A indústria da alimentação cria uma
doença e a indústria farmacêutica a trata
Documentário americano sobre a obesidade pede leis
que limitem o consumo de adoçantes daninhos ocultos em alimentos
"saudáveis". The Observer
que limitem o consumo de adoçantes daninhos ocultos em alimentos
"saudáveis". The Observer
Reprodução
Por Edward Helmore, em Nova York
Primeiro veio "Uma Verdade Inconveniente". Depois Nação Fast Food: Uma Rede de Corrupção. Então foi Blackfish: Fúria Animal.
Cada um mostrava o poder de documentários bem sucedidos, aclamados pela
crítica, de modificar as percepções sobre questões polêmicas que vão do
aquecimento global aos maus-tratos a animais em cativeiro e o
comportamento das gigantes da indústria alimentícia.
Agora vem Fed Up, um filme que examina o problema global do
crescimento dos índices globais de obesidade humana e doenças
relacionadas à obesidade. O filme, produzido por Laurie David, ex-mulher
de Larry David, criador de Seinfeld, e narrado pela jornalista da tevê
Katie Couric, pretende contestar décadas de enganos e desinformação
patrocinados pela indústria de alimentos sobre dietas e exercícios, boas
e más calorias, genes de gordura e estilo de vida.
Quando se trata de obesidade, a gordura pode não ser sua amiga, mas
não é tão inimiga quanto o açúcar, diz o consultor científico do filme,
Robert Lustig, um neuroendocrinologista, autor e presidente do Instituto
para Nutrição Responsável. É uma visão que está conquistando o apoio de
médicos.
Um estudo do governo americano descobriu recentemente que 17% das
crianças e jovens entre 2 e 19 anos são considerados obesos. Outro
previu que as crianças americanas de hoje viverão menos que seus pais.
Laurie David, que fez o filme sobre mudança climática Uma Verdade Inconveniente, considera essa estatística "preocupante e trágica".
Segundo Lustig, porém, nem a obesidade nem a gordura são o problema.
"A indústria alimentícia quer que você se concentre em três mentiras que
a impedem de enfrentar questões de culpabilidade. Uma é sobre a
obesidade. A segunda é que uma caloria é uma caloria. A terceira é sobre
responsabilidade pessoal.
"Se a obesidade fosse o problema, as doenças metabólicas que
geralmente aparecem nos obesos não se manifestariam nos índices
verificados na população de peso normal. Mais da metade das populações
dos Estados Unidos e do Reino Unido estão experimentando efeitos
normalmente associados à obesidade. Se mais da metade da população tem
problemas, não pode ser uma questão de comportamento. Deve ser um
problema de exposição. E essa exposição é ao açúcar."
O filme afirma que as redes de fast food e os fabricantes de
alimentos processados aumentaram a quantidade de açúcar nos alimentos de
"baixo teor de gordura" para torná-los mais palatáveis.
O acréscimo de açúcar aumenta o problema não apenas dos grupos de
baixa renda, que muitas vezes são associados a questões de saúde
relacionadas à dieta, mas para todos os níveis da sociedade, dizem os
cineastas. Segundo o filme, as grandes empresas estão nos envenenando
com alimentos comercializados sob o disfarce de benéficos à saúde.
A diabetes precoce, uma condição associada à exposição ao açúcar de
cana e ao xarope de milho, era virtualmente desconhecida alguns anos
atrás. Se os atuais índices continuarem, um em cada três americanos terá
diabetes em 2050. "A obesidade custa muito pouco e não é perigosa em
si", diz Lustig, que trabalha com a campanha Ação Contra o Açúcar no
Reino Unido. "Mas a diabetes custa muito em termos de evolução social,
redução da produtividade, custos médicos e farmacêuticos e morte."
Mas enquanto a luta contra a obesidade é liderada pela primeira-dama
Michelle Obama, os esforços para conter a indústria de açúcar de modo
geral falharam. Em 2003 o governo Bush ameaçou reter verbas para a
Organização Mundial de Saúde se ela publicasse diretrizes nutricionais
que defendiam que não mais de 10% das calorias de uma dieta diária
deveriam vir do açúcar. Além disso, Washington adoçou os lucros dos
fabricantes de adoçantes baseados em milho ao conceder bilhões de
dólares em subsídios ao setor.
Os cineastas dizem que não é do interesse das empresas alimentícias,
de bebidas ou farmacêuticas reduzir o conteúdo de açúcar. "É lucrativo
demais", diz Lustig. A indústria farmacêutica fala em tratamento da
diabetes, e não em prevenção. "A indústria da alimentação cria uma
doença e a indústria farmacêutica a trata. Eles ganham como bandidos
enquanto todos nós somos levados à lavanderia."
Lustig diz que há necessidade de leis. O modelo para regulamentação é
o álcool, já que o álcool se metaboliza como açúcar e produz muitas das
mesmas doenças crônicas, enquanto a gordura é metabolizada de modo
diferente.
Mas Lustig acredita que campanhas educativas ou diretrizes do governo
por si sós são inadequadas para abordar problemas de abuso de
substâncias. "O que é necessário é limitar a disponibilidade para
reduzir o consumo e reduzir os problemas de saúde relacionados ao
açúcar", diz ele.
As propostas incluem colocar advertências de saúde nas latas de
refrigerantes, dar o mesmo tempo de publicidade ao marketing de frutas e
legumes e acordos voluntários para reduzir o conteúdo de açúcar.
