domingo, 20 de março de 2016

O desespero de Odebrecht.

O desespero de Emílio Odebrecht. Por Paulo Nogueira – Diário do Centro do Mundo



Disse já mais de uma vez que tenho sido procurado por jornalistas da Globo revoltados com o que a empresa tem feito.


Uma mensagem que me chegou ontem à noite me trouxe tristes memórias.


Não tenho condições de confirmar. Então vou desde já avisando que o teor da carta pode ser falso.


Mas, lamentavelmente, é uma situação factível.


X – chamemos assim –me disse o seguinte. “Emílio Odebrecht procurou
João Roberto Marinho em busca de ajuda para seu filho Marcelo, preso. E
ouviu o seguinte: ‘Fala para o Marcelo entregar o Lula que a gente
ajuda.'”


De novo: pode ser invenção, e espero que seja. Não consigo acreditar
que João Roberto Marinho fosse capaz de uma resposta daquelas. Convivi
com JRM no Conselho Editorial da Globo quase três anos, entre 2006 e
2008, e guardei a lembrança de um homem equilibrado, sereno e sensato.


Mas o mais importante é outra coisa.


Neste momento, já não é surpresa se um pai desesperado recorrer à Globo na procura de ajuda para um filho preso.


Se há alguém que pode efetivamente colaborar num quadro daqueles é a
Globo, de cujo apoio Moro depende. Moro sabe que se a Globo se voltar
contra ele por algum motivo, ele pode terminar na cadeia pelos abusos
cometidos na Lava Jato.


A mensagem de X me remeteu à ditadura militar.


Pais de filhos desaparecidos tentavam de tudo para conseguir
informações. Os donos de empresas jornalísticas, dada a sua proximidade
com os generais, eram frequentemente procurados.


O livro K, de Bernardo Kucinski, conta uma dessas histórias. É um
livro autobiográfico. K é o pai de Kucinski. E o enredo gira em torno da
enlouquecedora jornada de K para conseguir informações sobre sua filha,
Ana Rosa, sequestrada (e morta) pela ditadura. Ana, irmã de Bernardo
Kucinski, era uma jovem e brilhante professora de química da USP.


K recorreu a um empresário de mídia não nomeado no livro, e judeu
como ele. Mas nada obteve senão uma seca resposta de que não havia como
fazer nada, visto que ela era comunista.


A filha de K já estava morta enquanto ele ainda a procurava. Abutres
chegavam a ele dizendo que tinham informações, e as dariam caso
recebessem dinheiro.


O que K faria hoje caso um filho fosse alcançado por Moro?


Se tivesse acesso à Globo, como provavelmente Emílio Odebrecht tem, recorreria aos Marinhos.


É a história, perturbadoramente, que se remete.


Troque os generais por Moro. Foi dado a Moro um poder extraordinário
de prender pessoas. Ninguém o fiscaliza, ninguém lhe cobra nada. O
antigo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sempre se omitiu
diante das evidências de abuso e partidarismo de Moro.


Os juízes do STF, como notou com precisão Lula, se acovardaram. A
imprensa, interessada no foco anti-PT dado por Moro, sempre o
incentivou. Os primeiros e tímidos reparos apareceram apenas quando
extrapolou como no caso da condução coercitiva de Lula.


É apavorante a perspectiva de que retornemos ao ambiente da ditadura.
Emílio Odebrecht, quer tenha ou não apelado para João Roberto Marinho, é
um pai tão atormentado quanto K.


E isto pode ser uma tragédia nacional.

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