Da revista Veja costumo ler somente a capa dos exemplares que encalham
nas gôndolas dos supermercados; a dessa semana, pelo que me lembro, cede
ao irresistível apelo que vem marcando a Copa do Mundo do Brasil e
exalta a alegria geral mas, para não perder a viagem, ameaça o povo
brasileiro com a sentença: curta a festa, porque não haverá legado de
longo prazo. Claro, assim que a Copa do Mundo acabar e o último torcedor
estrangeiro for embora, nossos aeroportos voltarão a ser o que eram; as
obras de mobilidade urbana se desmancharão no ar como hologramas, e
todo o volume de dinheiro deixado por aqui pelos turistas se
transformará em moedas de chocolate ou dinheiro de mentirinha, daqueles
de banco imobiliário. Para a Veja, somos trouxas de acreditar mais no
que vemos do que no que ela diz. Afinal, ela avisou que, no ritmo em que
iam as obras para a Copa do Mundo, os estádios ficariam prontos em...
2038! E eu fico imaginando – meu Deus! – onde a Veja acha que o Chile
despachou a Espanha e a Costa Rica derrotou a poderosa Itália, senão em
estádios modernos, novos em folha e que... ficaram prontos a tempo?!
Aliás, bem em cima da hora, como nas Olimpíadas de Londres ou na Copa do
Mundo da África do Sul.
nas gôndolas dos supermercados; a dessa semana, pelo que me lembro, cede
ao irresistível apelo que vem marcando a Copa do Mundo do Brasil e
exalta a alegria geral mas, para não perder a viagem, ameaça o povo
brasileiro com a sentença: curta a festa, porque não haverá legado de
longo prazo. Claro, assim que a Copa do Mundo acabar e o último torcedor
estrangeiro for embora, nossos aeroportos voltarão a ser o que eram; as
obras de mobilidade urbana se desmancharão no ar como hologramas, e
todo o volume de dinheiro deixado por aqui pelos turistas se
transformará em moedas de chocolate ou dinheiro de mentirinha, daqueles
de banco imobiliário. Para a Veja, somos trouxas de acreditar mais no
que vemos do que no que ela diz. Afinal, ela avisou que, no ritmo em que
iam as obras para a Copa do Mundo, os estádios ficariam prontos em...
2038! E eu fico imaginando – meu Deus! – onde a Veja acha que o Chile
despachou a Espanha e a Costa Rica derrotou a poderosa Itália, senão em
estádios modernos, novos em folha e que... ficaram prontos a tempo?!
Aliás, bem em cima da hora, como nas Olimpíadas de Londres ou na Copa do
Mundo da África do Sul.
É inacreditável, mas a Copa do Mundo está servindo justamente para
desfazer o trabalho duro que Veja e a mal chamada “grande imprensa”
tiveram nesses anos todos para cravar a imagem internacional do Brasil
como uma terra arrasada pela corrupção e incompetência – que teriam sido
inventadas em 2003, claro! Essa turma não viu nada de bom no Brasil
esses anos todos; seu entusiasmo com as perspectivas do país é
inversamente proporcional ao tempo em que a taxa de desemprego por aqui
batia na casa dos 20%, e que a renda do trabalhador perdia seguidamente
para uma inflação que se media em dois dígitos. Aquilo é que era um
tempo glorioso, segundo eles. E, para eles, devia ser mesmo. Patrimônio
público vendido na bacia das almas, migalhas em forma de “vale-isso” e
“vale-aquilo” distribuídas de acordo com os interesses políticos de
caudilhos paroquiais, ministro de estado que tirava o sapato para ser
revistado ao entrar nos EUA, o país insolvente por três vezes em sete
anos. Naquele momento histórico de triste lembrança, O Brasil
candidatou-se a sediar a Copa do Mundo de 2006 – episódio resgatado pelo
incansável Eduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania. Fez um papelão.
