Saiu no Diário Catarinense:
“Está tão ruim? Então, vende o negócio e muda de país!”, diz Luiza Trajano
Empresária mantém o
viés otimista pelo Brasil, conta como a empresa precisou se reorganizar
depois de quase dobrar de tamanho e diz ser garota-propaganda daquilo
que dá certo
Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues,
presidente do conselho de administração da rede de lojas Magazine Luiza,
é diferente da maioria dos empresários brasileiros. Não só pelo fato de
ser mulher — é uma das poucas na posição —, mas pelo viés otimista que
enxerga o Brasil. Enquanto boa parte da iniciativa privada adota tom
mais ácido ao falar das ações do atual governo, essa paulista de Franca
afirma que prefere ver o copo “meio cheio” em vez de “meio vazio”e diz
não temer ser vista como garota-propaganda do Planalto.
De tão
identificada com a rede que comanda, Luiza é associada à marca. Na
realidade, o nome vem da tia, Luiza Trajano Donato, que comprou uma
pequena loja de presentes em 1957, A Cristaleira, com o marido Pelegrino
José Donato.
Depois de quase dobrar de tamanho entre 2007 e
2010, a empresa sentiu as dores do crescimento. Em 2012, amargou
prejuízo de R$ 6,7 milhões, resultado que empurrou o preço das ações
para baixo e obrigou a empresa a diminuir o ritmo de expansão. Novas
aquisições estão fora dos planos este ano, diz Luiza.
A meta em
2014 é crescer de forma sustentada. Para isso, conta com o bom
desempenho das vendas no Rio Grande do Sul, que costuma visitar com
bastante frequência. O hino rio-grandense ela já sabe de cor. Falta só
aprender a tomar chimarrão.
Enquanto outras
redes destacam a qualidade do produto ou o preço mais barato, o slogan
da Magazine Luiza faz um convite: vem ser feliz!. Luiza Trajano é uma
mulher feliz?
Eu sou muito feliz (risos). Felicidade é
muito você aceitar as coisas da maneira como vêm. Há quatro anos, perdi
meu marido subitamente e foi muito triste. Mas acredito que as coisas
sempre vêm para que as pessoas possam desenvolver, melhorar. Lógico,
sofremos, temos problemas. Mas felicidade é muito simples. É preciso
querer ser feliz. Agradecer o que acontece de bom. Detesto a frase “era
feliz e não sabia”. Quando meu marido morreu, a única coisa que me
consolava era isso. Eu era feliz e tinha sabido aproveitar isso.
O que a faz rir à toa?
Meus
netos e boas vendas. Fico muito alegre vendo as pessoas crescendo e
conseguindo vencer os obstáculos. Pessoas com garra e determinação, que
não reclamam muito das coisas. Gente que faz acontecer, de princípios,
que luta por uma causa.
Uma de suas marcas é o otimismo sobre o Brasil. É avaliação de cenário ou é nato?
Não
é que eu seja otimista e ache que tudo está certo. Apenas costumo
ressaltar também as coisas positivas. Vivemos uma onda de pessimismo. O
Brasil incluiu 5 milhões de pessoas no mercado de trabalho e parece que
não foi nada. Uma década atrás, quando tínhamos uma loja com 50 vagas
ficavam 2 mil pessoas na fila por um emprego.
E agora, mudou?
Agora
abrimos uma outra filial na mesma cidade no interior de São Paulo, Rio
Preto, tinha só 100 pessoas. E metade já tinha emprego. Sou daquelas que
gosta de ver o copo do lado cheio. O lado vazio tem muita gente para
mostrar. O Brasil precisa de líderes que também saibam ver o lado
positivo.
Há motivos para as queixas dos empresários?
