das obras da Copa. Mas, membro do Comitê
Organizador Local da FIFA que é, defendeu a entidade e culpou o governo
Dilma por todos os problemas. “É uma pena. Eu me sinto envergonhado
porque é o meu país, o país que eu amo. A gente não podia estar passando
essa imagem”, disse à Agência Reuters o cabo eleitoral e amigo do
senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência.

Agora,
consolidado o sucesso do evento, tenta mudar o discurso. Em coletiva
nesta quinta (26), procurou se justificar. "Não critiquei a organização
da Copa, até porque eu faço parte dela. Disse que poderia ser muito
melhor se todas as obras de mobilidade urbana tivessem sido entregues”,
remendou. ”Vivíamos um clima muito tenso, com a população muito
descontente. Começou a Copa, e agora estamos vivendo um sonho",
concluiu.


13 –  O vira vira lobisomem de Ney Matogrosso

De passagem por Lisboa, em 11/5, Ney Matogrosso resolveu usar a Copa para criticar duramente a política brasileira na TV ATP.
Só esqueceu de estudar, primeiro, os argumentos. “Se existia tanto
dinheiro disponível para gastar com a Copa, por que não resolver os
problemas do nosso país?”, disse ele, desconhecendo que, desde 2010,
quando começaram os preparativos para a Copa, o governo já investiu R$
850 bilhões em saúde e educação, enquanto os investimentos totais no
mundial – incluindo federais, locais e privados – atingem R$ 25,6
bilhões.

Foi ácido quanto à
construção dos estádios que, segundo ele, irão virar “elefantes brancos”
e não serão usados para mais nada. Embolou dados, números e fatos em
vários argumentos. Acabou sustentando uma visão preconceituosa sobre as
classes populares. Questionado se há uma maior consciência dos pobres em
exigir seus direitos, concordou: “O escândalo é tamanho que até essas
pessoas param para refletir”.

Ataulfo é a favor do Plebiscito ! | Conversa Afiada

Ataulfo é a favor do Plebiscito ! | Conversa Afiada

do Walber, no Face do C Af




Amigo navegante chama a atenção do ansioso blogueiro para recente colona (*) do Ataulfo Merval de Paiva (**) no Globo Overseas.
Diz ele que o Supremo (como se sabe, o
Ataulfo se considera o 12.º voto no Supremo) vai  acabar com essa
“bacanal partidária” a que assistimos nos últimos dias antes de se
oficializarem as candidaturas.

O notável colonista acusa o PT de dar “golpes” para manter o horario na tevê – em que a Dilma terá o dobro do tempo dos múltiplos candidatos do Ataulfo: Arrocho, Dudu e Bláblá – qualquer um serve, desde que derrote os trabalhistas.

Interessante que quando a “bacanal” era patrocinada pelo Principe da Privataria, os participantes eram castos e virtuosos.

Como o Principe e seu Planejador-Mor, o Padim Pade Cerra – os dois acreditam tanto em Deus quanto na monogamia.

Essa crise Ética do Ataulfo – “restaure-se a moralidade !”- se resolve de maneira cristalina.

Basta que ele, o Globo e a Globo – que foi desclassificada pelo Chile - apoiem o plebiscito, como pede o Lula, e a Constituinte Exclusiva para acabar com o dinheiro da Globo nas eleiçoes e com a “bacanal”.

Nessa linha de raciocínio, o Conversa Afiada, formalmente, anuncia que o Ataulfo vai assinar o PLIP da reforma política – o projeto de lei de iniciativa popular.

É só o Instituto Lula mandar buscar a assinatura dele na casa do Fernando Henrique.

Como se sabe, o Ataulfo nao resiste a uma iniciativa popular …

Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas
do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e,
depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um
presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e,
não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar
do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(**)
Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros
da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do
Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse . Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”,
por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos,
em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho
perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da
TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é,
provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.

Pesquisa internacional mostra que a mídia brasileira desconhece por completo os brasileiros

Pesquisa internacional mostra que a mídia brasileira desconhece por completo os brasileiros

Pesquisa internacional mostra que a mídia brasileira desconhece por completo os brasileiros


DOIS PAÍSES 

Janio de Freitas



A
imprensa, a TV, as rádios que tocam notícia não deixam que nos
enganemos. O nosso desânimo é total, o pessimismo nos imobiliza, o
desemprego nos alarma, estamos todos reduzidos a desastres humanos e o
país chafurdado na vergonha do seu fracasso. A Confederação Nacional da
Indústria, a sádica CNI, ainda tem a perversidade de pagar mais uma
sondagem para nos dizer que, nos últimos dias, afundamos mais ainda em
nossa humilhação.
Aí vem uma pesquisa internacional, a Gallup World Cup
--diz a informação que feita "em mais de 130 países"-- e traz esta
conclusão: pela oitava vez consecutiva, o Brasil "está no topo" em
satisfação com a vida nos futuros cinco anos. Com a nota 8,8 na média da
opinião dos brasileiros, em escala que vai de 0 a 10 para a "felicidade
futura".
Estou tão desanimado, como o país todo, que não tenho disposição para
qualquer comentário sobre o conflito das duas visões e, muito menos,
sobre sua causa.

sábado, 28 de junho de 2014

Folha de S.Paulo - Cotidiano - Piketty e o direito - 28/06/2014

Folha de S.Paulo - Cotidiano - Piketty e o direito - 28/06/2014







Oscar Vilhena Vieira
Piketty e o direito
A desigualdade não deve ser vista como um acidente de percurso decorrente de
agentes econômicos



Ao final da tarde, quando os grandes magazines franceses fecham as suas portas
para milhares de consumidores das mais diversas partes do mundo, suas marquises
passam a servir de abrigo a um grupo também cosmopolita, só que agora de
mendigos e moradores de ruas.



A proximidade física com uma nova desigualdade ainda não naturalizada, como
nas grandes cidades do hemisfério sul, pode estar potencializando o impacto do
contundente e impressionantemente bem documentado "O Capital no Século
21", do economista francês Thomas Piketty.



Não ouso me aventurar nas tertúlias econômicas provocadas pelo livro. A obra
de Piketty, no entanto, tem muito a dizer sobre a relação entre direito e
desigualdade.



Para o autor o regime de propriedade e o sistema tributário, que o conforma,
têm um papel determinante nos padrões de acumulação entre os diversos setores
da economia. Ou seja, é o direito que, em grande medida, determina se a riqueza
advirá mais do mérito e da engenhosidade ou decorrerá em maior grau do capital
hereditariamente acumulado.



De acordo com Piketty o desenho adotado pelas instituições do capitalismo
maduro tem gerado, necessariamente, maiores taxas de retorno para o capital do
que de crescimento. A consequência é que a renda vai cada vez se concentrando
mais. Dessa forma, a desigualdade não deve ser vista como um acidente de
percurso decorrente da livre interação de agentes econômicos, mas sim como
consequência de escolhas institucionalizadas juridicamente.



Mesmo a adoção de uma constituição generosa, como a brasileira, que
estabelece vários mecanismos de redistribuição, por intermédio de direitos
universais à educação, à saúde ou à assistência social, pode ser neutralizada
por um sistema tributário altamente regressivo. Basta lembrar que cerca de 45%
da renda das famílias brasileiras que ganham menos de 2 salários mínimos volta
para o Estado por força de diversos tributos. Já para as famílias que recebem
mais de 30 salários mínimos, esse valor gira em torno de 25% da renda. Em
resumo, quanto menos se ganha mais se paga.