De fato, aquele país sem importância geopolítica alguma não tinha
condições de se propor a sediar um evento como esse. Mas aquele governo
tentou. Alguém tem dúvidas de que se a sede do Brasil tivesse sido
aprovada ainda sob um governo tucano, essa mídia não daria um jeito de
atribuir o sucesso da Copa a FHC? Eu não. A lógica da
mídia-partido-de-oposição-ao-PT é a seguinte: todos os acertos de Lula e
Dilma são méritos de FHC; todos os erros de FHC são culpa do “frango da
Malásia” – crises externas para as quais não estávamos preparados.
desfazer o trabalho duro que Veja e a mal chamada “grande imprensa”
tiveram nesses anos todos para cravar a imagem internacional do Brasil
como uma terra arrasada pela corrupção e incompetência – que teriam sido
inventadas em 2003, claro! Essa turma não viu nada de bom no Brasil
esses anos todos; seu entusiasmo com as perspectivas do país é
inversamente proporcional ao tempo em que a taxa de desemprego por aqui
batia na casa dos 20%, e que a renda do trabalhador perdia seguidamente
para uma inflação que se media em dois dígitos. Aquilo é que era um
tempo glorioso, segundo eles. E, para eles, devia ser mesmo. Patrimônio
público vendido na bacia das almas, migalhas em forma de “vale-isso” e
“vale-aquilo” distribuídas de acordo com os interesses políticos de
caudilhos paroquiais, ministro de estado que tirava o sapato para ser
revistado ao entrar nos EUA, o país insolvente por três vezes em sete
anos. Naquele momento histórico de triste lembrança, O Brasil
candidatou-se a sediar a Copa do Mundo de 2006 – episódio resgatado pelo
incansável Eduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania. Fez um papelão.
De fato, aquele país sem importância geopolítica alguma não tinha
condições de se propor a sediar um evento como esse. Mas aquele governo
tentou. Alguém tem dúvidas de que se a sede do Brasil tivesse sido
aprovada ainda sob um governo tucano, essa mídia não daria um jeito de
atribuir o sucesso da Copa a FHC? Eu não. A lógica da
mídia-partido-de-oposição-ao-PT é a seguinte: todos os acertos de Lula e
Dilma são méritos de FHC; todos os erros de FHC são culpa do “frango da
Malásia” – crises externas para as quais não estávamos preparados.
Eu, como sou latino, pobre e piegas – tudo de que a Veja se
envergonharia de ser –, tenho me comovido muito nessa Copa do Mundo –
com a recuperação heroica de Luiz Soares, do Uruguai; com a raça da
seleção chilena; com a épica classificação da Costa Rica; com a
dignidade das seleções africanas, com jogadores de seleções modestas e
sem chance na disputa pela taça mas que agradecem pela oportunidade de
estar em um mundial. Gente sendo o que pode ser sempre me comove. Mas,
sobretudo, tenho me comovido com o povo brasileiro. O povo que rechaçou
inequivocamente as ofensas a Dilma, que não se confunde com gente mal
criada e mal intencionada. Não somos preguiçosos, nem corruptos, nem
incompetentes; mas temos uma das elites mais antinacionais do planeta.
Os meios de comunicação tradicionais pertencem a essa elite e servem aos
interesses dela, que não são os do Brasil.
envergonharia de ser –, tenho me comovido muito nessa Copa do Mundo –
com a recuperação heroica de Luiz Soares, do Uruguai; com a raça da
seleção chilena; com a épica classificação da Costa Rica; com a
dignidade das seleções africanas, com jogadores de seleções modestas e
sem chance na disputa pela taça mas que agradecem pela oportunidade de
estar em um mundial. Gente sendo o que pode ser sempre me comove. Mas,
sobretudo, tenho me comovido com o povo brasileiro. O povo que rechaçou
inequivocamente as ofensas a Dilma, que não se confunde com gente mal
criada e mal intencionada. Não somos preguiçosos, nem corruptos, nem
incompetentes; mas temos uma das elites mais antinacionais do planeta.
Os meios de comunicação tradicionais pertencem a essa elite e servem aos
interesses dela, que não são os do Brasil.
