sábado, 5 de março de 2016

Balão de ensaio

Balão de ensaio para medir a reação à prisão de Lula, por J. Carlos de Assis



Balão de ensaio para medir a reação à prisão de Lula, por J. Carlos de Assis














Balão de ensaio para medir a reação à prisão de Lula




por J. Carlos de Assis


A "condução coercitiva" de Lula, guardadas as proporções, lembra a
simulação de desembarque aliado em Calais, na Segunda Guerra, com a qual
os Aliados desviaram a atenção dos alemães de Dunquerque, onde se daria
a verdadeira invasão. A despeito de quatro horas de interrogatório, os
inquisidores da Lava Jato não estavam à procura de indícios, fatos ou
documentos. Já tem tudo o que é possível ter. Estavam simplesmente
identificando e medindo as possíveis reações à prisão de Lula em caráter
definitivo, se e quando vier a ocorrer.



Esse ensaio, contudo, vale para os dois lados. Os aliados de Lula
também poderão verificar os pontos fracos de reação à operação
político-midiática-judicial montada na manhã de segunda-feira em São
Paulo. Foi muito fraca. Poderão, portanto, reforçar seus pontos
vulneráveis. Entretanto, o resultado principal do teste para os dois
lados é uma avaliação da reação da opinião pública. Já que a Globo é uma
das líderes do golpe, não se espere da tevê uma avaliação imparcial.
Esta só poderá vir da internet e das redes sociais.



O que é mais notável nessa operação é sua coordenação com outras
iniciativas em curso: as investigações sobre tríplex e sítio em Curitiba
e em São Paulo, a suposta delação premiada de Delcídio com indícios de
total manipulação de informações, a invasão do Instituto Lula e de
residências de pessoas de sua família. Tudo isso não é de surpreender
pois as iniciativas emanam do mesmo inquisidor-mor, que tem o comando da
agenda. Hoje, o Brasil é efetivamente governado por Sérgio Moro, fora
do controle inclusive do STF.




Já é tempo de a opinião pública acordar para o que é efetivamente
relevante em todo esse processo. Trata-se de um ataque frontal à
soberania brasileira em seus pontos mais salientes, a saber, a indústria
estratégica de energia e a indústria estratégica de Defesa. Recorde-se
que todos esses eventos na Petrobrás foram precedidos de escutas
telefônicas por agência norte-americana na empresa e no Planalto, ao que
se seguiram contatos formais entre os promotores federais brasileiros,
na condição de vassalos, e autoridades norte-americanas.



Nossos promotores, junto com o juiz Moro, devem ter recebido de
bandeja da Justiça norte-americana a base das investigações que viriam a
chamar-se Lava Jato. A contribuição que deram ao processo é
essencialmente midiática. Ele poderiam ter feito uma investigação
discreta e rápida, denunciando dentro do devido processo legal, e
protegendo institutos jurídicos consagrados como habeas corpus e
presunção de inocência. Entretanto, tomaram o caminho da
investigação-espetáculo, em conluio com a mídia apátrida.



Foi a investigação-espetáculo, não a investigação em si, que está
levando próximo da quebra as principais empresas de Engenharia Nacional.
Por coincidência, essas são as empresas essenciais à nossa estratégia
nacional de defesa, já que estão construindo, entre outros equipamentos
de última geração, o submarino nuclear para a Marinha e mísseis para o
Exército, tendo cabido à Força Aérea a aquisição de uma frota de caças
suecos. Não é por outra razão que o almirante Othon, maior autoridade
nuclear do país, encontra-se ainda hoje prisioneiro da Lava Jato.



A estratégia nacional de defesa, criada no Governo Lula depois que
Fernando Henrique praticamente sucateou as Forças Armadas brasileiras,
exige que, nas compras de material bélico externo, seja obrigatória a
transferência de tecnologia. Os americanos não aceitam isso, pois o
Congresso dos Estados Unidos veda a transferência de tecnologia de
Defesa. Lembram-se que a Embraer não pode vender aviões para a
Venezuela? Vedação americana! Eles querem derrubar nossa exigência de
tecnologia para poder participar ativamente de nossas concorrências sem
condicionamentos.



O próprio início de reconstrução das Forças Armadas pelo governo Lula
se seguiu a uma situação, no governo Fernando Henrique, em que os
recrutas eram liberados dos quarteis às 11h porque não tinham o que
comer nos quarteis. Oficiais se mostravam indignados com o risco de que
os soldados acabassem sendo atraídos pelo tráfico. O mais terrível é que
essa situação voltou agora tendo em vista as tremendas pressões dos
neoliberais de Aécio Neves e outros vendilhões da pátria para impor
cortes sucessivos ao orçamento da Defesa.



Não é só isso. Os americanos jogam para liquidar a Petrobrás como
instrumento do Estado a fim de meteram as patas no pré-sal - operação
muito facilitada agora pelo projeto que José Serra, a serviço da Chevron
e outras petrolíferas, conseguiu aprovar no Senado, e que a Câmara ou
um veto podem reverter. Ao mesmo tempo, liquidando a Petrobrás e
enfraquecendo toda a economia brasileira, o governo dos EUA se esforça
por nos impedir de fazer uma articulação estratégica mais profunda com o
BRICS, com isso enfraquecendo também seu inimigo estratégico principal,
a Rússia. É, pois, mais do que um jogo em Curitiba. É um jogo mundial
no qual o boneco de Curitiba joga um papel de vassalo.  



J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ.

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