sábado, 19 de março de 2016

A Globo seqüestrou a democracia

Altamiro Borges: A Globo seqüestrou a democracia





A Globo seqüestrou a democracia


Por Jeferson Miola, no site Carta Maior:







“Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de
qualquer situação, atentem… Se a Rede Globo for a favor, somos contra.
Se for contra, somos a favor!” - Leonel Brizola




O condomínio jurídico-midiático-policial levou a polarização política a
um ponto de radicalização sem retorno. Nesta guerra aberta contra a
Legalidade, contra o Estado Democrático de Direito e contra a
Constituição, não terá empate e mediações – um lado terá de vencer.



A história brasileira comprova que o reacionarismo
nunca hesitou em empregar todos os métodos – inclusive totalitários e
fascistas – para conspirar e destruir governos democrático-populares,
nacionalistas e progressistas. A história testemunha ainda que aqueles
que não confrontaram e não resistiram até o final às empreitadas
golpistas, foram esmagados pelos algozes da democracia.
A sociedade brasileira está hoje em estado de fervura; foi dividida,
polarizada e convulsionada por obra e graça do condomínio
jurídico-midiático-policial – aliança obscurantista integrada por
justiceiros do Ministério Público, do Judiciário e da Política Federal
com uma mídia que perdeu todos os escrúpulos. Eles se consideram acima
das Leis e da Constituição, subvertem a ordem jurídica e democrática e
espezinham as conquistas oitocentistas do devido processo legal e do
Estado Democrático de Direito para imporem, em lugar disso, um regime
totalitário, de exceção, de perseguição de inimigos ideológicos.



O governo Dilma é o empecilho que precisam eliminar. Assim ficam livres
para viabilizar um novo acordo de poder e de dominação capitalista no
país centrado no controle das riquezas nacionais [o Petróleo, acima de
tudo] e das fontes energéticas, na mercantilização dos direitos sociais,
na entrega da soberania nacional, produtiva e tecnológica, e na
exclusão social.



O condomínio jurídico-midiático-policial dá as cartas deste jogo.
Substituiu um sistema político totalmente desmoralizado e é hoje o
Comando estratégico do golpe. Nos últimos dois anos, as jogadas
decisivas do xadrez político, muitas das quais abalaram o sistema
político, não foram feitas pela oposição partidária, institucional, mas
operadas por procuradores, policiais federais, magistrados conspiradores
e os órgãos golpistas da imprensa.



Pretendiam dar o golpe de misericórdia no dia 4 de março, mas o plano de
prisão arbitrária do ex-Presidente Lula foi interceptado pela ação da
Polícia da Aeronáutica, que não permitiu que a aeronave da Polícia
Federal decolasse do Aeroporto de Congonhas/SP para Curitiba, onde,
curiosamente, o Deputado Jair Bolsonaro esperava com foguetório o
desembarque de um Lula preso, humilhado e ultrajado.



A partir do 4 de março a estratégia do golpe ganhou nova qualidade;
houve uma escalada jurídico-midiático-policial de altíssima intensidade
com dois objetivos claros: o primeiro, de legitimar e naturalizar os
desvios, abusos, violências e inclusive crimes contra o ordenamento
jurídico cometidos pela força-tarefa da Operação Lava Jato; e [ii] o
segundo objetivo, de incendiar e convulsionar a sociedade para aumentar a
adesão militante e ativista da classe média pró-golpe.



Com a nomeação do ex-Presidente Lula para a Casa Civil, o Comando
assumiu caninamente o protagonismo e a direção da luta política, porque
conhecem o poder do Lula em ajudar Dilma a recompor a estabilidade
política e social do país para retomar uma estratégia de desenvolvimento
com igualdade, distribuição de renda e crescimento.



O Juiz Sérgio Moro cometeu um crime premeditado calculando a relação
custo-benefício: a ilegalidade do grampeamento telefônico da Presidente
da República, que custaria a carreira profissional de qualquer agente
público num ambiente de normalidade democrática, produziu as
conseqüências políticas esperadas. O efeito foi terrivelmente devastador
tanto para Lula como para Dilma. A Justiça, se algum dia de fato for
feita, até poderá atestar a índole criminosa de juízes que usam a toga
para a prática do gangsterismo político. Entretanto, a lesão política e
de imagem para o Lula já é irreversível e irremediável.



É ilusório pensar que a estratégia deles nasceu agora, que brotou
espontaneamente. Alimentar esta ilusão é tão ingênuo quanto pensar que o
nazismo nasceu no Holocausto. O Holocausto foi a evolução
anti-civilizacional duma atmosfera nazista que foi sendo naturalizada e
subjetivada na consciência da sociedade alemã através de técnicas
eficientes de propaganda nazista desenvolvidas desde décadas antes.



Esta estratégia vem sendo meticulosamente articulada no Brasil,
inclusive com aporte estrangeiro de inteligência e dinheiro. As chamadas
jornadas de 2013 foram instrumentalizadas para que a direita camuflada
em ONGs e movimentos suspeitos [Brasil Livre, Vem pra Rua etc] também
passassem a ocupar as ruas, território de luta historicamente ocupado
pelo povo na luta por direitos, liberdade e democracia.