No Brasil, além da regressividade tributária, falta transparência fiscal, o
que impediu ao próprio Piketty investigar as entranhas de nosso sistema de
distribuição de riqueza.



Há também muitos outros mecanismos que favorecem a concentração da renda,
como empréstimos com juros subsidiados para as empresas chamadas de campeãs
nacionais, discricionariamente escolhidas pelo BNDES, associados a
generosíssimas taxas de juros que remuneram o capital voltado a cobrir os
gastos públicos. Estima-se que os gastos com tais juros sejam 10 vezes maiores
do que os realizados com a Bolsa Família.



As consequências do aprofundamento da desigualdade são desastrosas por
múltiplas razões. Conforme explica Piketty, um dos seus efeitos mais perversos
é a maneira pela qual a desigualdade favorece a captura dos mecanismos de
representação democráticos pelos interesses de uma minoria privilegiada,
fazendo da cidadania um perigoso simulacro.



No mesmo sentido, poderíamos dizer que a erosão do tecido social, provocada
pela profunda e persistente desigualdade, gera necessariamente uma forte
distorção na capacidade do Estado em aplicar a lei de forma justa e imparcial,
como a experiência brasileira tem reiteradamente demonstrado.

 


Quem vai pagar o 'prejuízo' da Copa?

Quem vai pagar o 'prejuízo' da Copa? - 28/06/2014 - Luiz Caversan - Colunistas - Folha de S.Paulo







"Por causa de todo aquele clima que havia antes, muita gente deixou de se
preparar como devia, ficou com medo de investir e ter prejuízo. Pequenos
comerciantes, por exemplo, poderiam estar faturando muito se tivessem
acreditado que a Copa ia ser assim tão bacana."



Quem me disse isso, talvez não exatamente nestas palavras, foi um amigo
querido, cuja família tem um posto de gasolina em São Paulo. Assim
como milhares de outros pequenos e médios empresários das grandes cidades
brasileiras, ele também ficou constrangido pelo clima do "não vai ter
Copa", poderia ter apostado no sucesso do evento, investido mais, criado,
por exemplo, eventos, atrativos ou promoções inspirados na Copa para aumentar a
clientela.



Mas não fez isso. Não ia ter Copa, lembram?



Algum caro economista aí é capaz de me dizer como faço para calcular o
prejuízo que os arautos do pessimismo e do mau humor, 'black blocks' e cia. à
frente, causaram ao país?



Por conta de tudo o que não foi feito, tudo o que deixou de ser investido
para gerar receita, com tudo o que se poderia ter sido oferecido, vendido para
torcedores, turistas, comitivas e quetais, tendo como temática a Copa, e não
foi.



Quanto?



Apenas para citar um exemplo: toda esta zona que esta acontecendo na Vila
Madalena, em São Paulo,
não poderia ter sido evitada se Prefeitura, comerciantes, produtores, artistas,
empreendedores em geral desta cidade não tivessem sido contaminados pelo vírus
do "não vai ter Copa" e pudessem ter replicado em diversos outros
pontos de São Paulo dezenas de "vilas madalenas" com estrutura e
opções para que o povo tivesse onde torcer, comemorar, xavecar, encher a cara,
que seja, sem criar o transtorno que está ocorrendo num bairro só?



Quantas praças, campos, clubes, ONGs, associações, terreiros, ruas de comes
e bebes, casas noturnas, salões de festas, quantas e tantas localidades
poderiam ter sido envolvidas em ações para se criarem polos em que a Copa fosse
devidamente curtida, aproveitada e explorada comercialmente de uma maneira
saudável para todos...



Outro exemplo? O pessoal de turismo, que se amuou e não investiu o que podia
na preparação de roteiros, alternativas, pacotes e oportunidades para as
centenas de milhares de turistas que estão por aqui não ficassem à toa,
pudessem aproveitar melhor o país, seus encantos, suas possibilidades
fantásticas, movimentando ainda mais a economia?



Mas não ia ter Copa, e ficou todo mundo meio paralisado, esperando uma
tragédia que não houve, um caos que está longe de ocorrer, o vexame
inexistente, perdendo um bonde que não vai passar de novo.



Mas fazer o quê? Afinal, como registrou o sempre pertinente jornalista
Ricardo Kotscho em seu blog, sofremos um massacre midiático –de dentro e de
fora do país– no qual fomos retratados "como um povo de vagabundos,
incompetentes, imprestáveis, corruptos, incapazes de organizar um evento deste
porte".



Além de pagar o mico de estarmos sendo desmentidos por ninguém menos que
nossos próprios visitantes –"Fantastic people", dizem eles repetida e
entusiasmadamente–, ainda teremos de conviver com a fantástica oportunidade
perdida.



Quem vai pagar esta conta?

 


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Diário do Centro do Mundo » O STF pós-Barbosa

Diário do Centro do Mundo » O STF pós-Barbosa

Postado em 26 jun 2014
Agora, o desafio é reconstruir a credibilidade
Agora, o desafio é reconstruir a credibilidade



É o início da era pós-JB no STF, e recuperar a credibilidade será um desafio de anos.


Sob Barbosa, o Supremo politizou de tal forma a justiça que você
sabia o voto de cada um dos juízes muito antes que fosse proferido.


A reconstrução do STF terá que se dar também nos detalhes. Que
sentido faz, por exemplo, o palavreado pomposo, solene, muitas vezes
indecifrável e ridículo dos juízes?


Eles têm que se expressar num português compreensível para todos. Nas
sociedades mais avançadas, não se admite que um juiz use uma linguagem
que não seja entendida pela voz rouca das ruas.


A agenda é portentosa. É necessário que surjam inovadores entre as
lideranças jurídicas brasileiras para que seja feito o trabalho
imperioso de modernização.


Por ora, a prioridade é, naturalmente, a reconstrução do STF. O atual
sistema de indicação se revelou um formidável fracasso: basta olhar
para uma indicação de FHC, Gilmar Mendes, e outra de Lula, Joaquim
Barbosa. Está claro que é preciso achar um novo jeito de nomear juízes.


O mais sensato é examinar quais são as melhores práticas internacionais. Pior que a brasileira provavelmente não há.


No curto prazo a questão é restaurar as ruínas deixadas por Barbosa.
Ele se deixou levar tanto pela adulação interesseira da mídia que em
certo momento parecia capaz de subir à mesa de reunião do STF e, como
Leonardo di Caprio em Titanic, gritar, a toga tremulando como capa de
super-heroi: “Sou o rei do universo”.


As primeiras decisões depois de JB geram sentimentos ambíguos.


No caso de Dirceu, a mensagem é boa. Barbosa vinha sendo absurdamente
injusto com Dirceu ao não lhe permitir o trabalho fora da Papuda.


Isso foi corrigido. Os 9 votos a 1 mostram quanto era precária a argumentação de Barbosa.


No caso de Genoino, ao qual foi negada a prisão domiciliar, a
mensagem é confusa. Ficou a sensação de que alguns juízes temeram que
favorecer num mesmo dia Dirceu e Genoino seria demais. Poderia ganhar
força a imagem de um Supremo “petista”.


Sob essa ótica, o que se viu foram votos menos técnicos e mais de conveniência, para infortúnio de Genoino.


Barroso, o relator, alegou “isonomia”. Outros presos na mesma situação de Genoino estariam sendo injustiçados.


A melhor resposta a esta estranha tese veio de Miruna, a filha de
Genoino. Numa carta ao pai, escrita no fragor da sentença, ela notou:
“Que mundo é esse, meu Deus, em que as pessoas querem igualar a
injustiça e não a justiça?”


Num português claro, simples, sem magníficas pomposidades, Miruna disse numa frase mais que todos os juízes.


É uma prova a mais de como será longa a jornada para a construção de uma justiça à altura do que o Brasil merece.

O jornalismo abutre - Carta Maior

O jornalismo abutre - Carta Maior

O jornalismo abutre

Em
editorial contra a Argentina, Globo passa recibo de um estreitamento
ideológico que consolida sua desqualificação como mediador do debate que
o país precisa.

por: Saul Leblon




Arquivo





Um editorial estampado no jornal
O Globo desta semana ( 22/06) esclarece  a aparentemente inexplicável
lógica  das pressões e interesses que ameaçam arrastar  a Argentina ao
martírio  de um novo default.

Com o título ‘Debacle argentina é
lição para o Brasil’, o  texto elucida  a dimensão política do
torniquete  que pretende extrair de uma nação  fragilizada um valor 
impagável e  indevido.

Há 12 anos,  93% dos credores  argentinos aceitaram uma moratória decretada pelo então presidente Nestor Kirchner (1950/2010).

A
renegociação resultou em um desconto da ordem de 70% sobre  uma dívida
ao redor de  US$ 130  bilhões,  herdada do ciclo ditatorial e do
naufrágio neoliberal conduzido por Menen  & Cavalo, nos anos 90.

Um
grupo recalcitrante  se recusou aderir ao pacote .Preferiu vender 
seus  créditos,  da ordem de US$ 1,3 bi, equivalente a 1% da dívida
total,  a dois fundos e 13 investidores.

Desde então, essa fauna
especializada em rapinar as entranhas de economias em dificuldade, 
varreu a Argentina com 99 tentativas jurídicas de receber o valor
integral dos títulos adquiridos com deságios elevadíssimos.

Seus integrantes se esponjam  na hipótese de transformar carniça em filé-migon.

Outros detentores de 6% de títulos podres, igualmente não renegociados,  aguardam nas redondezas.

De olho no assalto dos abutres pioneiros ,  esperam  o resultado  para  compartilhar do botim.

No último dia 16 , um juiz de Nova York, Thomas Griesa,  deu-lhes  o sinal encorajador.

Griesa
acatou o pleito  dos abutres  e determinou que  tinham  o direito de
receber a totalidade da dívida de US$ 1,3 bilhão. Mais:  o pagamento 
deveria ser simultâneo  ao dos credores que aceitaram o desconto na
reestruturação de 2003/2005.

Se a decisão for acatada, o governo
argentino terá que desembolsar cerca de US$ 2,2 bi na próxima 2ª feira,
dia 30 de junho (cerca de US$ 900 milhões  da parcela reestruturada,
mais U$ 1,2 bi da rapina)

Não só.

A matilha dos  6%  avançaria em seguida sobre a carnificina.

Ao
requerer isonomia nas cortes internacionais, imporia um saque da ordem
de US$ 15 bilhões às reservas do país que se limitam a US$ 28 bilhões.

Ataques
especulativos  contra um peso desprovido de lastro viriam na sequência.
A capacidade de importação  já limitada  pela ausência de crédito
mergulharia  a economia argentina em  uma espiral descendente
devastadora.

Os próximos dez dias serão decisivos nesse jogo de vida ou morte entre uma nação e uma matilha.

 Nesta 5ª feira, a Casa Rosada tentou evitar o assalto.

Com
cinco dias de antecedência,   depositou  US$ 900 milhões referentes à
parcela  da dívida renegociada e blindou reservas em cofres
juridicamente invioláveis ( o BIS).

É nesse ambiente de  saque 
e  rapina  que deve ser lido o editorial de O Globo, cujo texto  dispara
contra Cristina, ao mesmo tempo em que mira um eventual segundo mandato
da presidenta Dilma, cercando-o de advertências e insolências.

Trechos:
(...)
‘Esse
desfecho começou a ser desenhado pela postura arrogante do marido de
Cristina, Néstor Kirchner, quando era presidente, na imposição de
condições draconianas na renegociação da dívida, tornada impagável no
rompimento da política de câmbio fixo, em dezembro de 2001.(...) Tudo
condimentado por um conhecido discurso nacional-populista, marca
registrada do peronismo kirchnerista.

O aprofundamento da
crise do país — sem divisas em nível tranquilizador, com inflação em 30%
e economia em recessão — marca o esperado esgotamento de um modelo
heterodoxo intervencionista, de que resultaram a fuga dos investidores e
a marginalização da Argentina no mundo. Apesar disso, aplaudido em
Brasília.

(...) Embora tudo fosse muito previsível, a
diplomacia companheira do lulopetismo, à qual se subordina o Itamaraty,
levou a política de comércio externo brasileira a concentrar suas
apostas em aliados ideológicos latino-americanos, como a Argentina e a
Venezuela, esta colocada para dentro do Mercosul numa manobra da Casa
Rosada e do Planalto, de que foi vítima o Paraguai.(...)E, assim, o
Mercosul tem hoje dentro dele duas bombas de demolição em contagem
regressiva. As consequências já começaram a ser colhidas há algum tempo.
Por ser mercado estratégico para as exportações brasileiras — hoje, o
terceiro em importância, atrás de China e Estados Unidos —, a Argentina,
com sua crise, tem agravado a tendência a déficits externos do Brasil’.


Um impecável exemplar de jornalismo abutre.

O
recado dos Marinhos  espelha, ademais, a esperteza  dos que injetam
amnésia política na sociedade para  depois vender velhas  fraudes  como
floradas  frescas da serra.

O  martírio argentino é um desses
casos cuja origem  remete diretamente ao modelo de desenvolvimento ora
martelado como alternativa redentora  ‘ao populismo’ do ciclo de
governos progressistas  instalados  na América Latina. Entre eles o do
PT no Brasil.

Em 2003, quando começou o governo Kirchner, a Argentina era uma espécie de Grécia da América do Sul.

Desacreditada aos olhos de seu próprio povo, balançava como um 'joão bobo' nas mãos do capital especulativo interno e externo.

Nestor
Kirchner herdou uma taxa de pobreza produzida pelo extremismo
neoliberal –lá mais radical do que o de FHC aqui--  que afetava mais de
40% dos 37 milhões de argentinos.

A dívida da ordem de  US$ 130 bilhões, impagável, corroía todo o seu sistema financeiro.

Fruto
mais do desespero do que de uma estratégia, a moratória decretada
anteriormente, em 2001, colapsava os mecanismos de crédito e
financiamento, sem os quais nenhuma economia funciona.

Os credores sobrevoavam o país à espera do melhor momento para arrancar os seus olhos. E o que lhe restasse de carne ainda.

O assédio  era brutal.

A
mídia local , aliada dos interesses plutocráticos nativos e
internacionais, interditava o debate de qualquer solução alternativa à
rendição incondicional.

Poucos eram os aliados internacionais e
entre eles não figurava o ministério da Fazenda brasileiro, dirigido
então por Antonio Palocci.

 Para se ter a dimensão do cerco em
torno da Casa Rosada, basta conferir o que a liderança do euro, os
banqueiros e o FMI fazem hoje com Atenas, Lisboa e Madrid.

