domingo, 8 de junho de 2014

Sobre a guerra que estamos perdendo (mas que iremos ganhar)

Sobre a guerra que estamos perdendo (mas que iremos ganhar)







Sobre a guerra que estamos perdendo (mas que iremos ganhar)

Enviado por Miguel do Rosário on 08/06/2014 – 12:28
am
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Tomei vergonha na cara e fui assistir, na íntegra, a entrevista de Aécio Neves para o Roda Viva.



Vou ser bem franco: Aécio está afiadíssimo. Suponho que seja o candidato, no
campo da oposição, mais preparado que o PT já enfrentou, desde a vitória de
Lula em 2002.



Serra, apesar de extremamente astuto, tonou-se por demais agressivo e
turrão. Aécio tem leveza. Sabe sorrir e brincar.



Alckmin, por sua vez, sempre me pareceu ter algum problema neurológico
ligado à fala: fala tão devagar, usando uma sintaxe tão repetitiva, com tantas
redundâncias, que dá sono e um tédio profundo. Ganha eleição porque tem cara de
chefe do escritório, daqueles que o brasileiro, sobretudo o paulista, sempre se
acostumou a obedecer.



Alckmin não tem cara de ser o dono do negócio, mas de um gerente implacável
que não tolerará erros.



Aécio tem cara de dono. Aquele dono podre de rico, bonachão, que jamais lida
com a parte suja do trabalho, que implica em exigir disciplina dos empregados,
demitir os incompetentes e, sobretudo, dar exemplo de trabalho duro.



Não. Ele é o proprietário boêmio e filósofo. Já conheci algumas figuras
assim, nos tempos em que fazia entrevistas para meu jornal de café.



Fiquei impressionado e um pouco assustado porque, de repente, me dei conta
de que não tenho guardado, na memória, nenhuma entrevista parecida com Dilma.
Lembro-me de uma entrevista com ela, escrita, feita por Jorge Bastos
Moreno, cheia de futilidades, inclusive algumas que me doeram no coração, como
um elogio ao Sai de Baixo (num post anterior, eu confundi com Zorra Total).



É uma entrevista inútil, feita apenas para agradar a Globo, que expõe
desnecessariamente a presidenta, e não aborda nenhum ponto político essencial.



Antes tivemos aquele vexame, da presidente participando do programa da Ana
Maria Braga, quebrando ovos. Lembro-me que eu até a defendi, mas eu nunca
achava que suas aparições se limitariam àquilo, e à luz de tudo que ela fez, em
termos de comunicação, de lá até hoje, acho que foi um erro. Uma concessão
covarde à Globo.








Essa era a comunicação da presidente!



Enquanto isso, algum gênio do Planalto (João Santana opinou sobre isso?
Sinceramente, eu queria saber quem foi o responsável) desativou qualquer processo
de atualização do twitter e das redes sociais da presidenta, e o seu blog se
tornava, como é até hoje, um mero depósito de sua vida analógica.



A presidenta foi escondida dos brasileiros por quase quatros anos. Apenas
recentemente, com a proximidade das eleições, ela voltou. Reativou o twitter,
numa estratégia estranha, fazendo gracinhas com o Dilma Bolada. Estranho não da
parte do Bolada, que é um gênio, mas da parte do Planalto, de passar do mais
absoluto silêncio para uma súbita intimidade com os internautas. E o blog lá,
paradão. Dilma não gosta da ferramenta blog?



Por falar em blogs, repare como Bastos inicia sua entrevista:



Como primeiro “blogueiro limpo” do governo, fui recebido, com pompas e
circunstâncias, no palácio residencial do Alvorada, para um jantar. Não tinha
visto ainda o Alvorada depois da reforma. Fiquei embasbacado, ao ponto de a
anfitriã, a presidente Dilma, comentar:




— Você está parecendo a filha pequena do Obama, que disse uma coisa
bonita ao entrar aqui. Ela não disse Palácio, disse casa: “Esta é a casa mais
bonita que já vi na minha vida. Achei lindo!”




Blogueiro limpo! O cara ainda debocha da blogosfera suja, e isso foi
publicado na página mais importante do jornal O Globo!



Imagine se um blogueiro sujo faz uma entrevista “camarada” dessas com a
presidenta? Seríamos massacrados, ridicularizados, trucidados, nas redes, e com
razão. Não se perde uma oportunidade de uma entrevista com a presidenta para
falar do Sai de Baixo…



Quando entrevistamos Lula, falamos de coisas sérias! Política nacional,
eleições, diplomacia, espionagem, Chávez, Globo, Joaquim Barbosa. Sem falsa
modéstia, foi uma das entrevistas mais completas que Lula já deu. Por isso,
aliás, que gerou tanta repercussão.



