sábado, 28 de junho de 2014

Quem vai pagar o 'prejuízo' da Copa?

Quem vai pagar o 'prejuízo' da Copa? - 28/06/2014 - Luiz Caversan - Colunistas - Folha de S.Paulo







"Por causa de todo aquele clima que havia antes, muita gente deixou de se
preparar como devia, ficou com medo de investir e ter prejuízo. Pequenos
comerciantes, por exemplo, poderiam estar faturando muito se tivessem
acreditado que a Copa ia ser assim tão bacana."



Quem me disse isso, talvez não exatamente nestas palavras, foi um amigo
querido, cuja família tem um posto de gasolina em São Paulo. Assim
como milhares de outros pequenos e médios empresários das grandes cidades
brasileiras, ele também ficou constrangido pelo clima do "não vai ter
Copa", poderia ter apostado no sucesso do evento, investido mais, criado,
por exemplo, eventos, atrativos ou promoções inspirados na Copa para aumentar a
clientela.



Mas não fez isso. Não ia ter Copa, lembram?



Algum caro economista aí é capaz de me dizer como faço para calcular o
prejuízo que os arautos do pessimismo e do mau humor, 'black blocks' e cia. à
frente, causaram ao país?



Por conta de tudo o que não foi feito, tudo o que deixou de ser investido
para gerar receita, com tudo o que se poderia ter sido oferecido, vendido para
torcedores, turistas, comitivas e quetais, tendo como temática a Copa, e não
foi.



Quanto?



Apenas para citar um exemplo: toda esta zona que esta acontecendo na Vila
Madalena, em São Paulo,
não poderia ter sido evitada se Prefeitura, comerciantes, produtores, artistas,
empreendedores em geral desta cidade não tivessem sido contaminados pelo vírus
do "não vai ter Copa" e pudessem ter replicado em diversos outros
pontos de São Paulo dezenas de "vilas madalenas" com estrutura e
opções para que o povo tivesse onde torcer, comemorar, xavecar, encher a cara,
que seja, sem criar o transtorno que está ocorrendo num bairro só?



Quantas praças, campos, clubes, ONGs, associações, terreiros, ruas de comes
e bebes, casas noturnas, salões de festas, quantas e tantas localidades
poderiam ter sido envolvidas em ações para se criarem polos em que a Copa fosse
devidamente curtida, aproveitada e explorada comercialmente de uma maneira
saudável para todos...



Outro exemplo? O pessoal de turismo, que se amuou e não investiu o que podia
na preparação de roteiros, alternativas, pacotes e oportunidades para as
centenas de milhares de turistas que estão por aqui não ficassem à toa,
pudessem aproveitar melhor o país, seus encantos, suas possibilidades
fantásticas, movimentando ainda mais a economia?



Mas não ia ter Copa, e ficou todo mundo meio paralisado, esperando uma
tragédia que não houve, um caos que está longe de ocorrer, o vexame
inexistente, perdendo um bonde que não vai passar de novo.



Mas fazer o quê? Afinal, como registrou o sempre pertinente jornalista
Ricardo Kotscho em seu blog, sofremos um massacre midiático –de dentro e de
fora do país– no qual fomos retratados "como um povo de vagabundos,
incompetentes, imprestáveis, corruptos, incapazes de organizar um evento deste
porte".



Além de pagar o mico de estarmos sendo desmentidos por ninguém menos que
nossos próprios visitantes –"Fantastic people", dizem eles repetida e
entusiasmadamente–, ainda teremos de conviver com a fantástica oportunidade
perdida.



Quem vai pagar esta conta?

 


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