A diferença é que Nestor Kirchner não se dobrou.

E isso o jornalismo abutre não perdoa .

Com o  desconto de 70% imposto aos credores, Nestor destinou a receita remanescente a programas sociais e de investimento.

A taxa de pobreza recuou rapidamente.

 A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na  década passada.

As circunstâncias desse braço de ferro são espertamente omitidas agora.

Não é preciso edulcorar  --não se deve edulcorar--  os desafios da luta pelo desenvolvimento.

Com
a  indústria  esfarelada nos anos 90 pela ortodoxia da dupla Menem
& Cavalo, o renascimento argentino bateu no teto e começou a patinar
justamente quando a crise internacional  estreitou a sua margem de
manobra pelo canal das exportações .

 A desordem  criada pelo
neoliberalismo derrubou os preços das exportações agrícolas  do país,
comprometendo adicionalmente um fôlego cambial já restrito pela ‘seca’
de crédito pós-moratória.

 O jornalismo abutre  ataca nessa hora.

E o faz  preventivamente, na esperança de apagar as pegadas de seu próprio passivo.

Inclui-se 
aí a safra de desastres colhidos na Grécia, Espanha, Portugal e outros,
ora submetidos ao purgante ortodoxo que os argentinos rechaçaram  na
moratória de 2003.

É ancorado nessa areia movediça  que o
editorial dos Marinhos  ataca Cristina para, ao mesmo tempo, desossar 
um provável segundo governo Dilma.

Aqui, de novo, nada a edulcorar.

A
economia brasileira vive, de fato,  como tem reiterado Carta Maior, uma
transição  de ciclo, cujo passo seguinte exige o amplo debate
democrático de alternativas,  custos, ganhos e prazos.

Nem o Brasil, nem a Argentina, porém, constituem  exceções.

Países
latino-americanos  tidos como mais amigáveis aos mercados , casos do
Peru, Colômbia e Chile, por exemplo,  vivem igualmente um declive de
crescimento por conta do ambiente rarefeito criado pela crise 
internacional.

 O jornalismo abutre  releva o custo transversal  da desordem instalada  pela agenda que comunga .

E nisso está cercado de ilustres companhias.

No ano passado, por exemplo,  o Brasil cresceu  2,3%  --o dobro da taxa mexicana.

Mas a nota de risco do México foi elevada pela agencia Moody’s, no início de 2014.

E a do Brasil cortada em dois graus.

O
que deixou o país abaixo da classificação concedida ao  ‘amigável’
presidente mexicano, Enrique Peña Nieto  --  ‘comprometido com as
reformas’, explica o jornalismo comprometido com os interesses que elas
ecoam.

Na represália contra a Argentina, o jornalismo  abutre de o
Globo passa o recibo de um estreitamento ideológico que consolida  a
sua desqualificação como mediador do debate ecumênico que o Brasil
precisa fazer para repactuar as bases do seu  desenvolvimento.

A
medida dessa marginalidade pode ser aferida por uma fita métrica que
desautoriza o veículo dos Marinhos nos seu próprios  termos.

Três
dias depois que o editorial do Globo  fermentava sua vingança contra a
Argentina,  e  por tabela fuzilava Dilma, o editor do Financial Times e
principal analista econômico do jornal, Martin Wolf  --um neoliberal
assumido, reconhecido e respeitado--  publicava um artigo em que
defendia o direito dos argentinos à moratória e condenava o cerco abutre
contra o país.

Compare-se, abaixo, trechos  desse artigo, com o
editorial citado , para se ter a medida do grau de beligerância  da
guerra midiática  em curso até outubro.

O artigo de Martin Wolf  eleva o jornalismo abutre de o Globo à categoria de ‘mídia urubu-rei’.

Defender a Argentina dos abutres  (FT 25/06)

‘Não
muito distante da redação do "Financial Times", em Londres, ficava a
prisão Marshalsea, para onde costumavam ser mandados os devedores
inadimplentes. No século XVIII, mais da metade dos prisioneiros em
Londres eram pessoas encarceradas por dívida não honrada. Em 1869, as
penas de prisão por inadimplência foram abolidas e adotadas as leis de
falência. Tanto a economia como a sociedade sobreviveram.


As
coisas por vezes dão errado. Às vezes, isso deve-se a infortúnios e,
outras vezes, a irresponsabilidade. Mas a sociedade necessita uma
maneira de permitir que as pessoas possam recomeçar do zero. É por isso
que dispomos da opção de declarar falência. Com efeito, nós permitimos
que os agentes privados mais importantes em nossas economias - as
empresas - desfrutem de responsabilidade limitada. Isso permite que os
acionistas sejam blindados das consequências do endividamento de suas
empresas.


Também essa ideia foi, quando adotada, acusada de ser uma licença para irresponsabilidade.

Responsabilidade
limitada traz problemas, especialmente em empresas extremamente
alavancadas (como bancos). A facilidade com que as empresas americanas
podem ser blindadas contra seus credores é surpreendente. Melhor isso,
porém, do que responsabilidade ilimitada.


Lógica semelhante aplica-se aos países.

Às
vezes, seus governos tomam empréstimos em montante superior ao que
revelam-se capazes de suportar. Se tomam empréstimos em moeda corrente
nacional, podem recorrer a inflação para abater a dívida. Mas, caso
endividem-se em moeda estrangeira, essa possibilidade inexiste.


São,
geralmente, países com uma história de irresponsabilidade fiscal os que
acabam obrigados a tomar empréstimos em moeda estrangeira. A zona do
euro colocou seus membros na mesma situação: para cada um dos governos, o
euro é praticamente uma moeda estrangeira. Quando os custos do serviço
dessas dívidas torna-se muito alto, então uma reestruturação - um calote
- torna-se necessário.


Como Carmen Reinhart e Kenneth
Rogoff, da Universidade Harvard, mostraram em "This Time is Different"
(dessa vez é diferente), essa é uma velha história.


Um
mundo onde, para os países e seus credores, a opção seja pagar tudo ou
não pagar nada seria tão ruim quanto aquele mundo do século XVIII onde
os devedores tinham de escolher entre a fome e a prisão. Um procedimento
melhor precisa agora ser encontrado.


Como argumentei, à
época, a Argentina viu-se nessa posição na virada do século. Era
difícil sentir muita simpatia pelo país, vitimado por má gestão
governamental crônica antes de seu calote em dezembro de 2001 e que iria
sofrer ainda mais depois disso. Mas havia se tornado impossível honrar o
serviço de sua dívida pública de US$ 132 bilhões a um custo tolerável.
Além disso, os credores tinham sido recompensados pela possibilidade de
um default. Mesmo em seu ponto mais baixo, em setembro de 1997, o
diferencial entre os títulos argentinos denominados em dólares e os
treasuries americanos estava perto de três pontos percentuais.


Um
credor compensado pelo risco de um default não pode ficar surpreso
diante de uma situação assim. A solução é diversificar sua carteira de
investimentos.


Embora o princípio da reestruturação da dívida soberana faça bastante sentido, na prática é difícil implementá-lo.

Nenhum
tribunal pode arrestar e então liquidar a totalidade dos ativos de um
país. Esse limbo legal cria dois perigos opostos: o primeiro é ser muito
fácil para um país ignorar suas dívidas; o segundo é que isso é muito
difícil. A história argentina ilustra os dois perigos: diante de um
governo intransigente, os detentores de 93% da dívida não honrada
aceitaram trocar seus papéis por dívida com valor nominal enormemente
reduzido; mas os que rejeitam essa troca [os intransigentes], impediram
uma solução clara. A confusão persistiu durante mais de 12 anos após o
calote.


Como primeira vice-diretora-gerente do Fundo
Monetário Internacional, em 2002, Anne Krueger ofereceu uma proposta de
mecanismo de reestruturação da dívida soberana. Ela argumentou que o
processo poderia ser retardado ou bloqueado, se alguns credores
intransigentes reivindicassem o pagamento integral.


As
ideias de Krueger eram mais supranacionais do que os governos -
especialmente o dos EUA - podiam aceitar. Mas foram pelo menos adotadas
"cláusulas de ação coletiva". Porém essas cláusulas poderiam não impedir
o êxito dos intransigentes que exigem pagamento integral por parte da
Argentina, e que têm à frente Paul Singer, da Elliott Management. Como
observou recentemente o FMI, essas cláusulas "normalmente só vinculam os
detentores de uma mesma emissão [de dívida]". Um credor intransigente
pode "neutralizar a implementação dessas cláusulas" se acumularem uma
posição de bloqueio, normalmente superior a 25%.


Além
disso, acrescenta o FMI, os tribunais americanos interpretaram uma
"provisão padrão" constante desses contratos (a denominada cláusula
"pari passu") como exigência de que um país devedor realize o pagamento
integral de uma dívida não honrada, caso efetue qualquer pagamento de
dívida reestruturada.


Não sou advogado, mas, para mim, a
ideia de tratamento igualitário significa tratar casos semelhantes da
mesma forma. Entretanto, credores que aceitaram uma reestruturação e
credores intransigentes não são casos semelhantes. Obrigar os devedores a
tratá-los igualmente parece errado. Além disso, é absurdo o argumento
segundo o qual os investidores intransigentes estão ajudando os
argentinos a punir corrupção governamental. Cabe aos argentinos escolher
o governo que desejam. E o pior é que, se a Argentina for obrigada a
pagar integralmente os credores intransigentes, quem terá de arcar com
isso serão os argentinos. Isso é extorsão apoiada pelo Judiciário
americano.


A questão imediata é: como a Argentina
poderia encontrar uma solução satisfatória para esses casos? Uma
possibilidade é eliminar a cláusula "pari passu". Outra é introduzir
cláusulas mais fortes de ação coletiva, especialmente as que cobrem
todos os títulos em poder de credores. Outra é deixar de emitir títulos
em Nova York. Outra possibilidade seria alterar a lei americana. Outra
possibilidade, como observa José Antonio Ocampo, da Universidade
Columbia, é reavivar a ideia de um mecanismo global. Essas duas últimas
opções parecem muito improváveis.


Mas num mundo de
fluxos internacionais de capital, um mecanismo viável para a
reestruturação da dívida soberana não é um acessório opcional. É
possível que a Argentina seja um caso excepcional. É mais provável que a
interpretação da cláusula "pari passu" e a possibilidade de arrestar
ativos vá, agora, dificultar a reestruturação de dívidas. Um mundo onde,
para os países e seus credores, a opção seja pagar tudo ou não pagar
nada seria tão ruim quanto aquele onde os devedores tinham de escolher
entre a fome e a prisão. Um procedimento melhor precisa agora ser
encontrado’ (FT-25/06).

Aécio sugere a aliados de Dilma que 'suguem' a petista - 27/06/2014

Folha de S.Paulo - Poder - Aécio sugere a aliados de Dilma que 'suguem' a petista - 27/06/2014







Aécio sugere a aliados de Dilma que 'suguem' a petista
Tucano pediu que, depois, partidos passem a integrar a sua chapa ao Planalto




DE BRASÍLIA
Candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) rebateu na quarta-feira
(26) críticas da presidente Dilma Rousseff aos políticos que entram em acordos
por "conveniências" e não por "convicções".



Aécio disse que Dilma vem conquistando tempo de TV para a sua campanha à
Presidência de partidos aliados, mas vai perder o apoio da maioria ao longo da
campanha ""com a adesão de governistas à sua candidatura.



"Muito mais gente já desembarcou e o governo ainda não percebeu. Vão
sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem mais um
pouquinho e depois venham para o nosso lado", ironizou o tucano.

 


Merval escreve o epitáfio de Joaquim Barbosa | O Cafezinho

Merval escreve o epitáfio de Joaquim Barbosa | O Cafezinho







Merval escreve o epitáfio de Joaquim Barbosa

Enviado por Miguel do Rosário on 26/06/2014 – 9:25
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Exatamente como eu pensei.



Pode-se até discordar que a decisão do STF de negar prisão domiciliar à
Genoíno tenha sido um “acordo político”, como eu acho que foi, mas que teve
este significado, isso está claro.



Prendeu-se Genoíno para se soltar Dirceu. Os ministros entenderam que não
tinham força ainda para enfrentar as duas arbitrariedades ao mesmo tempo.



Barroso lembrou que Genoíno terá cumprido um sexto da pena até final de
agosto, e que poderá passar do regime semi-aberto para o aberto. E voltar para
casa.



O caso Genoíno é o mais emblemático, neste momento, para Joaquim Barbosa,
por causa do entrevero que aconteceu entre ele e o advogado do réu, Luiz
Fernando Pacheco.



Permitir a prisão domiciliar para Genoíno constituiria uma derrota
insuportável para o presidente do STF. O plenário entendeu que ainda não é hora
de impor uma humilhação tão absoluta a um ministro com uma popularidade mórbida
como Joaquim Barbosa.



Barbosa inspira psicopatas, e não estou exagerando. Ontem, no twitter, pude
comprovar isso. Fotografei e mostro os prints abaixo. Um sujeito que elogiou
Barbosa e xingou Lewandowski, em seguida sugeriu que eu merecia ser morto por
um “sniper”, um atirador de elite.



É curioso a inversão de valores desse povo. Eles elogiam Barbosa por ser um juiz,
em tese, implacável contra o crime, mas pregam o pior dos crimes, o crime
capital numa democracia, que é o assassinato por razões políticas. O termo
“justiceiro” usado como epíteto elogioso pelos barbosianos em relação a seu
ídolo, é o exemplo disso. Justiceiro é aquele que faz justiça com as
próprias mãos, sem ligar para a lei.



ScreenHunter_4090 Jun. 26 08.32



ScreenHunter_4089 Jun. 26 08.32



Além disso, Barbosa foi astuto em relação à Genoíno. Ele mandou o mesmo
grupo de médicos antipetistas (como já pesquisamos) fazer repetidos exames em
Genoíno, e produzir laudos favoráveis à sede de vingança do ministro. Quando os
jornais falam que vários laudos de médicos oficiais dizem que Genoíno não tem
cardiopatia grave, eles omitem que são os mesmos médicos, escolhidos a dedo por
Barbosa, falando sempre a mesma coisa. E omitem, criminosamente, que  a
saúde de Genoíno efetivamente está piorando na prisão, conforme previsto por seu médico e
temido por sua família.



Hoje, todos os jornalões amanheceram com manchetes enormes sobre a soltura
de Dirceu. O sensacionalismo e a pressão midiática em cima do caso ainda
persiste. Aliás, agora mais que nunca, por causa da agenda eleitoral. A mídia
corporativa, notoriamente tucana, entende que o caso gera dano político de
imagem ao PT e procura requentar ao máximo tudo relacionado à Ação Penal 470.



Nenhuma crítica consistente aos erros da ação é publicada, ou se é
publicada, não é discutida ou levada à sério.



O Globo de hoje, por exemplo, reforça a blindagem de Joaquim Barbosa.
Merval Pereira dedica sua coluna inteira a dizer que a decisão do STF não
trouxe “desmoralização” ao presidente do STF.



Trouxe sim, Merval. O próprio fato de você se sentir obrigado a falar isso é
a prova.



Barroso, naquele jeito dele de gentleman britânico, desmonta todos
os argumentos esdrúxulos de Barbosa para impedir que Dirceu trabalhasse
fora do presídio.



Diz Merval que o plenário do STF não considerou “nenhuma das decisões de
Joaquim Barbosa questionável por ilegal ou despropositada”.



Considerou sim. Tanto que Barroso fez questão de enfrentar ponto por ponto
as alegações absurdas de Barbosa: que preso não pode trabalhar em empresa
privada; que não pode trabalhar em escritório de advocacia; que o advogado
seria “amigo de Dirceu”; que tem de esperar cumprir um sexto da pena.



Todos esses pontos foram ridicularizados em plenário. Ao cabo,
até mesmo Celso de Mello parecia arrependido de ter dado o único voto em favor
de Barbosa, provavelmente também num jogo político para que o ministro não
perdesse de zero. Mello disse concordar com todos os pontos levantados por
Barroso.



Ao final de sua coluna, Merval diz que: “ficou evidenciado que Barbosa não
abusou de seu poder nem tomou decisões sem o apoio da lei”.



Ora, quando se precisa fazer uma defesa tão chapa-branca assim de um
ministro do STF, em geral é porque ele abusou do poder e tomou decisões sem
apoio da lei.



O colunista encerra o texto tentando apoiar-se, mais uma vez, na lógica do
linchamento, ao dizer que “certamente há pensamento majoritário na sociedade,
já detectado por pesquisas: o mensalão petista só levou poderosos para a cadeia
e os manteve lá pelo estilo centralizador e autoritário de Barbosa, amplamente
aprovado pela população, a ponto de uma parcela representativa querê-lo como
candidato à presidência”.



É uma linda ode ao autoritarismo e um escárnio à função democrática e
iluminista de uma corte suprema, cujos ministros justamente não passam
pelo crivo do sufrágio universal para que tenham liberdade de tomar decisões
contra-majoritárias.



Juiz não tem de agradar “ao povo”, e isso está bem claro na doutrina
democrática de todos os países ocidentais: a razão é não amarrar os direitos
humanos de um réu ou uma causa às ondas de ódio que varrem a opinião pública.
Quem tem de agradar ao povo é o parlamento e o executivo. Nossa mídia parece
pensar ao contrário: quer um executivo adotando medidas “impopulares”, e um
supremo condenando com base em “pensamento majoritário, já detectado em
pesquisas”.



Elogiar um presidente do STF porque tem caráter “centralizador e
autoritário” e toma decisões com base em “pesquisas”, e ainda sugerir,
elogiosamente (!), que estas decisões teriam chancela eleitoral, me parece a
pior crítica a um juiz, que deveria se pautar unicamente pelos autos, pela
Constituição e, sobretudo, pelos direitos humanos.



Merval é tão absurdamente tolo que, em seu esforço patético para defender
Barbosa, acabou escrevendo seu epitáfio.



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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O PT diante do espelho

Folha de S.Paulo - Poder - O PT diante do espelho - 23/06/2014

Ricardo Melo
O PT diante do espelho
Boa parte das dificuldades do partido decorre da assimilação de práticas que colocam a legenda no mesmo plano das outras
Convenções para sacramentar candidatos costumam ser cerimônias de
saudação a bandeiras e de reafirmação de princípios conhecidos. O evento
do PT, que oficializou Dilma Rousseff, no essencial manteve o figurino.





Alguns momentos chamaram a atenção. O discurso de Lula conclamando a
militância a entrar em campo soou como um mea culpa desses anos todos em
que o partido está no poder. Anos em que o PT praticamente desmontou a
estrutura deliberativa que o diferenciava dos demais.





Os congressos pouco a pouco se transformaram em centrais de referendo de
decisões já tomadas. Núcleos, diretórios e encontros foram esvaziados.
Os petistas da base, antes convocados rotineiramente para opinar sobre
os destinos da legenda, passaram a ser solicitados sobretudo em momentos
eleitorais. Mesmos nestes, o partido muitas vezes recorreu a militantes
pagos, contrariando suas origens.





Tolice pensar que, uma vez no governo, o PT pudesse dispensar colóquios
de gabinete e acordos partidários. Mas a amplitude de certas
composições, assim como o esvaziamento do poder decisório da base,
engessou o partido, entupiu suas artérias e afastou os filiados. A perda
desse contato ficou evidente nas manifestações de junho passado.





O próprio Lula já admitiu: boa parte das dificuldades do PT decorre da
assimilação de práticas que colocam a legenda no mesmo plano das outras.
Reconhecer o problema não é sinônimo de sua solução; é apenas um passo.
A direção corre atrás do tempo perdido.





Capital acumulado existe. Com todos os erros e tropeços, governos do PT
registram um inegável histórico de realizações na luta contra as
desigualdades. A combinação de políticas anticíclicas com a ênfase nas
questões sociais ajudou o país --ou seja, seu povo-- a atravessar um
período turbulento. Esse patrimônio explica tanto a permanência no poder
como a dianteira de Dilma nas pesquisas, mesmo bombardeada
impiedosamente. Ingenuidade esperar, no entanto, que isso por si só
assegure o presente e garanta o futuro.





Queira ou não, o Brasil faz parte de um ambiente internacional cujas
variáveis não controla. Se a economia do planeta patina, mais cedo ou
mais tarde sobra para nós. Não vivemos num sistema onde todos ganham
sempre e ao mesmo tempo. No Brasil, isto só aconteceu em certo momento
porque a disparidade é tamanha que melhorar a vida dos mais humildes não
implicou prejuízo sensível para os mais ricos --pelo contrário. As
estatísticas sobre a evolução de fortunas tropicais são categóricas a
respeito.





Mas a gordura é finita. Cada vez mais é necessário partir para opções
corajosas, mesmo nos limites da chamada economia de mercado. É uma
escolha ideológica, sem dúvida. A tal busca da eficiência, do
equilíbrio, do ajuste perfeito não passa de quimera acadêmica para
encobrir alternativas fadadas a anular avanços sociais.





Por aqui também valem as palavras de gente como Paul Krugman ao analisar
a situação europeia e as políticas draconianas de austeridade. Como se
sabe, ele é tão bolchevique como são soviéticos os conselhos consultivos
propostos em recente decreto governamental. Diz Krugman: "O hábito da
elite europeia de disfarçar a ideologia como conhecimento especializado,
de fingir que aquilo que ela deseja fazer é aquilo que precisa ser
feito, criou um deficit de legitimidade. A influência da elite repousa
em uma presunção de conhecimento superior; quando surge prova de que
essas alegações de superioridade são falsas, ela não tem onde se
apoiar".





Em outras palavras, alguém tem que ceder. A dúvida é saber se o PT está
mesmo disposto a aprofundar um modelo favorável aos mais pobres ou se,
em nome de alianças difusas e postos de governo, imagina seguir em
frente na base do banho-maria.


domingo, 22 de junho de 2014

ISTOÉ Independente - VOTO E CRIMINALIZAÇÃO

ISTOÉ Independente - VOTO E CRIMINALIZAÇÃO


Paulo Moreira Leite

VOTO E CRIMINALIZAÇÃO

Campanha permanente para criminalizar a política teve um efeito óbvio: diminuiu a disposição de ir às urnas



Diz a lenda que, ao mastigar animais aprisionados em suas mandíbulas, os crocodilos costumam verter lágrimas pelos olhos.
Não sei se é verdade.
Mas, ao registrar a falta de
interesse do cidadão comum, em especial da juventude, pela política,
grandes meios de comunicação e pregadores de ar sisudo e discurso
moralista adoram exibir uma reação sentimental – e lacrimejar como esses
répteis gigantescos, o mais próximo parente dos dinossauros sobre a
face da Terra.
 As lágrimas
lendárias dos crocodilos pretendem sugerir que eles não tem a menor
responsabilidade pelo sofrimento de suas presas – e até sofrem por seu
destinos. O mesmo ocorre com o desinteresse pela política.   
Os números são reais: 26% de nossos eleitores dizem não ter nenhum interesse pela política; 29% dizem que tem pouco interesse.
Outro dado relevante: só 25%
dos jovens entre 16 e 17 anos, para quem o voto não é obrigatório, estão
registrados para votar. Em 2006, o número era 39%. 
 O aspecto
especialmente curioso desses números é outro. Diz respeito aos
benefícios reais que a política, sob regime democrático, tem feito ao
país nos últimos anos.  
Do ponto de vista da maioria
dos brasileiros, dificilmente será possível encontrar um período da
história em que  grandes parcelas da população  puderam obter melhorias
tão importantes em sua existência -- através do voto e de seus
representantes eleitos. Esqueçamos, por um momento,  que estamos num ano
de eleição presidencial, onde cada menção positiva é vista como
suspeita. Vamos falar de fatos objetivos.
Alvo de crítica universal pelo
perfil desigual de sua distribuição de renda, hoje o Brasil é objeto
permanente de elogios – pelos esforços realizados para combater essa
situação, seja através do Bolsa Família, da lei do salário mínimo, de
programas quje beneficiam a população pobre e negra. O governo mantem um
programa de habitação popular cujos méritos são reconhecidos pelos
adversários mais duros. Os pobres nunca tiveram acesso tão amplo ao
ensino superior como agora. Os juros estão salgadíssimos mas o crédito
popular nunca foi tão amplo, permitindo a expansão do consumo num padrão
impensável há uma década. O paraíso de uma sociedade igualitária está
longe, muito longe, e talvez nunca seja alcançado. A saúde pública segue
um drama. A educação também. Mas é preciso ser desonesto para negar que
ocorreram melhorias surpreendente, num prazo relativamente curto.
Num país que passou duas
décadas ouvindo elogios nostálgios ao crescimento economico obtido
durante o regime militar, os números dos últimos anos lavaram a alma de
quem tem amor pela democracia. Não por acaso, um Ibope de 2010 mostrava
que, pela primeira vez em muitos anos, a maioria dos brasileiros
considerava que a eleição era uma forma eficiente de defender seus
interesses.
Mesmo assim, em 2014 o desencanto com a atividade política está aí, nas conversas de muitas pessoas.
Por que?
Vamos combinar: deixando de
lado nostalgias impressionistas, nunca se demonstrou  que os políticos
de hoje são moralmente  piores que os “de antigamente”. Não há
escandalômetro confiável a respeito de nossa vida pública. Em nenhum
momento de sua história os gastos públicos receberam controles tão
apertados. As investigações e punições atingiram um nível de rigor tão
intenso que chegam a se tornar um obstáculo a investimentos produtivos. 
Nesta situação, a explicação
não se encontra na atividade política, em si, mas na forma como ela é
vista e apresentada aos brasileiros, na ideologia que encobre cada
narrativa, cada episódio, cada história. As pessoas estão convencidas de
que a política nunca esteve tão contaminada por práticas condenáveis. 
Isso não acontece por acaso.
Esta  não foi, apenas, uma década onde a população colheu benvindos
benefícios e melhorias, inseparáveis do exercício do voto e da
liberdade.
Também foi aquela em que, por
motivos difíceis de aceitar mas fáceis de compreender, o país assistiu a
uma campanha permanente de ataque e criminalização aos políticos e ao
regime democrático. É possível encontrar panfletos da conservadora UDN
que denunciavam  a “crise moral” do país na campanha presidencial de
1950. É sempre bom lembrar que o golpe de 64 teve como lema declarado o
combate a subversão e a corrupção. Mas a partir de 2006 o país entrou
num curso único em sua história para desmoralizar a atividade política,
enfraquecer os políticos e  criminalizar a democracia. Não por acaso, o
interesse dos jovens sofre uma queda importante neste período. Contra
39% registrados para votar em 2006, apenas 32% fazem o mesmo em 2010.
Uma queda superior a 20%. 
Numa imensa dificuldade para
retornar ao poder através do voto, a oposição contou com auxílio
assumido dos meios de comunicaçao para investir a fundo no atalho da
judicialização. Pouco importava se, no meio do caminho, fosse necessário
fazer uns poucos mortos e feridos entre  aliados de segunda linha, que
teriam de ser  sacrificados, cuidando-se para que fosse da  forma menos
dolorida possível.
O essencial era recuperar o
poder de mando. Atingir o núcleo político responsável pelas mudanças,
concentrado no Partido dos Trabalhadores, mesmo que elas estivessem
longe de promover qualquer alteração grandiosa. Era preciso quebrar essa
força organizada, construída de forma lenta e desigual desde a luta
pelo fim da ditadura militar. Em vários países, essa intervenção se fez
pela cooptação de lideranças que abandonaram seus compromissos de
origem. No Brasil, isso não aconteceu, apesar de recuos importantes em
relação a diversas bandeiras históricas, além de alianças e parcerias
especialmente problemáticas no ofício de governar.
Mas, já que não foi possível
cooptar a maioria dos quadros mais importantes  para atuar a favor dos
antigos inimigos, tornou-se necessário colocar uma parcela dos líderes e
dirigentes fora de combate, desmoralizada, atrás das grades, na cadeia,
sendo tratados sem o menor respeito por direitos elementares,
retratados em tom odioso como bandoleiros, inescrupulosos, mercenários –
no ato final de um circo com coro, orquestra, horário nobre na TV --
entre as novelas -- e animais muito selvagens, caninos sempre à mostra e
apetite insaciável, sem comparação com os próprios crocodilos
lacrimejantes. 
Ao voltar-se contra dirigentes
do Partido dos Trabalhadores, a criminalização desgastou a legenda que
desde seu nascimento acumulou uma posição diferenciada junto a maioria
da população, especialmente as camadas subalternas. Distantes da vida
partidária tradicional, era no PT que uma parcela sempre significativa
-- em torno de 30% dos eleitores -- sempre viu  um compromisso mais
firme na luta contra as injustiças e privilégios. Esse desgaste ajudou a
formar, também, uma camada maior de indiferentes ao voto e às disputas
políticas. 
Nesse universo, evitando
 debates e contradições desfavoráveis, os meios de comunicação
suprimiram a cobertura política da política. Num país que deve ter
orgulho de seus cientistas sociais, o debate de ideias foi monopolizado
pela economia de mercado, sem permitir abertura para visões opostas e
contraditórias – que podem refletir interesses opostos e contraditórios,
também. Os protagonistas desse tempo não querem mudanças. Quem acusar,
condenar, prender – primeiro passo para a glorificação e o exercicio do
poder de Estado sem necessidade de atrair, conquistar e convencer o
povo, em nome de quem emanam todos os poderes da República.
Este é o país onde a vontade de votar diminui, eleição após eleição. Poderia ser diferente?