O maior legado dessa Copa, em minha opinião, é imaterial: o resgate da
imagem internacional do país, tão vilipendiada pela nossa direita
midiática, e o encontro de seu povo com a própria – e boa – imagem. Não
me admira que Veja já o ameace; a parcela venal da imprensa brasileira
só não está falando mal do país durante a Copa porque está tendo de
dividir espaço com a cobertura internacional. Quando os correspondentes
forem embora, aí sim, começa a tarefa de desconstruir o maior legado do
evento – a nova imagem do Brasil no mundo. Tudo farão para tirar o
sorriso da boca e o orgulho do peito dos brasileiros; para que tenham o
sucesso eleitoral que almejam precisam semear desesperança e ódio.
Tentarão transformar o legado da Copa, o material e o imaterial, em
fatos negativos. Dirão que a Copa não resolveu os problemas sociais que
persistem, como se dela fosse esse o papel. Esquecerão que o caos que
previram não veio e preverão as mesmas catástrofes outra vez.
imagem internacional do país, tão vilipendiada pela nossa direita
midiática, e o encontro de seu povo com a própria – e boa – imagem. Não
me admira que Veja já o ameace; a parcela venal da imprensa brasileira
só não está falando mal do país durante a Copa porque está tendo de
dividir espaço com a cobertura internacional. Quando os correspondentes
forem embora, aí sim, começa a tarefa de desconstruir o maior legado do
evento – a nova imagem do Brasil no mundo. Tudo farão para tirar o
sorriso da boca e o orgulho do peito dos brasileiros; para que tenham o
sucesso eleitoral que almejam precisam semear desesperança e ódio.
Tentarão transformar o legado da Copa, o material e o imaterial, em
fatos negativos. Dirão que a Copa não resolveu os problemas sociais que
persistem, como se dela fosse esse o papel. Esquecerão que o caos que
previram não veio e preverão as mesmas catástrofes outra vez.
É uma pena ter uma mídia assim porque ela interdita o debate real sobre
nossas possibilidades e perspectivas; há, é certo, correções de rumo a
fazer e mudanças que devemos ter a coragem de propor a nós mesmos. Mas é
fundamental também um debate honesto sobre o quanto já avançamos. É
preciso discutir o modelo de desenvolvimento do país e os valores que
vão orientar os processos futuros. É preciso, sobretudo, discutir sobre
quais valores queremos assentar a sociedade que pretendemos ser. Mas
como fazer isso se os meios de comunicação tem uma pauta própria,
inegociável, e vinculada aos interesses econômicos de grandes
corporações e que nada tem a ver com mais igualdade, com mais direitos, e
com mais bem estar social? Como fazer se esses meios, de propriedade da
elite nacional, detestam com fervor o povo brasileiro?
nossas possibilidades e perspectivas; há, é certo, correções de rumo a
fazer e mudanças que devemos ter a coragem de propor a nós mesmos. Mas é
fundamental também um debate honesto sobre o quanto já avançamos. É
preciso discutir o modelo de desenvolvimento do país e os valores que
vão orientar os processos futuros. É preciso, sobretudo, discutir sobre
quais valores queremos assentar a sociedade que pretendemos ser. Mas
como fazer isso se os meios de comunicação tem uma pauta própria,
inegociável, e vinculada aos interesses econômicos de grandes
corporações e que nada tem a ver com mais igualdade, com mais direitos, e
com mais bem estar social? Como fazer se esses meios, de propriedade da
elite nacional, detestam com fervor o povo brasileiro?
Convencido do acerto que foi fazermos a Copa do Mundo no Brasil nesse
momento e do sucesso estrondoso que temos demonstrado na organização do
mundial, vou aceitar meio conselho da Veja e curtir a festa; mas depois,
como creio devem fazer todos os brasileiros decentes, pretendo defender
o legado que ela nos deixa: o reencontro com a ideia de sermos um povo,
de sermos capazes e de merecermos o respeito do mundo.
momento e do sucesso estrondoso que temos demonstrado na organização do
mundial, vou aceitar meio conselho da Veja e curtir a festa; mas depois,
como creio devem fazer todos os brasileiros decentes, pretendo defender
o legado que ela nos deixa: o reencontro com a ideia de sermos um povo,
de sermos capazes e de merecermos o respeito do mundo.
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