sábado, 3 de maio de 2014

Porque tudo isso é política — CartaCapital

Porque tudo isso é política — CartaCapital

A mídia nativa, por exemplo, não pode deixar de ser porta-voz da casa-grande





por Mino Carta







publicado
02/05/2014 09:18,



última modificação
02/05/2014 14:11












Silvio Berlusconi dispensa
apresentações e a respeito da lamentável figura direi apenas que começa
para ele a prestação de serviço a doentes de Alzheimer. Trata-se de
cumprir a pena cominada com sentença definitiva no processo por fraude
fiscal. Outras condenações virão inexoravelmente, e bem mais pesadas,
inclusive por compra de votos para derrubar o governo de Romano Prodi em
2008.
Pensei em Fernando Henrique Cardoso,
comprador de votos durante seu primeiro mandato presidencial para
conseguir a alteração constitucional destinada a permitir sua reeleição.
Foi operação conduzida praticamente às claras, a contar inclusive com o
testemunho de parlamentares envolvidos. A Justiça brasileira encarou os
fatos com aquela olímpica impassibilidade recomendada quando lhe cabe
zelar pelos interesses da casa-grande.
E que dizer do clangoroso silêncio que
cercou a maior roubalheira-bandalheira da história do País, a
fantasmagórica operação das privatizações da comunicação, embora não
faltassem provas abundantes da tramoia tecida entre o Ministério das
Comunicações, o BNDES e o banco Opportunity. Lá pelas tantas, surgiu a
chance do recurso ao príncipe do jogo, FHC, alcunhado “bomba atômica”,
conforme os grampos que tive o desprazer de ouvir à época. O interesse,
no caso, era aquele de um grupelho de graúdos moradores da casa-grande, e
para eles o desfecho do enredo não poderia ter sido melhor.
A Justiça brasileira não é vendada porque
não se importa com quem está à sua frente e sim com o crime cometido.
Ela desvenda-se a toda hora e faz triagem prévia dos crimes, a fim de
excluir quantos põem em risco o privilégio. Está além do óbvio que esse
gênero de atuação obedece a critérios e injunções políticas. Presta-se à
disputa do poder a favor da minoria. Quando o ex-presidente Lula diz
que o chamado “mensalão” foi um processo sobretudo político, constata
apenas e tão somente a verdade factual.
É do conhecimento até
do mundo mineral que mensalão, com o sentido de propina periódica, não
houve. Nem mesmo formação de quadrilha o Supremo logrou provar. Houve
uso de caixa 2, executado talvez com inédita desfaçatez. Mas o recurso é
conforme a tradição da política à brasileira. E por que este delito não
foi punido inúmeras vezes antes que respeitasse ao PT? E por que o
mensalão tucano, bastante anterior ao petista, somente agora vem à
baila, de sorte a encaminhar-se alegremente para uma tertúlia final na
pizzaria?
A Justiça brasileira age politicamente desde o momento em
que poupa o rico da cadeia. Já escrevi neste espaço, e me agrada
repetir: este é o país onde José Genoino está preso e Daniel Dantas
solto. Em Nova York e em Londres o banqueiro do Opportunity foi
condenado, no Brasil não. Quem haverá de ligar para isso? Não será
certamente uma minoria que imagina viver em Dubai, e seus aspirantes,
ainda e sempre esperançosos de compartilhar visão tão peculiar.
Volto à fala de Lula, a suscitar o
repúdio irado de Joaquim Barbosa, que o próprio ex-presidente elevou à
glória do STF. De Barbosa não se espera que retribua com eterna
gratidão, não foi esta, porém, a única oportunidade em que ele
desrespeitou a lógica e o ordenamento democrático. Nem se fale do
empenho midiático na tentativa de precipitar a derrota petista em
outubro próximo. Que cada qual defina sua preferência por este ou aquele
candidato, por este ou aquele partido, é digno, justo e salutar. No
entanto, o que acontece por aqui no desempenho do jornalismo nativo é
algo único na face da Terra.
A mídia, salvo raríssimas exceções, mira
no mesmo alvo, é o que clamam as manchetes sobre a fala de Lula a
respeito do “mensalão” e sobre o “repúdio” de Joaquim Barbosa, ou
desfraldadas em nome de uma pretensa campanha à sombra do “volta Lula”.
Não se exclua que vários políticos e empresários prefiram o
ex-presidente em lugar de Dilma, mas uma campanha em marcha ao rufar dos
tambores é a da própria mídia. A qual, ao apostar no besteirol
reinante, preocupa-se até com o tamanho da cela ocupada por José Dirceu
na Papuda, e a propósito veicula uma informação inexata. Exata é a
seguinte: uma delegação de cinco parlamentares visitou a prisão, dois
acharam a cela maior do que a reservada aos demais condenados do
“mensalão”, três a viram igualzinha. E se fosse maior?

Nenhum comentário:

Postar um comentário