Que repercussão teve a entrevista de Dilma para Bastos Moreno, para Ana
Maria Braga? Nenhuma. Só negativa.



Não sou contra Dilma dar entrevistas para a TV, mas acho que entrevista é
coisa séria.



Então a presidenta sumiu do mapa.



Víamos apenas de vez em quando, inaugurando uma obra aqui, nomeando um novo
ministro acolá, dizendo frases protocolares.



Tenho a impressão que as “manifestações de junho” foram causadas, em grande
parte, pelo apagão na comunicação do governo. O Brasil ficou como que sem
líder, sem ouvidos, e as pessoas entraram em pânico. E saíram as ruas
para gritar tão alto que o governo seria obrigado a ouvir e a responder.



Lembro-me que, em junho do ano passado, eu estava em Brasília, num jantar
com várias pessoas. Eu estava fazendo uns bicos proletários para o Festival de
Cinema de Brasília, instalando placas de legenda eletrônica. Tinha um rapaz
sentado a meu lado, bem no estilo “jornadas de junho”. Era repórter de um site
de cinema, inteligente, classe média, mas sofredor como quase todo mundo. Ele
recebeu a ligação de seu namorado, do Rio. E conversaram rapidamente sobre o
pronunciamento de Dilma na televisão. Eu testemunhei o alívio com que ele, e
suponho que também seu interlocutor, viu a presidenta na tv. E olha que ele me
parecia um rapaz antipático à Dilma e ao PT. Parecia um rapaz de esquerda, mas
não muito politizado.



O alívio foi geral. Todos precisavam ouvir e ver a presidenta.



Por que ela se escondeu? Por que não apareceu, toda semana, na TV, para
falar sobre seu programa de governo, defender propostas, pedir a opinião das
pessoas?



Nesses últimos quatro anos, o governo cometeu um erro terrível de
comunicação. Um erro histórico talvez. Possivelmente porque ainda predomine, no
PT, o pensamento de que comunicação é propaganda. Não é. Comunicação é uma via
de dois lados. Com o advento da internet, criaram-se grandes avenidas de
comunicação entre o povo e a presidenta eleita. As pessoas entravam em seus
carros, subiam em ônibus, pedalavam bicicletas, alegres, exultantes, e tomavam
a estrada, pensando encontrar a presidenta do outro lado. E ela não estava!



A ponte foi destruída. As pessoas viam a presidenta do outro lado do rio,
inacessível, conversando apenas com os donos da mídia!



Lembro-me que, durante anos, eu recebia um email de Obama, diariamente, com
uma mensagenzinha curta, simpática e informativa. Respondia acusações da mídia,
da oposição, apresentava propostas. Nem isso Dilma fez. Não mandava email para
ninguém. O blog do Planalto tem se comportado como um velho feio e barrigudo.
Não proporciona emoção. Não dá informação nova. Não publica artigos bem
escritos, feitos exclusivamente para o blog. Não tem nada inédito. O próprio
visual permanece o mesmo desde o governo Lula. Ninguém teve a ideia de lhe dar
um toque mais feminino, por exemplo, já que a nova presidenta é mulher.



A população deu apoio a Dilma, com muita determinação, exatamente até junho
de 2013. Esperou, esperou, esperou, uma voz, uma mensagem, um programa de
comunicação no qual a presidenta se apresentasse a seus eleitores, sobretudo
das grandes cidades.



Nada. Silêncio sepulcral em Brasília, quebrado apenas pelo som da queda de
um ministro.



O projeto de trem-bala da presidenta não foi apresentado pela presidenta à
sociedade. Elio Gaspari escreveu um artigo detonando o projeto, a Globo fez um
editorial agressivo, e pronto, não se falou mais nisso. A presidenta não
defendeu o projeto em seu blog, nas redes sociais. A presidenta jamais usou
esse enorme contingente, de milhões de brasileiros, que confiavam nela, que
acreditavam nela, para defender um novo projeto de mobilidade urbana, de país!



O julgamento do mensalão não mereceu uma mísera consideração da presidenta.
Ela não precisava afrontar o Judiciário, mas poderia dizer uma frase levemente
irônica, que injetasse um mínimo de esperança naqueles que lutavam contra
aquele festival de arbitrariedades, e os ajudassem a travar uma luta que não
era mais jurídica, mas sobretudo política.