Sobre a corrupção no Brasil. - Blog do Pensador

Blog do Pensador

Sobre a corrupção no Brasil.
O PT é o partido mais corrupto da
história!! Este é o discurso corrente em nossa mídia televisiva, em nossos
grandes jornais, na direita radicalizada de nosso país. A oposição, capitaneada
pelo PSDB, se propõe a moralizar o país, posando como arautos de uma ética sacrossanta,
como verdadeiros exemplos na política.
No tempo da ditadura nada disso acontecia!
-  dizem alguns. A se os generais
tomassem o poder de novo, esses corruptos iriam ver uma coisa!! - dizem.
Mensaleiros!!! – bradam em plenos pulmões os defensores da pátria.
Como pensador que sou, penso sobre estas
afirmações e não consigo concordar com nenhuma. Pois bem, vejamos o discurso
corrente da grande mídia. Defendem eles que o PT é o partido mais corrupto da
história. Bom, o PT foi criado 1980, quase no fim da ditadura militar. Assim, é
impossível que seja o partido mais corrupto da história do Brasil, até porque
ele faz parte de uma pequena parte desta. Mas, não seria ele o partido mais
corrupto se compararmos seus atos com todos os precedentes?
Um pensador gosta de pensar com base em
fatos, e é nos fatos que vamos nos apoiar. E os fatos nos mostram um quadro
completamente diferente.
Verificando os dados publicados pelo “Movimento
de Combate à Corrupção Eleitoral”, o que se constata é que o partido mais
corrupto do Brasil não é o PT. Na corrupção eleitoral, o mais corrupto seria o
DEM, com 20,4% dos cassados desde o ano 2000 (iniciando inclusive antes do PT
assumir o poder no Brasil), o PMDB vem logo em seguida, com 19,5%, e o PSDB em
terceiro, com 17,1%. O PT vem em nono lugar, com 2,9% dos casos, conforme se
verifica na tabela a seguir:

Posição - Partido político

Sigla

Nº. de políticos cassados

Percentual


DEM

69

20,4%


PMDB

66

19,5%


PSDB

58

17,1%


PP

26

7,7%


PTB

24

7,1%


PDT

23

6,8%


PR

17

5%


PPS

14

4,2%


PT

10

2,9%


PPB

8

2,4%


PSB

7

2,1%
Vocês lembram do ficha limpa? Bom, para quem não
conhece, é a Lei que prevê que políticos condenados em segunda instância não podem
concorrer para cargos políticos. Pois bem, o partido que mais teve políticos
barrados na eleição de 2012 por causa do ficha limpa foi, pasmem, o PSDB, o
arauto da moralidade!!!! Vejam na tabela a seguir:

Partido

Candidatos
barrados

PSDB

56

PMDB

49

PP

30

PR

25

PSB

23

PTB

22

PSD

20

PT

18
Assim, a afirmação de que o PT é o partido mais
corrupto do Brasil não teria sustentação. Pelo contrário, o partido mais
corrupto do Brasil seria de fato ou o PSDB ou o DEM, dependendo do critério
utilizado.
Além disso, o que se verifica no Brasil na cobertura
midiática é uma seleção dos casos de corrupção a serem extensivamente explorados.
Veja a diferença na cobertura entre os casos de corrupção na Petrobrás e no
metrô de São Paulo. No Metrô de São Paulo, estado governado pelo PSDB, fala-se
em desvios de mais de 1 bilhão de reais, mas pouco se vê na mídia alusão a
estes escândalos, ou a exploração sistemática deste caso com o fim de desgastar
a imagem do PSDB. Veja nesta reportagem: http://www.istoe.com.br/reportagens/338295_E+AGORA+SERRA+
Eu, como pensador, me pergunto: por que  dois pesos e duas medidas, por que a corrupção
do partido mais corrupto do Brasil de fato (o PSDB, conforme nossos dados) é
tratada de forma diferente por nossa grande mídia dos casos de corrupção que
envolvem o partido governista. E eu acho a resposta de forma muito rápida: não
é do interesse dos donos da mídia que o PSDB seja tachado como um partido
corrupto (que de fato é) aos olhos da sociedade brasileira uma vez que o
objetivo primordial dos donos desta mídia é derrubar o governo atual. Este objetivo
tem a ver com o fato de que os interesses da mídia, das famílias que dominam a
mídia, vão de encontro com os interesses de quem o governo atual procura
defender.
Veja, a família dona da rede globo, a família marinho,
é a mais rica do Brasil, com uma fortuna estimada de mais de 28 bilhões de
dólares:
E é o grupo de mídia mais influente, com o domínio da
audiência na TV brasileira. Desta forma, é a família mais poderosa do Brasil.
Mas esta em constante luta contra o governo capitaneado pelo PT, um governo que
defende interesses outros do que os da família mais poderosa, daí o interesse
em caracterizar este partido como o mais corrupto, o que já verificamos, trata-se
de uma grande peça de ficção.
Por fim, ah, os generais, estes sim, homens sérios e
incorruptíveis. Bem, eu não quero perder muito tempo aqui, mas como pensador,
tenho que argumentar que isto não é verdade. Na ciência existe uma afirmação
que diz: “A ausência de evidência não é a evidência de ausência”. Pois bem, com
isso quero dizer que na época da ditadura, este pensador que aqui escreve não
poderia escrever nada disso, muito menos procurar os casos de corrupção no
governo militar. Pois isto era PROIBIDO. É, isso mesmo, era proibido
investigar, publicar, ou qualquer ato que pusesse em questão os militares.
Assim, não é que não havia casos de corrupção no governo militar. O que
acontecia de fato, é que não havia investigação, muito menos publicação dos
casos que porventura existiam, porque amigos, havia CENSURA. Assim, não é verdade
que não havia corrupção no governo militar. Ela apenas não aparecia de forma acintosa.
Mas, apenas para que vocês entendam, um governo militar de fato nomeia
governantes civis para governar. Assim, ele escolhe dentre aqueles que concordam
com suas ideologias e seus métodos autoritários, governantes dentre os civis para
que executem de fato as políticas e governem o país. Assim foi com o Maluf, os
Bornhausen, os coronéis nordestinos. Os corruptos civis da era militar são de
fato nomeados pelos militares, sendo que existe tanta ou mais corrupção no
tempo dos militares, com a única diferença que você leitor, não pode falar,
investigar, controlar, publicar NADA que envolva os casos de corrupção em uma
ditadura.
Assim, leitores, eu quero que vocês pensem. Pensem
como pode uma afirmação, ao ser repetida muitas vezes, tornar-se uma verdade
(isso era o método da propaganda nazista). O PT, de fato, não é o partido mais
corrupto da história. De fato, não é o mais corrupto do presente. Mas de fato,
este não é o fato que está sendo divulgado.
Reflita, pense, critique, pois às vezes você pode
pensar que é crítico e esperto, mas de fato está sendo apenas manipulado. Mas o
pensamento livre liberta, e estamos aqui para libertar. Até a próxima!!!!!



O Pensador