segunda-feira, 12 de maio de 2014

SQN

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Barbosa é obcecado por um assunto só


E Barbosa só pensa naquilo
Vasculhei declarações sobre a selvageria contra Fabiane, mortes em presídios etc. O que se encontra? N-A-D-A
O país vê linchamentos em série; uma mãe inocente é trucidada por
cidadãos enfurecidos; namoradas tramam homicídios por ciúmes; presídios
repetem cenas de horror; famílias choram a perda de parentes vítimas da
criminalidade. Os sintomas de ebulição social também surgem nas invasões
de terra, ataques a ônibus, no contingente de miseráveis implorando
esmolas nas esquinas etc. O único lado talvez menos pior é o de que
agora mais gente sabe o que é o Brasil real. E conhecer o problema é um
primeiro passo para tentar resolvê-lo.
É aí que a roda pega. Alguns, é verdade, já apontaram a solução: cada um
que se vire, depois se dá um jeito de tornar a selvageria
"compreensível". Ou seja, quando desconfiar de algo esquisito, vá pra
casa, pegue uma marreta, trava de bicicleta, faca de cozinha e resolva
os problemas no braço. Se tiver um dinheirinho a mais, abra um banco,
instituição financeira ou conglomerado de qualquer coisa, vá recolhendo
incautos aos magotes e depois entregue o buraco da aventura ao Tesouro.
Não se esqueça de algo importante: treinar uma cara de enganado para
quando a bomba estourar.
Para situações como essas, em que a barbárie com ou sem colarinho branco
se espalha aos quatro ventos, é que a democracia propõe mecanismos para
ao menos reduzir danos. O Judiciário talvez seja o principal deles,
pelo fato de teoricamente simbolizar equilíbrio e isenção. Mas o que
fazer quando, em vez de dirigir suas atenções para o ambiente social que
incomoda a maioria do povo, o chefe deste poder parece possuído por uma
obsessão?
Para evitar injustiças, vasculhei declarações, posicionamentos, ou então
simples murmúrios do presidente do STF, Joaquim Barbosa, sobre eventos
listados acima. O ministro é também presidente do Conselho Nacional de
Justiça. Fui atrás de suas palavras sobre linchamentos, a selvageria
contra Fabiane Maria de Jesus, novas mortes em presídios, a banalização
de justiceiros, a insolência de facções criminosas como o PCC, o drama
dos sem-teto tratados a pancadaria, golpes recentes no sistema
financeiro. E dá-lhe jornal, e dá-lhe Google, e dá-lhe televisão, e
dá-lhe revista. O que se encontra? N-A-D-A. (ou praticamente nada,
considerando que algo me tenha escapado.)
Já sobre aquele assunto, a coisa muda de figura. É uma enxurrada. Não
cabe se estender acerca de peripécias passadas, quando Barbosa mandou
jornalista chafurdar, tentou afastar funcionários por vingança e
defendeu que não se examinassem novas provas relativas ao mensalão para
"não atrasar o processo". Tampouco rememorar a confissão de que aumentou
penas artificialmente para prejudicar réus.
Falemos do presente. Primeiro mandou de volta para a cadeia o
ex-presidente do PT José Genoino. Como sempre, recorreu a uma junta
médica. Agora, retomou a prática de interpretar leis. Decidiu que o
ex-ministro José Dirceu, embora condenado ao regime semiaberto, tem que
ver o sol quadrado até cumprir um sexto da pena. Estarrecidos, juristas
declararam que, a vingar o despacho de Barbosa (baseado em "indícios",
"vislumbres" e outras pérolas do gênero), mais de cem mil condenados
ocuparão o xadrez. Mesmo chefiando o CNJ, que deveria ter a situação dos
presídios superlotados como uma de suas preocupações, Barbosa não está
nem aí. Um Pedrinhas a mais, outro a menos, tanto faz.
Muito se especulou sobre planos de voo de Joaquim Barbosa. Vai ser
candidato? Disputará a Presidência da República? Será advogado,
coroinha, pregador? Pelo menos nós sejamos justos: ninguém sabe e ele
não é obrigado a dizer. Mas, como se trata de preservar a democracia e
de um personagem público de tanta importância, não é o caso de o pessoal
da junta médica mudar de paciente?

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