Lustig diz: "Se a indústria alimentar continuar ofuscando, nunca
solucionaremos isto e em 2026 não teremos atendimento de saúde porque
estaremos falidos. Os produtores de alimentos terão de ser obrigados. Só
há um grupo que pode obrigá-los, e é o governo. Há um grupo que pode
obrigar o governo, e é a população".
Leia mais em guardian.co.uk
Primeiro veio "Uma Verdade Inconveniente". Depois Nação Fast Food: Uma Rede de Corrupção. Então foi Blackfish: Fúria Animal.
Cada um mostrava o poder de documentários bem sucedidos, aclamados pela
crítica, de modificar as percepções sobre questões polêmicas que vão do
aquecimento global aos maus-tratos a animais em cativeiro e o
comportamento das gigantes da indústria alimentícia.
Agora vem Fed Up, um filme que examina o problema global do
crescimento dos índices globais de obesidade humana e doenças
relacionadas à obesidade. O filme, produzido por Laurie David, ex-mulher
de Larry David, criador de Seinfeld, e narrado pela jornalista da tevê
Katie Couric, pretende contestar décadas de enganos e desinformação
patrocinados pela indústria de alimentos sobre dietas e exercícios, boas
e más calorias, genes de gordura e estilo de vida.
Quando se trata de obesidade, a gordura pode não ser sua amiga, mas
não é tão inimiga quanto o açúcar, diz o consultor científico do filme,
Robert Lustig, um neuroendocrinologista, autor e presidente do Instituto
para Nutrição Responsável. É uma visão que está conquistando o apoio de
médicos.
Um estudo do governo americano descobriu recentemente que 17% das
crianças e jovens entre 2 e 19 anos são considerados obesos. Outro
previu que as crianças americanas de hoje viverão menos que seus pais.
Laurie David, que fez o filme sobre mudança climática Uma Verdade Inconveniente, considera essa estatística "preocupante e trágica".
Segundo Lustig, porém, nem a obesidade nem a gordura são o problema.
"A indústria alimentícia quer que você se concentre em três mentiras que
a impedem de enfrentar questões de culpabilidade. Uma é sobre a
obesidade. A segunda é que uma caloria é uma caloria. A terceira é sobre
responsabilidade pessoal.
"Se a obesidade fosse o problema, as doenças metabólicas que
geralmente aparecem nos obesos não se manifestariam nos índices
verificados na população de peso normal. Mais da metade das populações
dos Estados Unidos e do Reino Unido estão experimentando efeitos
normalmente associados à obesidade. Se mais da metade da população tem
problemas, não pode ser uma questão de comportamento. Deve ser um
problema de exposição. E essa exposição é ao açúcar."
O filme afirma que as redes de fast food e os fabricantes de
alimentos processados aumentaram a quantidade de açúcar nos alimentos de
"baixo teor de gordura" para torná-los mais palatáveis.
O acréscimo de açúcar aumenta o problema não apenas dos grupos de
baixa renda, que muitas vezes são associados a questões de saúde
relacionadas à dieta, mas para todos os níveis da sociedade, dizem os
cineastas. Segundo o filme, as grandes empresas estão nos envenenando
com alimentos comercializados sob o disfarce de benéficos à saúde.
A diabetes precoce, uma condição associada à exposição ao açúcar de
cana e ao xarope de milho, era virtualmente desconhecida alguns anos
atrás. Se os atuais índices continuarem, um em cada três americanos terá
diabetes em 2050. "A obesidade custa muito pouco e não é perigosa em
si", diz Lustig, que trabalha com a campanha Ação Contra o Açúcar no
Reino Unido. "Mas a diabetes custa muito em termos de evolução social,
redução da produtividade, custos médicos e farmacêuticos e morte."
Mas enquanto a luta contra a obesidade é liderada pela primeira-dama
Michelle Obama, os esforços para conter a indústria de açúcar de modo
geral falharam. Em 2003 o governo Bush ameaçou reter verbas para a
Organização Mundial de Saúde se ela publicasse diretrizes nutricionais
que defendiam que não mais de 10% das calorias de uma dieta diária
deveriam vir do açúcar. Além disso, Washington adoçou os lucros dos
fabricantes de adoçantes baseados em milho ao conceder bilhões de
dólares em subsídios ao setor.
Os cineastas dizem que não é do interesse das empresas alimentícias,
de bebidas ou farmacêuticas reduzir o conteúdo de açúcar. "É lucrativo
demais", diz Lustig. A indústria farmacêutica fala em tratamento da
diabetes, e não em prevenção. "A indústria da alimentação cria uma
doença e a indústria farmacêutica a trata. Eles ganham como bandidos
enquanto todos nós somos levados à lavanderia."
Lustig diz que há necessidade de leis. O modelo para regulamentação é
o álcool, já que o álcool se metaboliza como açúcar e produz muitas das
mesmas doenças crônicas, enquanto a gordura é metabolizada de modo
diferente.
Mas Lustig acredita que campanhas educativas ou diretrizes do governo
por si sós são inadequadas para abordar problemas de abuso de
substâncias. "O que é necessário é limitar a disponibilidade para
reduzir o consumo e reduzir os problemas de saúde relacionados ao
açúcar", diz ele.
As propostas incluem colocar advertências de saúde nas latas de
refrigerantes, dar o mesmo tempo de publicidade ao marketing de frutas e
legumes e acordos voluntários para reduzir o conteúdo de açúcar.
Lustig diz: "Se a indústria alimentar continuar ofuscando, nunca
solucionaremos isto e em 2026 não teremos atendimento de saúde porque
estaremos falidos. Os produtores de alimentos terão de ser obrigados. Só
há um grupo que pode obrigá-los, e é o governo. Há um grupo que pode
obrigar o governo, e é a população".
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