Jamais houve qualquer mobilização, por parte do governo federal, no sentido
de ajudar a profissionalizar a rede de blogueiros. Não. Os blogs foram
praticamente criminalizados, marginalizados. Não houve um projeto para criar um
ambiente propício para a criação de novos empreendimentos de comunicação
digital. Então os blogs começaram a morrer. Não houve praticamente renovação. A
juventude não aderiu à blogosfera porque não enxergava ali nenhuma esperança
profissional. Um ou outro blogueiro conseguia apoio de uma estatal, por conta
de suas relações pessoais.



De resto, um deserto absoluto, sem um oásis à vista.



Parodiando o Allen Ginsberg, eu vi blogueiros da minha geração morrendo de
fome, inclusive eu. O governo enchia as burras da grande mídia com dinheiro
público, e não fazia nenhum aceno à imprensa alternativa, aos blogs, às rádios
comunitárias. Não queríamos dinheiro público. Queríamos apenas alguns gestos
que nos recolocassem na cena política, que nos fizessem ser respeitados pelo
mercado e pelos leitores. Se Dilma falasse, por exemplo, numa entrevista, que
lê blogs, e que gosta muito dessa nova ferramenta, isso já teria nos ajudado,
enormemente, a obter patrocínios privados!



O governo poderia ter promovido ações republicanas para ajudar os blogs,
incentivando a criação de mecanismos democráticos de monetização, inclusive e
principalmente junto à iniciativa privada. Não queremos dependência do Estado.
Mas precisávamos de um empurrão inicial! Por que a Secom, mesmo consciente de
uma conjuntura midiática profundamente antidemocrática, golpista mesmo, nunca
montou um departamento exclusivo para atender os pequenos empreendedores de
comunicação? Por que a obsessão por um critério “técnico” que, obviamente, era
concentrador, antidemocrático e criminosamente despolitizado do ponto de vista
das circunstâncias históricas em que a grande mídia construiu sua audiência?



Na verdade, eu fui salvo, ironicamente, pelas “manifestações de junho”.
Muito embora eu fosse identificado como blogueiro “governista”, e os protestos
fossem violentamente antigovernistas, o aumento da audiência de quase todos os
blogs políticos foi monstruoso. Com mais audiência, renovei as esperanças e as
coisas passaram a dar mais certo.



Entretanto, meus assinantes são testemunhas de minhas dificuldades. Mesmo
depois de tantos furos, ainda sim eu precisei, de vez em quando, lançar
campanhas algo desesperadas para sobreviver. Agora, as coisas estão quase
normalizadas porque o blog atingiu um número razoável de assinantes.



E agora quem nos ajudou, quem teve coragem para nos recolocar na cena
política, foi Lula! Não precisou nos dar um centavo! Apenas nos deu uma entrevista!
É disso que precisamos, de um pouco de respeito. Se Dilma pode dar uma
entrevista fútil para Jorge Bastos Moreno, se pode fazer omeletes com Ana Maria
Braga, porque nunca pensou em dar entrevista aos blogueiros? Não precisava ser,
necessariamente, para o nosso grupinho de blogueiros progressistas. Poderia ser
para qualquer blogueiro do Brasil!



Veio a Copa.



Grande oportunidade para usar as redes, a internet, os blogs, para promover
as ações do Estado brasileiro. Nada. Tudo permaneceu nas mãos da grande mídia.



Ao contrário, os blogs passaram a ser triplamente discriminados: 1) o
governo não lhes dava nenhuma atenção, marginalizando-os politicamente; 2) não
houve qualquer política para democratizar as verbas institucionais, que
voltaram a se concentrar nos grandes meios; 3) a mídia passou a atacar os blogs
com mais virulência, acusando de receber uma verba que, na verdade, ela mesmo
recebia.



Agora estamos numa situação política novamente complicada. A oposição já
está fechada com a grande imprensa. Aécio Neves apenas menciona o assunto para
caluniar os movimentos sociais que lutam, há anos, por uma regulamentação
democrática da mídia, repetindo o mantra da própria mídia, que obviamente não
quer mudança nenhuma.



Dilma não se posiciona assertivamente sobre o assunto. Até passou a falar
alguma coisa sobre isso, mas sempre com um viés de retranca, oleoso,
desinformado, flertando com a covardia. Por que Dilma não menciona a legislação
de outros países democráticos? Por que nunca se informou, e nos informou, sobre
o que acabamos de ler na Economist, que nenhuma TV americana
possui, nem de perto, o monopólio de que goza a Globo? Ao falar da democratização
da mídia, Dilma usa linguagem dos inimigos e quase nos calunia. Ela diz: “não tenho vontade nenhuma de censurar a mídia”, como se ela
fosse a boazinha a conter um bando de carbonários censores, que somos nós. Não
queremos censura nenhuma! Ao contrário, queremos abolir a censura terrível que
o monopólio da comunicação impõe ao país.



