As críticas da ombdusman a Jânio de Freitas
dom, 20/03/2016 - 12:22
Meu ex-colega Jânio de Freitas não é intocável. Eu mesmo tive algumas
pinimbas com ele na própria Folha. Mas para questionar Jânio há que se
ter um grau de conhecimento do submundo da política e dos lobbies que
vai muito além da formação convencional de um jornalista de aquário –
mesmo sendo uma bela profissional, como Vera Guimarães, a ombudsman da
Folha.
Desde muito tempo, no famoso episódio das licitações ferroviárias do
governo Sarney, Jânio convive com fontes diretamente ligadas ao centro
fluido do poder, aquele em que se articulam empreiteiras, policia,
políticos, lobistas, juízes. E desse centro extrai não apenas grandes
denúncias que marcaram sua carreira, como desenvolveu uma capacidade de
juntar peças nos jogos mais delicados que vai muito além da formação
convencional de um jornalista.
A ironia de Vera no título do artigo – “Quando até o Universo
conspira” – é típica de um certo tipo de leitor que, não atinando com o
contexto geral, limita-se a colocar tudo o que não compreende no bolo da
teoria conspiratória.
Segundo ela,
Há alguns dias, o decano Jânio de Freitas, um dos colunistas mais
antigos e identificados com o nome do jornal, noticiou em sua coluna a
existência de um plano obscuro destinado a prender o ex-presidente Lula
quando de sua condução coercitiva para depor. Um câmera havia "ouvido
algo" e estranhou um jatinho com a porta aberta, parado próximo à área
VIP de Congonhas, ao lado de um carro da Polícia Federal. O colunista
não sabia por que não havia dado certo, mas estava convicto da culpa do
juiz Sergio Moro e dos legionários da Lava Jato.
Também aqui caberiam algumas perguntas básicas: jatinhos são
presença estranha na área VIP do aeroporto? O carro da PF não integrava o
comboio que levou Lula para depor? A imprensa estava toda lá, informa o
autor: ninguém mais foi capaz de perceber o golpe engendrado ou eram
todos cúmplices?
Ora, a desconfiança de Jânio foi montada em cima de um conjunto de
evidências e confirmada por diversos fatos. Se Vera avançasse além da
leitura do seu jornal, acompanhasse todas as notícias sobre a Lava Jato
(como certamente Jânio faz), conseguiria desenvolver uma compreensão
mais sofisticada do episódio e identificar as peças relevantes para
avaliar com mais consistência a hipótese aventada por Jânio.
1. A falsa desculpa da Lava Jato, de que levou Lula para depor
coercitivamente no Aeroporto de Congonhas visando preservar sua imagem.
Ora, no decorrer da operação ficou nítido que havia alternativas muito
mais respeitosas, como o de colher o depoimento na própria casa de Lula.
2. Ela fala em “plano obscuro” para prender Lula. Obscuro para
ela. Há uma guerra mundial em curso pela prerrogativa do cargo e todos
os colunistas políticos sustentando que se o caso voltar para Curitiba
Lula será preso. Nunca houve nada tão claro no horizonte político
brasileiro. Em que mundo vive Vera?
3. Pergunta ela: “jatinhos são presença estranha na área VIP do
aeroporto?”. Jatinho da PF, no momento em que uma pessoa depõe
coercitivamente, é uma presença absolutamente estranha. Tão estranha que
as versões da própria PF é que o jatinho visaria transportar Lula para
Guarulhos, caso ocorressem tumultos em Congonhas. Ou seja, a própria PF
precisou se escudar em uma desculpa – pouco convincente, aliás – para
explicar a presença do jatinho. E a ombudsman considera o fato
perfeitamente normal e estranha que mais nenhum repórter tenha atinado
para o fato. Se ela, que é a consciência crítica do jornalismo atual,
não atinou, não se vá exigir dos repórteres que foram fazer a cobertura
uma compreensão do todo. Queria o quê? Que uma fonte saísse escondida da
sala – na frente de 300 pessoas – para confirmar ou desmentir?
4. Chamar a teoria de estapafúrdia é mais uma demonstração de
falta de acompanhamento mais estrito do noticiário. Estapafúrdio é
julgar que Lula foi levado até a área Vip do Aeroporto de Congonhas para
poder apreciar as decolagens de aviões de carreira ou se encantar com a
fuselagem do avião da PF.
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