domingo, 20 de março de 2016

Gilmar, o despreocupado

Gilmar, o despreocupado - 20/03/2016 - Bernardo Mello Franco - Colunistas - Folha de S.Paulo



Gilmar, o despreocupado










BRASÍLIA - Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso indicou
Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o jurista Dalmo Dallari
fez um alerta: "Se essa indicação vier a ser aprovada, não há exagero em
afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no
Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional".





Dallari pode ter exagerado, porque a corte tem outros dez ministros para
zelar pela Constituição, mas a atuação de Gilmar inspira desconfiança
desde que ele vestiu a toga.





A presença constante na mídia, a agressividade em declarações contra o
governo e a proximidade com políticos do PSDB lhe renderam o apelido de
"líder da oposição" no STF. Gilmar não parece preocupado com isso. Desde
que a crise política se agravou, ele usa todas as oportunidades para
atacar Dilma e o PT.





A presidente e o partido dão muitas razões para críticas, mas espera-se
de um ministro do Supremo que não tome lado na luta política e atue com
imparcialidade. Gilmar não parece preocupado com isso. Em julho passado,
ele foi à casa de Eduardo Cunha discutir o impeachment. O deputado já
era investigado na Lava Jato por suspeita de corrupção.





Em setembro, o ministro estrelou evento na sede da Fiesp. A entidade é
comandada por um afilhado político de Michel Temer e promove campanha
aberta pela queda da presidente. Gilmar não parece preocupado com isso.
Aproveitou o palanque para repetir ataques ao PT. Sobre o correntista
suíço, nenhuma palavra.





Na última quarta, Gilmar almoçou com o tucano José Serra, segundo o
jornal "O Globo". Após a sobremesa, voltou ao STF e discursou contra a
nomeação de Lula para a Casa Civil, que não estava em debate.





Dois dias depois, o ministro atendeu pedido do PSDB e anulou a posse do
ex-presidente. Tudo indica que ele deveria se dizer suspeito por falta
de isenção para julgar o assunto, muito menos sozinho. Mas Gilmar não
parece preocupado com isso.

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