sábado, 14 de junho de 2014

Mídia 2014 – Chorando para não rir (por José Antônio Silva) « Sul 21

Mídia 2014 – Chorando para não rir (por José Antônio Silva) « Sul 21

Mídia 2014 – Chorando para não rir (por José Antônio Silva)






Imprensa brasileira atravessa fase de completa esquizofrenia. Seus
setores de Esportes e Marketing (hoje, praticamente uma coisa só) vivem
explosão de investimentos, megadivulgação, promoção dos jogos, jogadores
(vida e obra), Felipão, comissão técnica (o prato predileto do Murtosa,
por exemplo), especialistas, etc – num clima de euforia e indisfarçável
“Vamos lá, Brasil – sil – sil”.


Já os editores de Política, Geral, Economia, etc., têm ordem
(expressa ou subentendida) de baixarem o pau direto no Governo Federal,
na Dilma, na inflação “fora de controle”, na corrupção da Copa, nas
obras que não ficaram prontas em tempo (sobre as que ficaram
–desmentindo-os – apenas silêncio ou cobertura discreta). Mostram
detalhada e continuamente as manifestações contra o evento (e as
passeatas oportunas de sindicatos que fazem suas greves, como a dos
transportes, num momento chave).


A contradição não para por aí. A mídia tem imensos interesses
econômicos objetivos na divulgação da Copa do Mundo, seus jogos, seus
“heróis”, mas têm, também, imensos interesses políticos em continuar
desconstituindo o governo petista. Então ela alterna –às vezes em
seqüência direta – uma matéria sobre a euforia de torcedores com outra
de militantes raivosos espumando de raiva contra a Copa e repetindo
chavões sobre “hospitais padrão Fifa”.


Dados gerais –superinvestimentos na construção da infraestrutura em
todo o país (inclusive hospitais) – ou a explicação básica de que
recursos para a educação e saúde, por exemplo, não são prejudicados por
obras da Copa – são esquecidos nestas matérias.


Enfim: a imprensa tem que fustigar o governo petista utilizando o
mote da Copa, criando um clima de terra arrasada. Mas praticamente ao
mesmo tempo, ou no minuto seguinte, precisa levantar o mesmo astral que
ela ajudou a baixar, e logo passa a mostrar gente sorrindo, vibrando com
as possibilidades da Seleção, etc.


Como no teatro, os âncoras, apresentadores e repórteres de TV
afivelam – e arrancam no minuto seguinte – as máscaras do riso e da dor,
no show de interesses. Já pensou se sorriem num momento “manifestação” e
fecham a cara na hora de chamar uma especial com o Neymar? Para
desespero do anunciante ou da coordenação de campanha da oposição?!


Vida dura, gente.


Isso ainda vai dar motivo para muitas teses universitárias – sem
falar nos espaços políticos e nas entidades profissionais – sobre o
acesso de loucura e incoerência formal da mídia brasileira em 2014. E,
se nossa grande imprensa fosse realmente democrática, esta cobertura
poderia servir de mote para seus futuros programas humorísticos.“Rindo
para não chorar”. Ou, “Chorando para não rir”. Mas, seja qualquer for a
versão a predominar no país, a mídia não perderá nada.


.oOo.
José Antônio Silva é jornalista e escritor gaúcho.

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