E agora estamos aí, nessa situação. Eu estou bem, graças a meus assinantes,
mas o ambiente a meu redor se torna mais agressivo. O chefe de jornalismo da
Globo, Ali Kamel, começou a processar vários blogueiros, inclusive eu. Era uma
ótima oportunidade para alguém do governo defender os pequenos contra os
grandes, como devem fazer governos democráticos. O lado de lá defende os seus.
Os tucanos estão sempre dando declarações em defesa da grande mídia. O governo,
por sua vez, nunca disse uma palavra em favor dos blogs.



Enquanto isso, Aécio Neves articula, junto aos jornalões, uma estratégia de
asfixia das redes sociais e da blogosfera. Vários ativistas já entraram em
contato comigo, assustados, pedindo ajuda, o que nunca neguei. Estamos montando
estratégias em conjunto para nos defender das violências judiciais de esquemas
extremamente capitalizados.



O governo pode nos ajudar, por exemplo, dizendo que defende a democracia e a
pluralidade. Se Dilma usasse esse termo, “pluralidade”, já seria uma grande
vitória política nossa! Mas ela prefere sugerir que há gente pedindo censura no
Brasil, fazendo o jogo da mídia.



Aécio Neves fala em “quadrilhas”, em “guerrilha”. Ora, não existe nenhuma
quadrilha, nenhuma guerrilha. Há gente querendo se expressar! Querendo usar a
internet para fugir desse maldito pensamento único da imprensa! Para isso,
precisamos usar as ferramentas, inclusive linguísticas, que temos à nossa
disposição. Agora teremos que censurar nosso sarcasmo, nosso humor, nossa
verve, porque Aécio, a Globo e setores cúmplices do Judiciário dirão que isso é
crime?



Afinal, quem quer censurar conteúdo? As redes sociais estão repletas de
ofensas e ameaças ao PT, ao governo, à esquerda em geral. Mas é apenas o
nosso sarcasmo que será criminalizado?



Mais uma vez, PT e Dilma parecem confiar apenas no poder da propaganda
eleitoral. É a ditadura de João Santana, um publicitário brilhante, mas que não
tem visão nenhuma da importância da internet. Até porque ele ganha dinheiro
sobretudo desenvolvendo estratégias para TV.



Quando a última propaganda do PT foi lançada, aquela do “medo”, hackers
derrubaram facilmente a página do partido que divulgaria o vídeo nas redes
sociais. Passaram-se, se não me engano, mais de 24 horas para que o vídeo
chegasse às redes. Ora, isso não tem sentido. Parece até que há sabotagem
interna! O vídeo poderia ser distribuído simultaneamente para várias fontes.
Não o fizeram, e o resultado foi que a oposição teve tempo para desconstruir o
vídeo, na imprensa, nas redes, até o ponto de convencer o Judiciário a
proibi-lo.



O Judiciário decide sempre contra o PT porque o governo não faz a luta na
mídia. A mesma derrota vista na Ação Penal 470, os mesmos arbítrios, se repetem
na proibição da propaganda do PT e das caravanas de Padilha em São Paulo.



O PT não fez a luta política na AP 470. Não fez e continua não fazendo, e se
mostra cada vez mais acuado pelos setores conservadores do Judiciário.



Pior, vemos o governo se esfacelar por dentro. A falta de uma política
assertiva e corajosa de comunicação fez com que os adversários internos
erguessem a cabeça, dentro das estatais.



Frequentemente, os próprios blogs são acusados por militantes petistas mais
agressivos de prestar atenção demais à grande mídia, de não promover as ações
do governo, de produzir pouco conteúdo próprio.



A primeira acusação, respondo da seguinte maneira: somos movidos, por
instinto político, a fazer esse contraponto. Entendemos que ele é necessário.
Infelizmente a grande mídia pauta a agenda política nacional. Alguém tem de
fazer esse serviço, que é democrático porque produz o contraditório.



Quanto à segunda acusação, trata-se de absoluta falta de visão estratégica.
Se já somos acusados de governismo porque fazemos o contraponto à mídia, se nos
tornássemos meros veiculadores de propaganda governamental, perderíamos
audiência e nos reduziríamos à insignificância.