A emergência de movimentos fascistas com presença nas ruas é o
ingrediente diferencial desta conjuntura histórica. O golpe do
impeachment é legitimado com a falácia da “adesão popular”, da “força
espontânea que brota das ruas”.



As ruas finalmente estão espelhando o cotidiano subterrâneo e sombrio de
comunidades fascistas do facebook que existem às pencas. E este é o
grande segredo da construção desta subjetividade messiânica, cínica,
superficial, fanática, racista, despolitizada, odiosa, intolerante,
anti-petista.



Após 2013, os padrões obscuros de comportamento que transitam nas redes
sociais – racismo, messianismo, anti-petismo, homofobia etc – saíram do
mundo digital e passaram a freqüentar as ruas, onde adquiriram
naturalidade e legitimidade. Eles hoje se sentem encorajados e
estimulados [a imprensa enaltece este espírito cívico] em levar às ruas
pedidos de intervenção militar, incitação ao ódio, xingamentos e ataques
a pessoas que vestem roupas vermelhas ...



As conquistas civilizatórias [e as liberais-burguesas] da democracia, do
Estado Democrático de Direito, do devido processo legal, da obediência à
Constituição e às Leis, da pluralidade, da diversidade, estão sendo
vivamente destruídas neste momento de regressão jurídica e democrática
da Nova Inquisição.



A Rede Globo aposta que chegou o momento. Acredita que estão reunidas as
condições objetivas e subjetivas para acelerar o golpe. Por isso,
promove uma guerra de tudo ou nada contra Lula e Dilma.



O golpismo repete a fórmula do grande expoente do fascismo nacional,
Carlos Lacerda: como não conseguiram derrotar Dilma nas urnas em 2014,
tentaram impedir sua posse colocando em dúvida a votação eletrônica; uma
vez empossada no cargo, tentaram evitar que assumisse, questionando as
contas da campanha; e, uma vez assumindo o governo, sabotam o país e
fazem de tudo para inviabilizar seu governo.



É o que estão fazendo novamente agora, tentando cassar a prerrogativa
constitucional da Presidente da República nomear e exonerar os ministros
do seu governo. Lula mal foi empossado como Ministro e o condomínio
jurídico-midiático-policial – o Comando – desatou uma campanha
midiático-judicial para anular sua posse.



O Jornal Nacional da noite de ontem, 17 de março, dedicou 68 minutos do
horário nobríssimo da televisão brasileira para achincalhar, humilhar e
destruir Lula. Fez uma edição primorosa; fez uma aplicação científica
dos ensinamentos totalitários de Goebbels; não deixou pedra sobre pedra.



O Comando não quer somente inviabilizar o Lula na eleição de 2018,
porque quer destruir a biografia dele; quer dizimá-lo, bani-lo da
história e da memória.



Chegamos num estágio derradeiro da luta pela sobrevivência da democracia
no Brasil. O condomínio jurídico-midiático-policial “venezuelizou” o
país; instalou aqui a mesma dinâmica fascista da oposição venezuelana
apoiada, que lá é apoiada e financiada pelo governo norte-americano e
agências internacionais conspiradoras.



Os órgãos dominantes de comunicação – a estas alturas, não só a Globo,
mas também outros grupos de mídia – atuam abertamente na construção de
uma narrativa golpista, e não oferecem uma plataforma democrática e
plural para o esclarecimento, para o contraponto e para a
desmistificação da realidade. A mídia não permite sequer a dissonância
cognitiva entre seus jornalistas, que reproduzem delírios sem o menor
senso crítico e analítico.



Ao governo e ao campo democrático-popular só existe uma opção: lutar,
resistir para vencer! O governo não tem tempo a perder, deve defender a
Constituição com energia e tenacidade. Esta hora exige medidas de
emergência contra os ataques fascistas que, se não forem
contra-arrestados, instalarão o caos no país.



Nesta guerra que o condomínio jurídico-midiático-policial promove, é
essencial o governo ter voz própria para informar a população com a
verdade e com os fatos; ter canais para disputar a narrativa dos
acontecimentos e transmitir informações contra-golpistas ao conjunto do
povo brasileiro e também aos setores democráticos em todo o mundo.



O governo deveria suspender imediatamente os gastos com publicidade e
anúncios feitos na mídia golpista para canalizar todos esses recursos
para a constituição de uma poderosa Rede da Legalidade contra o Golpe,
com rádios e TVs convencionais e na internet, jornais e folhetins
impressos com edições diárias [se necessário, mais de uma edição diária]
com distribuição massiva em todo o país etc.



O Brasil está numa daquelas encruzilhadas da história que exigem
respostas à altura dos acontecimentos. O golpe foi acelerado no dia 4 de
março, e os “camisas-pretas” fascistas não deixam dúvidas que travam a
batalha final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário