quinta-feira, 29 de maio de 2014

Janio a Eduardo Campos: “qual foi o crime de seu avô?”

Janio a Eduardo Campos: “qual foi o crime de seu avô?” | TIJOLAÇO | 




Janio a Eduardo Campos: “qual foi o crime de seu avô?”

29 de maio de 2014 | 08:38 Autor: Fernando Brito
arraes


A pergunta cortante é do mestre Janio de Freitas, sobre a prática contumaz da hipocrisia em que vem se especializando o candidato do PSB, Eduardo Campos, que danou a dizer só o que agrada o conservadorismo.


Poderia, sem dificuldade, ter dito que essa é uma decisão que a
Justiça terá de tomar, sobretudo agora que lhe são apresentados,
concretamente, casos escabrosos como o da tortura, morte e ocultação do
cadáver do deputado Rubens Paiva e do atentado do Riocentro.


Mas preferiu se lambuzar dizendo que é contra o reexame das responsabilidades por crimes de lesa-humanidade.


O discurso do “revanchismo” é apenas dos que o usam para ocultar, também, a verdade.


Atividade na qual Campos vem se mostrando dedicado aprendiz.


Muito à vontade

Janio de Freitas
A definição de Eduardo Campos contra qualquer mudança na Lei da
Anistia, para possível punição legal de criminosos da repressão,
divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira, o pré-candidato à
Presidência adota o chavão dos militares acusados de tortura,
assassinatos e desaparecimentos: “Acho que a Lei da Anistia foi para
todos os lados. O importante agora não é ter uma visão de revanche”. Na
segunda, Eduardo Campos reforça, por um dado pessoal, a sua
identificação com aqueles militares: “Falo isso muito à vontade porque a
minha família foi vítima do arbítrio”.



Uma das maiores vítimas imediatas do golpe em 1964 foi Miguel
Arraes, então governador de Pernambuco. Retirado do palácio sob a mira
de armas, Arraes foi preso e, depois dos maus-tratos esperáveis,
deportado para a ilha de Fernando Noronha como prisioneiro sem
condenação e sem prazo. Quando, afinal, pôde voltar ao continente e à
vida civil, a iminência de nova prisão levou-o a asilar-se e daí ao
exílio.



Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes. Por isso diz estar “muito
à vontade” quando subscreve o pretexto da “anistia para os dois lados”.
Nas duas condições, está, portanto, desafiado a indicar os crimes de
que seu avô foi anistiado. Os crimes cuja anistia justifica, no que lhe
cabe, a anistia do lado dos que o prenderam depois de o derrubarem do
governo conquistado pelo voto e exercido com o que sempre se achou ser
impecável dignidade.



No exterior, residente na Argélia e depois na França, Arraes
integrou a oposição ativa à ditadura brasileira. É possível que, do
ponto de vista de Eduardo Campos, oposição ao regime dos generais
ditadores fosse prática criminosa, como os próprios consideraram. A
identificação de Eduardo Campos com o pretexto usado pelos militares
reforça tal hipótese. A ser assim, porém, sua pretensão a concorrer à
Presidência de um regime democrático não poderia ser vista senão como
farsa. Farsa perigosa, como sugerem as identificações que exibe.



Não menos sugestivo é que esse mesmo Eduardo Campos integra, com
os seus conceitos, o Partido Socialista Brasileiro. Vê-se que aprecia
essa coisa de “para todos os lados”. Mas, se não tem fatos a narrar que
justifiquem a anista de Arraes como compensação para a anistia do “outro
lado”, então Eduardo Campos está manchando a história de um homem
honrado. Da qual e do qual até agora só tirou proveito: sem ambas, não
se sabe o que seria, mas por certo não teria sido o que já foi e não
seria o que é.

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