Eu
costumo dizer para os colegas empresários que pensam muito negativo:
“Está tão ruim? Então, vende o negócio e muda de país”. Trabalha aqui,
ganha dinheiro aqui e acha que está tudo ruim? O Brasil é nosso. Não
adianta eu reclamar de mim mesma. À medida que eu estou reclamando do
país eu estou reclamando de mim. O que eu posso fazer para ajudar? Não é
um otimismo sem participação. É se sentir responsável por construir um
país melhor. Quem se sente responsável não aponta dedo.
Há um certo ranço do mercado em relação ao governo?
A
campanha eleitoral começou muito cedo este ano e isso traz muita coisa à
tona. Temos muitos problemas para vencer. A infraestrutura está sendo
enfrentada. Mesmo assim, temos conquistas. O país passou por uma crise
global (2008) quase ileso. Afetou todo mundo e nós não sentimos. Dia
desses recebi um empresário espanhol que me contou que os jovens na
Espanha não têm emprego. E nossos jovens têm. Há coisas para melhorar,
mas só nós conseguiremos isso. A renda triplicou em 10 anos.
A
senhora fez sucesso nas redes sociais quando corrigiu Diogo Mainardi,
no programa Manhattan Connection, sobre inadimplência no varejo. Mandou
mesmo o e-mail a ele?
Nunca mandei um e-mail ou carta de
retorno para ele. Tudo que andam dizendo na internet é mentira. A única
coisa que fiz foi agradecer as milhares de mensagens de apoio que
recebi. Tenho um respeito muito grande por toda a equipe do Manhattan. O
que aconteceu é que eu sou uma pessoa preocupada com a inadimplência.
Toda segunda-feira, recebo dados atualizados, tanto da minha empresa
quanto dados gerais. Inadimplência é igual a cupim, corrói o negócio por
dentro. Nem sou tão ligada em números, mas esse tema é algo que
acompanho muito de perto. Mesmo tendo certeza do contrário, quando o
Diogo Mainardi disse que a inadimplência havia aumentado eu não
retruquei. Apenas disse que ia encaminhar o e-mail. Mas nunca enviei. O
que tem é muita gente aí escrevendo mensagens falsas no meu nome.
Por que a resposta da senhora fez sucesso entre os jovens?
Eu
me assusto com o pessimismo dos jovens. Eles vivem uma fase sem
esperança, e de repente alguém mostra o copo cheio, o que o país tem de
bom. E também porque o número que eu dei estava certo. E na semana
seguinte foram divulgados dados mostrando que o país estava com os
índices mais baixos de inadimplência.
O estilo da resposta contribuiu para a repercussão?
A
forma como conduzi, firme, sem ser agressiva, também ajudou. Não sou
analista de comunicação, mas acho que foi isso. Era uma coisa que tinha
de ser. Não me preparei. Tinha chegado aquele dia mesmo dos Estados
Unidos. Nunca mais vou ser tão inocente (pausa). Apesar de que, no
programa do João Dória, fui do mesmo jeito (risos).
A inadimplência preocupa? Os índices voltaram a subir no início deste ano…
Continua
em queda. A prova disso é que os bancos têm aprovado mais crédito. Teve
um pouquinho de alta sim, o que é comum para o período.
Ainda há espaço para expandir o consumo no Brasil?
Falar
em opção por consumo ou por infraestrutura é um erro. Infraestrutura é
necessária, mas para garantir não é preciso abrir mão do consumo. Sem
consumo não tem emprego. No Brasil só 54% da população tem máquina de
lavar, só 10% tem televisão de tela plana e só 1% tem ar-condicionado. E
ainda precisamos construir 23 milhões de casas para ter um nível
satisfatório de igualdade social para um país em desenvolvimento.
Nenhuma indústria vive sem consumo. Nos Estados Unidos, as pessoas já
estão na oitava geração de TVs de tela plana. A gente ainda precisa de
uns 20 anos de progresso.
(…)
Clique aqui para ver “Luiza afoga Mainardi num copo vazio”.
E aqui para ler “Luiza desmoraliza a capital da Colônia”.
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