domingo, 1 de junho de 2014

Afirmações inválidas

SQN

Barbosa mentiu


Janio de Freitas



Afirmações inválidas



As cassações de direito ao trabalho externo, lançadas recentemente por
Barbosa, já lhe prenunciavam uma sucessão de derrotas no STF



Nem o motivo, nem a ocasião apontados para a repentina renúncia de Joaquim Barbosa merecem crédito.



Disse ele que se decidiu por deixar o Supremo Tribunal Federal "naqueles
22 dias que tirei em janeiro, estive na Grã-Bretanha e na França,
aquilo foi decisivo para minha decisão". Como respondia a perguntas
sobre o motivo de comunicar a renúncia naquele dia, subentende-se que a
ocasião estava escolhida desde janeiro.



Ainda que citar a decisão europeia não incluísse a data, a incongruência
permaneceria. Em entrevista de estreia do jornalista Roberto D'Ávila na
Globonews no fim de março, Joaquim Barbosa admitiu que deixaria o
Supremo mas não por ora, com Roberto logo explicitando que isso
significava ficar até o fim do mandato de presidente, "até novembro?". E
o entrevistado foi sucinto e definido: "Sim".



Janeiro e novembro foram afirmações inválidas. A citação de novembro, em
março, invalidou a de janeiro, e a renúncia em maio invalidou as duas.
Algum motivo dos últimos dias, ou no máximo semanas, levou Joaquim
Babosa a precipitar suas visitas à presidente da República e aos
presidentes do Senado e da Câmara, ainda manhã da última quinta, para
informá-los da renúncia. À tarde comunicada ao plenário do Supremo.



Coincidência ou não, na véspera o advogado José Luis Oliveira Lima
encaminhou ao presidente do Supremo o pedido de habeas corpus para seu
cliente José Dirceu. De quem o leu, por certo com objetividade, posso
transmitir a opinião de que o considerou muito bem feito, como
argumentação jurídica e no caso específico, requerido também o seu
julgamento pelo plenário.



A tese e as cassações de direito ao trabalho externo, lançadas
recentemente por Joaquim Barbosa, já lhe prenunciavam uma sucessão de
derrotas no tribunal. O novo habeas corpus tem que ser julgado em futuro
próximo. Com a renúncia, já neste julgamento Joaquim Barbosa estará em
condições de dizer que, pendente o seu afastamento apenas de
formalidades burocráticas, não participará da discussão e da decisão. E
pode sair do plenário sem o testemunho da derrota.



Além de comprovadas provocações, Joaquim Barbosa pode ter sofrido
ameaças. Não as citou, porém, cabendo a jornalistas invocá-las, sem
oferecer fundamentação factual, como causa de precipitação da renúncia.



A serem mesmo o motivo, a renúncia seria uma fuga. E um exemplo
desonroso saído do próprio cume do Poder Judiciário para os bravos e
dignos procuradores, promotores e juízes, mulheres e homens, que
processam e a cada dia condenam criminosos perigosíssimos, porque assim é
o dever que assumiram. Os seus condenados não se chamam Dirceu e Kátia,
Valdemar e Genoino. Chamam-se Fernandinho Beira-Mar, Nem, Marcola.



Mas fugir de ameaça e ficar por aí nada mudaria. Convenhamos que ameaças
seriam um bom pretexto para morar no exterior, por exemplo no
apartamento comprado em Miami. O repouso de quem personificou no Supremo
o populismo autoritário. Ou, melhor no seu caso, o autoritarismo
populista.

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