Quanto ao conteúdo próprio, melhoramos bastante. O Cafezinho, ao menos,
produziu bastante conteúdo próprio nos últimos tempos. Só que isso é o mais
caro, o mais difícil, o mais perigoso. Como eu disse antes, se o governo quer
continuar dando recursos apenas para a mídia tradicional, tudo bem, mas podia
ao menos criar mecanismos de incentivo para que o setor privado investisse nos
blogs. O governo pode muito coisa. Pode premiar empresários e agências de publicidade
que ajudem a promover a pluralidade política no país, anunciando em blogs com
ideias diferentes daquelas veiculadas na grande mídia. Podia pensar em alguma
coisa! Qualquer coisa! O certo é que milhares de jovens hoje se formam em
comunicação, e não tem onde trabalhar. Estão todos na mão da grande mídia, de
maneira que os profissionais já instalados em redações tradicionais vivem
absolutamente aterrorizados com o desemprego.



Até mesmo os escritores brasileiros vivem sob chantagem contínua da grande mídia,
porque os jornalões tradicionais são às vezes a única plataforma onde eles
podem trabalhar em sua profissão, e serem pagos. Chargistas e cartunistas, a
mesma coisa.



Por isso, você nunca viu um escritor dizendo um ai sobre a mídia. Todos eles
sonham em ter uma coluna no caderno cultural da Folha, e ter seus livros
divulgados na grande imprensa. Eles não são loucos. Loucos, só os blogueiros.



No dia em que a blogosfera puder contratar escritores, chargistas e
cartunistas, teremos uma revolução!



Voltando à entrevista de Aécio no Roda Viva, ele só cometeu um erro, mas foi
um erro fundamental, que é defender uma reforma política unificando as eleições
de cinco em cinco anos. Isso vai completamente na contramão dos anseios da
sociedade brasileira, que é aprofundar e intensificar a democracia. Ao invés de
eleições de dois em dois anos, teríamos apenas uma a cada cinco? Ridículo!



Esse é um erro fundamental, porque Aécio disse que pretende encaminhar a
proposta ao Congresso como uma de suas primeiras iniciativas de governo. O
jornalista Fernando Rodrigues fez uma crítica lúcida ao caráter antidemocrático
da proposta. Aécio deu um migué e respondeu qualquer coisa. Esse tipo de erro
pode definir (ou ao menos deveria) uma eleição, porque é um erro de fundo, de
ideologia.



O governo do PT erra por confusão, medo, fraqueza política, mas é um governo
profundamente democrático. Aécio Neves quer promover uma reforma política que
significará um terrível retrocesso para a democracia brasileira.



Aécio está preparado, porém. É um candidato competitivo, ágil, perigoso,
sabe o que quer. Já entendeu que a mídia é sua aliada e que precisa
neutralizar, de alguma maneira, a internet e a blogosfera, que são os únicos
espaços onde há liberdade para críticas ao PSDB.



Teremos uma guerra dura e tenho a impressão que, mais uma vez, os blogueiros
e ativistas políticos digitais ficaremos na linha de frente, enfrentando as
batalhas mais duras. O PT contrata agências de publicidade e de marketing
político, que montam alguns sites bonitinhos e lavam as mãos. João Santana
prepara os vídeos que, segundo ele, mudarão tudo – mas que não mudam nada se
não houver, imediatamente, uma grande repercussão positiva nas redes sociais.



Dilma continua refém de um staff medroso e despolitizado, com Mercadante e Paulo
Bernardo à frente.



Ao cabo, acho que o povo dará a vitória à Dilma por uma questão de
prudência. Ele não confia, ainda, na oposição, por mais que ela prometa não
acabar com o bolsa família nem reduzir o salário mínimo.



Mas poderá ser uma vitória triste, porque não será uma vitória política e
moral. Será apenas eleitoral.



Uma vitória política, se acontecer, terá de ser conquistada na internet e
nas redes sociais, não na televisão.



Essa guerra, apesar da resistência de blogueiros e ativistas digitais, estamos
perdendo. E quem perderá não será o PT, que continuará sendo um partido grande,
cheio de militantes e recursos partidários. Quem perderá será a democracia
brasileira (com reflexos negativos em toda a América Latina), porque será uma
vitória política das corporações de mídia, dos interesses norte-americanos, dos
entreguistas, dos vira-latas, e dos que aspiram frear o processo de redução das
desigualdades sociais.



Para não soar derrotista, devo acrescentar que a vitória da democracia é
inevitável, por ser uma necessidade histórica. Estamos perdendo agora, mas
acumulando forças para futuras batalhas. Só espero que não sejam tão futuras a
ponto d’eu não poder testemunhá-las!



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